terça-feira, 27 de julho de 2010

Na volta do correio do meu primo Luis Bernardo


Meu Caro Manuel,

Respondo-te na volta do correio.

Tira umas férias que te farão bem!

Olha cada coisa com a importância que tem na tua vida e na daqueles a quem queres, aí.

Não fazes mais do que o teu dever, aguenta valentemente os embates e cria fortaleza contra as súbitas mudanças e imprevistos da sorte.

Sabes, o amor é paciente e bondoso.

A paciência é uma arte que se tem que praticar mais. Deixar o tempo correr, excepto se forem coisas que exijam uma intervenção urgente e são raras.

Depois o termo bondoso significa saber olhar nas entrelinhas, perceber os sinais que podem não estar tão expressos ou como se deseja ou precisa.

A bondade consiste na resignação ao que se tem, por não se poder ter mais.

Sabes, o amor não é orgulhoso, nem arrogante.

No fundo há sempre pouco desprendimento, no sentido de que sabe bem ser-se reconhecido pelos esforços ou ajudas prestadas.

É a simplicidade necessária a cada situação que vai indicar o grau de maior ou menor arrogância em se querer “programar” os outros.

Sabes, o amor não busca os próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.

Se se quer mesmo ser verdadeiro consigo próprio, em muitos casos - e não me refiro à culinária - tem-se a tendência para se guardar um bocado, ou seja não se é totalmente desinteressado.

O difícil é dar com prazer e saber-se que um desejo de posse, se foi, pura e simplesmente, com a entrega dada.

O apagar da memória, para além de revelar generosidade, é saudável.

É preciso fazer uma limpeza frequente do “internet cache” senão o computador torna-se pesado…

Quanto à não irritação, às vezes é difícil! O sentido é o de “não taquinar” nem ser “taquinado”, que é uma expressão muito prática, pois quer dizer também não exasperar.

Guardar rancor, é linguagem que não tem a ver com amor. Talvez com guerras, negócios, insucessos causados por malandros, patifes quando haja boa-fé não reciprocada. Parece-me desnecessário ter-se rancor, pois o mal está feito!

Sabes, o amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Uma gaita é o que é!

Tudo desculpa…sim, deve-se desculpar. Porquê não desculpar? O que se ganha com isso?

Ao acreditar-se em tudo quanto sejam provas de amor, a única condição que se deve impor é a de não simularem a afeição, nem serem cínicos sobre o amor.

Que melhor há do que esperar-se tudo de bom dos outros? Ou seja, mesmo que não se sinta ou se veja ou que seja de forma diferente daquela que se espera, se se souber que é feito com amor, porque não aceitar?

Claro que se deve lutar pelos “sonhos imaginados” para que as coisas aconteçam na vida como se deseja, não desistir de convencer, persuadir mas chega a um certo ponto e há limites…reais de eficácia, capacidade dos outros de realizarem da maneira que se quer, sonha ou propõe!

So what?

Aqui vem a faceta do amor que tudo suporta. Com condições, claro. De reciprocidade: do ut dare (dou para receber), mas se mesmo assim for humanamente aceitável, não violentar as consciências e tratar-se só de “mau-feitio”, quem no fundo leva a taça é quem continua a amar.

Um abraço amigo de descanso e pausa

Teu primo muito afeiçoado

Luis Bernardo

Sem comentários:

Enviar um comentário