domingo, 28 de outubro de 2012

Contos imorais - Crime de colarinho branco (parte II)


Rose lembrou Brien que nessa manhã de segunda-feira pelas 11h, um membro influente da comissão política do partido no poder, solicitara uma reunião urgente.

Perguntou-lhe se estaria livre para almoçar ao que Brien acedeu gostosamente. Iriam, como de costume a um pequeno restaurante perto do banco, aonde se comia muito bem. Rose marcava sempre uma mesa ao fundo encostada à parede, e durante a refeição agarrava-lhe discretamente nas mãos que entrelaçava e fazia festas, e por debaixo da mesa roçava as suas pernas, lenta e sensualmente nas de Brien. Este temia sempre que alguém os visse, mas não resistia.

Depois chegava ao gabinete em brasa e quando ela lhe propunha uma ida a sua casa nessa noite, todas as vezes perguntava-se porque não aceitava, mas pairava a sombra de Susan o que o fazia gentilmente recusar. Um dia seria, prometia a Rose e vi-a sair desgostosa, mas afirmando que não desistia.

Michael foi encaminhado até à sala de reuniões e quando Brien entrou, apresentaram-se e apertaram as mãos.

Foi direito ao assunto: sabia que o banco tinha algumas operações financeiras de clientes influentes, altamente discutíveis em termos financeiros e aproximando-se eleições, o partido precisava de dinheiro para a campanha. Recebera instruções do Ministro-Adjunto para contactar o Management do Banco e em troca de ignorar tais situações, obter fundos substanciais que lhe permitissem financiar mais uma vitória eleitoral.

Mencionou uma quantia avultada como primeira tranche que deveria ser entregue no partido dentro de pastas, contendo notas de valor grande para evitar um elevado número de malas. Evidentemente, acrescentara, queria uma comissão para ele, cujo conhecimento ficaria só entre os dois, e no fim da operação, haveria uma percentagem para Brien, se corresse tudo nos conformes.

Era pegar ou largar, pois as Autoridades Monetárias e Financeiras já estavam avisadas e desistiriam da auditoria, quando a proposta fosse aceite e o primeiro pagamento recebido.

Michael era um sujeito de mediana estatura, com um olhar vivo, de discurso convincente e persuasivo e modulava a voz consoante o tema, por isso fora seca e pragmática no início da conversa e tornara-se quase em surdina quando se referiu às comissões pessoais para ambos.

Brien escutara em silêncio todo o discurso de Michael e no fim quando ficou claro que este esperava os seus comentários, levantou-se e disse numa voz neutra de banqueiro:

- Passarei a informação ao Management que lhe fará chegar a resposta, o mais breve possível.

E dirigindo-se à porta, chamou Rose pedindo-lhe que acompanhasse Michael à saída. Não lhe estendeu a mão, mas colocou-se numa posição entre portas em que quando Michael saiu da sala de reuniões e se voltou para trás para se despedir, tinha-se dirigido à mesa para buscar os papéis, não dando assim azo a que a sua atitude pudesse ser interpretada como de menos cortesia.

Rose, comentou depois que Michael saiu com um ar irritado, manifestamente surpreendido com qualquer coisa que se teria passado. Brien, fez-lhe um ligeiro comentário, dizendo que a reunião tinha corrido como expectada. E não acrescentou mais nada.

Decidira, antes de passar a informação ao Board, pedir a Susan nessa noite que no escritório dela e através dos contactos que Howard tinha como QC, se inteirasse do perfil de Michael.

Ficara, obviamente incomodado pelo atrevimento e chantagem de Michael, mas sobretudo pela ousadia de o querer “comprar” sem nunca se terem conhecido e não saber, sequer, que interlocutor tinha pela frente quando o tentou corromper.

Brien sabia da corrupção do poder e das diferentes formas que correntemente usavam, mas nunca imaginara que pudesse haver uma aproximação tão arrogante, insultuosa e destemida.

Passou o resto do dia a ruminar como daria seguimento ao assunto e Rose reparou que estava “absent mind” e voltou a insistir porque não tomarem um copo em sua casa ao fim da tarde.

Brien, achou uma boa ideia pois precisava de descomprimir e jurou a si próprio que seria uma “visita de médico” rápida: podiam ver algum filme, conversar sobre a promoção de Rose nos quadros do banco, talvez até trocarem uns beijos, umas carícias no sofá, mas mais nada do que isso.

No entanto, algo lhe dizia que tendo ficado perturbado pela reunião da manhã, as suas “guardas” estavam fragilizadas e as pernas de Rose ao almoço, as suas mãos macias e bem cuidadas talvez lhe pudessem suavizar o fim de tarde e compensá-lo do estado em que estava.

Telefonou a Susan perguntando como estava o dia dela em termos de horário, acrescentando que mais logo conversariam sobre um pedido que queria que ela fizesse a Howard, e quando do outro lado ela lhe disse que só deveria chegar pelas dez da noite pois tinha um dossier urgente a fechar, abriu-se um sorriso de distensão na sua cara e a voz saiu natural quando lhe mandou um beijo.

Convocou Rose ao seu gabinete e combinaram às sete em casa dela. Ele iria de táxi para não suscitar desconfianças, não fosse alguém poder vê-lo sair do seu descapotável pouco discreto.

(continua)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Contos Imorais - Crime de colarinho branco (parte I)



Brien trabalhava num grande banco irlandês, o Abbey National e era o secretário corporativo da Administração.

Era filho único, tinha 34 anos, casado, sem filhos, ruivo e sardento, magro e de olhos azuis, fazia sucesso entre as amigas, empregadas do banco e não deixava indiferente quem com ele se cruzasse na rua.

Era católico desleixado e vagamente praticante – na Irlanda mesmo entre os mais novos, o catolicismo é muito frequente – e os pais viviam fora de Dublin, numa quinta antiga na posse da família.

Fora educado na escola rural da circunscription familiar e em casa com uma nanny até à idade em que entrou numa public school passando a viver em sistema de pensionato.

Frequentou uma selecta universidade em Dublin aonde se formou com honours em economia e gestão. Concorreu ao banco e foi contratado.

Morava com Susan, sua mulher, num flat numa zona central da capital e apanhava os transportes púbicos para se deslocar de casa para o banco, a cada manhã.

Ao fim da tarde, e durante três dias da semana, fazia work out num ginásio misto da moda, frequentado por muitos quadros do banco e pelos yuppies do jet set local, incluindo novos-ricos.

Tinha um descapotável vistoso com que saía aos fins-de-semana com Susan quando iam à quinta visitar os pais ou a casa de amigos que moravam fora do centro.

A sua cara-metade era sedutora, loira, de olhos côr de mel, bem feita de corpo e cuidava-se muito. Faziam um bonito casal sendo muito convidados para todo o tipo de actividades sociais, festas, cocktails e jantares.

Susan trabalhava como Advogada num dos escritórios mais cotados da capital e ganhava bom dinheiro.

Brien, punha de parte uma boa maquia todos os meses até ao momento em que a crise chegou à Irlanda.

Rose, uma secretária do banco, atirava-se descaradamente a Brien que adorava sentir-se amado, mas mantinha-se fiel a Susan. Já tinha havido convites para jantarem juntos, a pretexto de que tinha que fazer trabalho extra no banco, mas nada se tinha concretizado.

O sócio principal da firma aonde Susan trabalhava, Howard Stuart, era um QC, ou seja, um Queen’s Councillor, função prestigiante na Magistratura. Era ainda bem jovem e chegara a esta função fruto da sua inteligência, competência e relevância social, pois pertencia a uma das famílias mais importantes da Irlanda.

Arrastava a asa a Susan e como tinham muitos casos jurídicos em conjunto, tinham criado uma grande intimidade entre eles. Susan achava-lhe graça, mas mais nada do que isso.

Howard era solteiro e conhecia Brien do pub que ambos frequentavam, conversando amiúde. Davam-se todos muito bem e tudo não passava de flings, sem consequências.

(continua)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Contos Imorais - A casa de meninas em Sevilha


Angel era um homem bem-apessoado, de 45 anos, mas parecia ter bem menos.

Tinha uma profissão que lhe assegurava uma vida despreocupada: era dono de uma casa de putas em Sevilha. Para além de ser discreto, viajava muito não só em Espanha mas também em Portugal. Eram "expedições de trabalho", dizia ele, mas só alguns sabiam que de facto se tratava de angariar “mão-de-obra” para o seu negócio.

Estávamos em 1887 e a moral tradicional era feroz em Espanha. No entanto sempre houvera clubes de homens com meninas, aonde a pretexto de convivência se passavam horas de puro deleite e usufruindo de grande gastronomia, pois jantares requintados faziam parte do serviço prestado.

Angel era selectivo e exigente na escolha das putas. Tinham que ser “hermosas” de cara, sensuais de corpo, com conversa, elegantes, atractivas e muito quentes na cama.

Não tolerava mulheres vulgares, pois a sua clientela era distinta e requisitava do melhor para se divertir. Havia quartos confortáveis, muito bem arranjados e de luxo, com uma decoração sóbria e de bom gosto. Podia-se jantar nas alcovas à luz de velas, com menus seleccionados ou em alternativa numa grande e bonita sala de jantar, com frescos de mulheres nuas perseguidas por elfos, tudo em tons suaves.

No salão havia largas poltronas fundas e macias aonde se enterravam os casais com volúpia e aí iniciavam os preliminares que os conduziria aos quartos. O ambiente era de grande requinte e havia no meio do salão um palco relativamente pequeno aonde as meninas se acotovelavam, brincando nuas umas com as outras dando guinchinhos, apalpões, beijos leves, dançando agarradas em meneios eróticos e mostrando as partes do corpo que mais atraíssem os clientes.

À volta, em mesas, os homens bebiam, fumavam charutos e conversavam e quando lhes apetecia escolhiam as preferidas que os vinham acompanhar no consumo de champagne e absinto, agarrando-se e enroscando-se nos seus corpos, com juras e promessas de amor e de prazeres infindos.

Num canto uma pequena banda tocava zarzuelas e músicas da moda, com sons leves para não perturbar o clímax que Angel queria criar para que o programa fosse completo e suscitasse o entusiasmo da clientela.

Angel voltava a casa tarde todas as noites, pois antes de fechar o cabaret pelas 4h da manhã, fazia as contas e depositava o dinheiro ganho, num cofre de parede, escondido por detrás de um armário, no seu gabinete.

Esse seu espaço privado, era um verdadeiro antro de prazer. Era aí que seleccionava cada uma das candidatas fazendo-as passar por diversos testes: tinha um divan amplo e fofo de uma seda incolor gasta pelo muito uso e numa mesa com incrustações de madre-pérola vários instrumentos de prazer em caixas de ébano – dildos de prata brilhante e lisa e de vários tamanhos – e noutras, cheiros e perfumes sensuais, ópio, rapé, doses de cocaína e revistas com fotografias de sépia com mulheres nuas em posições tentadoras, muito ao estilo do final do século XIX.

Uma pequena biblioteca de livros libidinosos em que os títulos mais conhecidos sobressaíam: Sade, Kamasutra, O Amante de Lady Chatterly e outros em castelhano sobre sexo, de grande popularidade à época.

Tinha fetiches que praticava com as meninas e se lhe oferecessem resistência, ou repugnância afastava-as e recusava-as sem hesitação.

Tinha pensado em ter chicotes, algumas correntes, mas os seus gostos eram muito peculiares e a dor e o sofrimento não faziam parte da sua escolha e queria-as doces, entregues, gemendo entre os seus braços e corpo, arrancando-lhes gritos de prazer.

Um dia, entrou no cabaret um fidalgo sevilhano de uma muito conhecida família. Angel, precipitou-se ao seu encontro e com lhaneza deu-lhe as boas vindas dizendo-se muito honrado pela sua preferência.

Ele respondeu-lhe com altivez e enfado e sem grandes palavras disse-lhe que queria a melhor puta que ele lá tivesse.

Angel, apontou-lhe duas que se roçavam no palco com olhos lânguidos e ele escolheu-as e dirigiu-se ao quarto principal que Angel, com deferência, lhe indicou.

Umas duas horas depois, saiu do quarto bebido e meio vestido, perguntou quanto devia, pagou e partiu.

Angel dirigiu-se ao quarto pois as meninas tardavam em sair e ainda tinham que trabalhar mais nessa noite e podiam ter adormecido.

Encontrou-as nuas e amarradas à cama com o lençol, uma contra a outra, com panos na boca para não gritarem, respirando a custo e com vergastadas nas costas, sangrando ligeiramente.

Desatou-as e elas começaram a tremer e a gemer baixinho, sem dizerem palavra.

Angel perguntou-lhes estupefacto o que se tinha passado e elas deitaram-se na cama e abrindo despudoradamente as pernas mostraram no sexo, marcas que Angel observou de mais perto e com estupor reconheceu serem as armas da Casa dos Duques de Alva que ele lhes tinha gravado a fogo como se de um ferro de gado se tratasse.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Contos Imorais - O Gordo




Carl Bósi chegava sempre cedo à empresa. Era cortês e amável e mesmo no elevador até ao andar da Administração, tinha sempre uma graça a dizer o que o tornava popular entre o pessoal.

Participara recentemente numa fusão e obrigara-se a visitar todos as agências e a contactar com cada um dos departamentos, promovendo reuniões gerais com toda a gente, mitigando o receio que grassava entre os trabalhadores de que uns quantos iriam ser dispensados. Acreditava que o que lhe tinha sido dito pelos accionistas era a pura das verdades, portanto, era com empenho e persuasão que os convencia.

Tornou-se por isso directa ou indirectamente conhecido do universo dos quadros da empresa.

Reparou que se por um lado e uma vez cumprida a missão, o eventual sucesso de uma transição rápida e tranquila da integração de uma empresa na outra, lhe granjeara o respeito e a consideração dos trabalhadores, ao nível dos seus pares da Administração, a reacção foi de indiferença e até, sentira imperceptívelmente, de alguma inveja. 

Jan Bolstream, tinha o pelouro financeiro na Administração. Era o típico islandês, baixo, gordo, fumando cigarros uns atrás dos outros e pouco comunicativo. Nascera numa povoação humilde do município de Höfn, na região de Austurland, a leste de Reiquiavique de uma família modesta.

Tinha uma obsessão: imitar socialmente o Presidente da empresa, o que era ridículo e impossível pois cada um tinha um passado diferente e nestas coisas, o melhor é ser-se como se é, ainda que se possa ir evoluindo.

Era detestado por toda a gente porque era autoritário, mal-educado e usava as pessoas a seu bel-prazer! Sendo medianamente competente e tendo um pelouro tão importante para a empresa, acabava por se tornar indispensável, pois trabalhava horas a fio e aparentemente tudo parecia correr bem financeiramente na firma.

Tinha pilhas de dossiers e documentos espalhados por todo o lado e os assuntos atrasavam-se e acumulavam-se no seu gabinete. 

As reuniões com os seus subordinados eram penosas, pois não tinha o poder de síntese, passava o tempo aos gritos a descompô-los, para finalmente com uma ar paternal ensinar-lhes o que deveriam fazer. Saíam todos do seu “antro”, derreados depois de horas de solilóquio absurdo e desgastante.

Era manifestamente um empecilho à harmonia e bom ambiente da empresa que tendo umas largas centenas de trabalhadores, se situava entre as principais do sector.

Havia tentativas surdas de correrem com ele, desejos de vingança: um dia, veio-se até a saber por portas travessas que ao chegar tarde a casa, alguém o esperava e abrindo-lhe a porta de supetão, fê-lo rebolar para o alcatrão. Pegaram no carro, fugiram e só passadas umas semanas apareceu no centro de Reiquiavique. A polícia disse que teriam sido uns meliantes, mas na empresa todos acharam que seria alguém que, desesperado de tantos maus tratos, lhe quis dar um aviso.

Entretanto, a Islândia começou a passar por uma crise cada vez mais aflitiva e a empresa teve que começar a despedir quadros. 

Os accionistas mudaram a Administração e o poder de Bolstream, esfumou-se do dia para a noite. Ficou confinado ao seu gabinete e nem saía durante o dia inteiro. 

A maioria dos seus antigos subordinados fora despedida e ele aguentava-se a custo, talvez por saber segredos que não interessava desvendar.

O passivo era gigantesco, a dívida aos bancos e fornecedores irrecuperável e a empresa fechou.

Com o encerramento do seu posto de trabalho, Jan Bolstream, teve que procurar trabalho numa Islândia na bancarrota e começou a saltar de empresa em empresa apresentando o seu currículo e a experiência adquirida no sector das rações de animais.

Um grupo de "ex-perseguidos", encarregara-se de espalhar no meio, uma série de informações negativas quanto ao seu comportamento pessoal e profissional, pelo que quando batia às portas, referiam-lhe suspeitas de ilicitudes praticadas na empresa de que teriam resultado para Bolstream o amealhar de vultuosa riqueza.

Inclusivamente, sabia-se que teria durante anos recebido prémios, sem qualquer repartição pelos outros membros da Administração. 

A saúde piorara, o clima da Islândia não ajudava, e o tabaco em excesso durante anos causara uns vestígios preocupantes nos pulmões.

Jan Bolstream decidira abandonar a capital e ir tentar a sorte em qualquer outro país da Escandinávia.

Metera no seu carro de luxo, topo de gama, todos os seus pertences mais importantes, nomeadamente os dossiers que pudessem ser comprometedores para si e que comprovavam as manigâncias contabilísticas que fizera para o enriquecimento próprio e dirigiu-se à fronteira.

Todd Christian, tinha sido um estreito colaborador de Jan Bolstream, sempre maltratado e desrespeitado e tendo sido um dos que fora despedido, nunca mais deixara de germinar na sua cabeça uma vingança que castigasse para sempre o seu antigo superior. 

Tinha estado ligado ao departamento contabilístico, por isso tinha sido o agente das ilegalidades cometidas por Bolstream, e por prudência guardara sempre cópias de todos os documentos que forjara. Nunca tivera sequer uma palavra de agradecimento, e muito menos jamais escorregara para as suas mãos qualquer bónus.

Seguia com atenção os passos do seu antigo patrão, pois estando desempregado e não tendo nada para fazer, rondava-lhe a casa. Suspeitava que em breve preparasse a fuga. 

Por isso, ao ver descarregar tanta bagagem para o carro, bastante papelada e dossiers, teve a certeza que tinha chegado o momento de alertar as Autoridades.

Ao chegar à fronteira, Jan Bolstream estava com receio que o seu carro, vistoso e caro como era, numa Islândia falida, chamasse a atenção. Havia uma permanente vigilância no país contra todos quantos tinham contribuído para o estado de penúria da Islândia, por isso a fronteira única era um ponto crucial de observação para não deixar fugir incólumes tais personagens que tinham enriquecido à custa dos mais pobres e desempregados.

Todd Christian, tinha apresentado queixa de imediato na Polícia Criminal e esta avisara os guardas da fronteira.

Mandaram parar o carro e desviá-lo para uma inspecção integral. Jan Bolstream, sentiu-se perdido até porque trazia milhares de dólares em notas o que estava proibido pelas Autoridades Monetárias do país. Tudo estava sobre escrutínio, e ele não poderia justificar a origem de duas malas cheias de notas empacotadas.

Veio em todos os jornais da Islândia a notícia da sua prisão, tendo suscitado viva indignação e por outro lado uma enorme satisfação para todos quantos tinham padecido às suas mãos, pois o tribunal depois de ouvir numerosas testemunhas, a maioria sendo antigos funcionários na situação de desemprego, resolvera distribuir equitativamente os seus bens por todos eles.

Só na Islândia!    



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Miséria

Já há tanta gente assim e em breve serão muitos mais!

O que este personagem anónimo infelizmente representa, é o desalinho, um cansaço de lutar que transparece na dor estampada nos olhos e numa boca entreaberta como que a querer respirar, e também o sofrimento, o desencanto da vida, a desmotivação e a pobreza!

É este o País que queremos, que sonhámos e aonde queremos viver?

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Curiosa teoria de Marc Faber

TEORIA DE MARC FABER****

Curiosa teoria económica anunciada nos Estados Unidos.
O tipo chama-se Marc Faber. É analista e empresário. Em Junho de 2008, quando a Administração Bush estudava o lançamento de um projeto de ajuda à economia americana, Marc Faber escrevia na sua crónica mensal um comentário com muito humor:

«O Governo Federal está a ponderar conceder a cada cidadão o montante de 600,00 $. Se o gastarmos no Walt-Mart, vai para a China. Se o gastarmos em gasolina, vai para os árabes. Se comprarmos um computador, vai para a Índia. Se comprarmos fruta, vai para o México, as Honduras ou a Guatemala. Se comprarmos um bom carro, vai para a Alemanha ou o Japão. Se comprarmos bugigangas, vai para Taiwan, e nem um centavo ajudará a economia americana. O único meio de manter esse dinheiro nos Estados Unidos é gastá-lo com putas ou cerveja, considerando que são os únicos bens realmente produzidos aqui. Eu já estou a fazer a minha parte...»

Resposta de um economista português, igualmente de bom humor:

«Estimado Marc: Realmente, a situação dos Americanos é cada vez pior. Lamento, no entanto, informá-lo que a cervejeira Budweiser foi recentemente comprada pela brasileira AmBev. Portanto, restam somente as putas. Agora, se elas decidirem mandar o dinheiro aos filhos, ele virá diretamente para a Assembleia da República Portuguesa, aqui em Lisboa.»

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Episódios picarescos da visita oficial à Serra Leôa - El Presidente (final)



Foram-me buscar ao Hotel e lá fui de limousine para o Palácio Presidencial, que era um edifício nobre e imponente contrastando com os que se viam em Freetown. Uma guarda pretoriana montava a segurança.

Carregava comigo séculos de história simbolizados na caravela de filigrana falsa que, com custo e sem posição, levava nas mãos para ofertar ao Presidente Joseph Momoh! 

Enquanto esperava num hall com colunas, vejo sub-repticiamente vir na minha direcção o Ministro dos Negócios Estrangeiros, com um albornoz muçulmano e sorridente. Lembrei-me do Grão-Vizir do Sultão das Mil e Uma Noites!

Por precaução tinha trazido um envelope para entregar a quantia ao Ministro após a audiência, pois recusava-me, quand-même, em dar-lhe o dinheiro na mão pois ainda me chocava mais!

Um fotógrafo oficial aproximou-se com uma enorme máquina fotográfica de um modelo antigo e perguntou-me se eu queria que ele tirasse umas fotografias com o Presidente e sobretudo na entrega do presente…que lhe havia de dizer! Que sim, obrigado.

Disse-me que seriam USD 20,00 e logo ali lhos entreguei. Até hoje estou à espera de uma dúzia de chapas que tirou abundantemente e que me prometeu enviar pelos canais diplomáticos. Tenho a certeza que não tinha rolo na máquina de retratos!!!!

Chegado o momento do encontro com o Presidente e entrando para o seu enorme gabinete sou recebido com muita cordialidade, um largo sorriso e efusivos apertos de mão.

Entreguei-lhe primeiro a carta do meu Presidente que muito agradeceu e em seguida a dita caravela em filigrana falsa que lhe suscitou rasgados elogios e visível contentamento.

Falámos sobre o navegador Pedro de Sintra, descobridor do país e de algumas trivialidades.

Entretanto reparei que em cima da sua enorme secretária tinha para além do normal, dois pequenos écrans de televisão, um dando para o telhado aonde se via um helicóptero e outro para a entrada do palácio.

Presumi que fosse para em caso de golpe de estado, ao ver entrar ou uma turbamulta ou as tropas infiéis, poder fugir para o telhado e escapar de helicóptero.

Como já era no fim da tarde a sala estava iluminada. De repente mergulhámos na mais profunda escuridão. 

C’os diabos, pensei eu, logo por azar estou no meio de um golpe de estado! O Presidente continuava a falar como se nada fosse e eu respondia-lhe…situação ridícula pois não nos víamos um ao outro! Explicou-me que o fornecimento de energia para Freetown era através de 4 grandes geradores, que tinham cortes periódicos, para poupar no fuel…

Os ditos écrans serviam para nada, pois todas as vezes que a energia fosse abaixo, seria o momento ideal para planear e concretizar um golpe de estado! Mas não lhe disse, como é óbvio!

Ainda estivemos uns longos 20 minutos nesta embaraçosa situação, em amena cavaqueira até que a luz voltou.

Mostrou-me então uma pepita de ouro ( o país tem, entre outros recursos, ouro de aluvião e diamantes – do triste filme “Blood Diamond” – ou o Diamante de Sangue que retrata a dolorosíssima e sanguinária guerra civil que teve lugar uns anos mais tarde) e convidou-me a associar-me a ele e ao seu Grupo para a exploração de ouro e concessões de diamantes, dizendo-me que me concederia as que eu quisesse!

Fiquei sem palavras e reflectindo, para não o ofender nem causar qualquer reacção inesperada menos segura para mim, contra-argumentei dizendo que sendo eu diplomata do seu país não deveria estar envolvido em negócios! Retorquiu-me que não tinha qualquer importância sendo sancionado por ele, como Presidente. Calei-me e acrescentou que mandaria o Ministro das Finanças e o das Minas falar comigo.

Despedimo-nos e acompanhou-me até à porta, muito entusiasmado com os potenciais negócios que dizia, iria fazer por meu intermédio…

A caminho de volta à entrada, vejo o Ministro dos Negócios Estrangeiros que se aproxima e me pergunta como tinha decorrido a audiência, ao que lhe respondi, que com muita cordialidade e amabilidade do Presidente para comigo.

Houve ali um silêncio súbito que interpretei como o de ele aguardar que me manifestasse quanto ao pagamento que me tinha anteriormente referido.

Assim fiz, e perguntei-lhe baixinho e quase sem palavras quanto deveria entregar-lhe. O meu medo era o de me forçar a pagar o que não tinha!

Oiço aliviado e surpreso dizer que USD 50,00 “will perfectly do”!

E regressei ao Hotel Bintumani aonde me esperavam os meus três amigos, para combinarmos para o dia seguinte de manhã mais uma lagostada, ao preço de quase um Ministro dos Negócios Estrangeiros!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Resposta do meu primo Luis Bernardo sobre o processo dos Távoras



Meu Caríssimo Manuel,

Dou por recebida a tua última correspondência. Não tenhas preocupações de delicadeza quanto ao assunto, o que muito te agradeço, mas passados estes anos, como calcularás, este é um tema de que falo abertamente contigo.

Vou por isso dar-te algumas pistas para que reflictas sobre a justeza das minhas palavras.

Tínhamos um monarca fraco e nas mãos do Sebastião José.

O que pensava eu nessa altura sobre ele? 

Que era um homem ambicioso, inteligente, trabalhador, a par das “luzes” do seu tempo, por isso um “déspota iluminado” à semelhança do que se passava em França e aonde colhia inspiração.

Em relação aos meus parentes e iguais, ou seja da velha nobreza, o seu perfil não tinha comparação possível em termos de pragmatismo, de visão e de vontade de triunfar o que lhe daria uma superioridade, que pouco a pouco, se traduziria em favores reais, anoblissement progressivo da família.

E quando, nos encontros em Setúbal, ouvia, perturbado, dos meus íntimos e familiares a expressão de um ódio crescente contra ele, radical e sem tréguas, incentivado pelo Malagrida, jesuíta de verve fácil e convincente, brilhante orador e igualmente inteligente, o meu coração apertava-se pois sabia do conhecimento da História que há sempre um vencedor e vencidos e neste caso o rumo que a contestação tomava, não me pressagiava nada de bom.

Malagrida contestava a política “herege” do Rei e do seu Primeiro-Ministro como a responsável pelo “castigo divino” do Terramoto.

Por outro lado os Jesuítas tentaram construir um estado independente e religioso, dirigido por eles em vastos territórios que hoje são o Paraguai, o oeste brasileiro na zona do Rio Paraná , o actual Uruguai e a sua área adjacente da Argentina. Os Governos de Portugal e Espanha reprimiram violentamente essas pretensões.

Nesse período 90% do erário publico era entregue á Igreja, imagina tu!

Avisei-os a todos de que seria fácil para um Primeiro-Ministro acossado no seu poder, contrariado na sua autoridade, indirectamente desconsiderado na sua condição social menos igual à nossa, urdir todo o tipo de vinganças e conspirações.

Tínhamos contra nós o povo que via obra feita e indiscutivelmente notável depois do rescaldo do terramoto, com prontidão, eficácia e com as mais modernas técnicas do seu tempo.

Nós conspirávamos e não produzíamos para um país que começava a dar sinais de estar exangue do ouro do Brasil que estava no fim e que por nós tinha sido gasto em fausto e luxos, com D. João V, um monarca esbanjador.

O Pombal trabalhava e fazia trabalhar e com pulso de ferro continha a insatisfação gerada por uma crise que se avizinharia senão nesse reinado, num futuro próximo.

Tinha muitos defeitos, era dominador do Rei e com pequenos prazeres e a satisfação de desejos do monarca, afastava-o da governação. Alguns dos meus parentes e familiares, estavam eivados de bons propósitos, mas como sempre, desorganizados, sem uma linha de pensamento coerente e rigorosa nem alternativa, pois não só os poucos que assim pensavam eram afastados ou ignorados, como a vida de excesso de piedade e de beatice instigada pelos Jesuítas, acabava por ser incoerente com as festas, as recepções e a vida faustosa que se levava na nossa classe. 

Os proventos acumulados com o ouro do Brasil e outro património herdado, pareciam não ter fim e permitiam um conforto despesista que os afastava da realidade. 

Sebastião José, começou então a congeminar um plano, pois os seus informadores davam-lhe conta das nossas reuniões, mesmo sendo fora de Lisboa: um déspota não hesita em utilizar todos os meios para se infiltrar, comprar e ser convenientemente posto ao corrente.

Frequentávamos a Côrte e participávamos da intensa vida social promovida pela Família Real.

A minha Mulher, prima e Tia, era muito bonita e com um porte muito discreto e sereno e naturalmente, sendo quem era, fazia parte do círculo próximo da Rainha e do Rei. Era costume não recusar a corte que o Rei pudesse fazer a uma Dama da Côrte. É tão longe quanto vou em relação à Teresa.

A pequena história fala da sua infidelidade e da sua entrega ao Rei como amante. Eu tinha com ela uma relação baseada em ternura mútua, respeito e dedicação. Nestes tempos a fogosidade de uma amante não era comparável ao comportamento de uma Senhora casada que embora cumprindo as suas obrigações de Esposa, o fazia com uma menor vulgaridade se entendes o que quero dizer, sobretudo tendo em conta que havia uma nociva influência dos padres, que através do confessionário, exacerbavam sentimentos de beatice pungente, considerações delirantes sobre pecados que o não eram e os maridos, ou seja nós, ao detestarmos as ideias excessivas dos Malagridas, aproveitávamos desse ambiente e tínhamos as nossas aventuras mais em descanso.

Não chegou a haver nenhuma conspiração concreta, para além de querermos correr com Pombal, apesar de potencialmente estar em desenvolvimento, mas sem planos nem datas. Quanto à influência que a Teresa, minha Mulher teria como amante do Rei era nenhuma, pois nunca o foi. El-Rei devotava-lhe uma honrosa admiração pela sua beleza, cultura e espírito, mas daí até se ter tornado sua amante é um insulto à nossa Família, primeiro a ela, depois a mim e é uma leitura intolerável dos acontecimentos que sujam a memória do Sebastião José.

Acabou num Convento, pobre e sem amparo, o que contradiz a tese de que mereceria os favores Reais.

O tratamento posterior que Sebastião José recebeu no reinado da Rainha Dona Maria que o expulsou para Pombal exilado, tendo reaberto o processo dos Távoras que saíram ilibados de todas as acusações, traduz a verdadeira História de Portugal e do que se passou nesse tempo.

Como saberás houve em gerações posteriores e não muito distantes de todos estes acontecimentos, casamentos entre os descendentes dos Pombal e dos Távoras. Estranhas voltas dá a vida das Famílias!

A sanha e o modo como fomos mortos, para além de indigna e vergonhosa para a nossa condição de seres humanos e de estirpe, revela uma baixeza de Pombal que ainda que há época fosse comum, se o não tivesse mandado fazer, o poderia ter alçado a uma figura que indiscutivelmente teve um brilho ímpar na História do nosso país, mas que se emporcalhou com uma vingança sangrenta e indiscriminada.

Assim que, meu Caro Manuel, todos estes tristes eventos deviam servir para se tirarem lições muito importantes:

1.       A intolerância, o radicalismo seja ele político ou religioso não leva a parte nenhuma, destrói famílias, ideias, países;

2.       A arrogância e o convencimento também cegam e afastam de quem as pratica a visão da realidade tal como ela é, ou como deveria ser;

3.       A magnanimidade é uma virtude dos grandes e mesmo detendo o poder ilimitado ou em maioria, só se engrandece quem revê, analisa com rigor e recua se não tiver razão ou se for melhor para a comunidade do seu país.

Tudo isto faltou a ambas as partes, ao Pombal e a nós como um todo. Os resultados foram trágicos e inconsequentes.

Aqui tens o que me pediste e que espero te permita com isenção e equidade ajudar a aprofundar, se ainda te interessar mais investigar, o que se passou.

Mas se queres o meu conselho, dedica-te ao teu tempo pois já tens preocupações que te bastem. São ciclos que vão e voltam.

Um afectuoso abraço do teu primo muito amigo

Luis Bernardo