segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

o azul do mar não tinha fundo


Lembras-te, Carlos, quando, ao fim do dia,
Felizes, ambos, íamos nadar
E em nossa boca a espuma persistia
Em dar ao Sol o nome do Luar?

Tudo era fácil, melodioso e longo.
Aqui e além, um súbito ditongo
Ecoava em nós certa canção pagã.

Contudo o azul do mar não tinha fundo
E o mundo continuava a ser o mundo
Banhado pela aragem da manhã!...

Pedro Homem de Mello, in "O Rapaz da Camisola Verde"

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A bolha chinesa e eu!


Está um meco ( do francês mec, vulgo gajo) a tentar encontrar formas de cooperação entre empresas chinesas e ocidentais e não pára de receber um ficheiro da internet intitulado “ a bolha chinesa”!

Os meus amigos, inimigos e indiferentes sabem que vivi cerca de 7 anos na China (em Macau e Hong Kong) e que estou neste momento envolvido como representante de uma empresa chinesa para 13 países significativos em vários continentes.

A China é um país que muito em breve vai tomar as rédeas de grande parte da economia do mundo, incluindo a Europa. Esta afirmação é inegável, quer se goste ou não.

Nos tempos em que lá vivi e trabalhei e agora nas minhas frequentes deslocações, tenho convicções fundamentadas sobre o meu modo de encarar o Império do Meio.

Uma história milenar – não sei se sabiam que em todo o seu passado a China só teve 9 anos seguidos de paz – cheia de peripécias, invasões, líderes fascinantes e outros tortuosos e cruéis, um povo trabalhador e ordeiro mas cinzento porque a sua população e a dimensão do seu território, não permitem “larguezas” de qualidade de vida para todos por igual.

Esta característica de indiferença perante a adversidade e uma resignação aparente da menos sorte que bafeja a maioria dos chineses, não é só fruto da tão apregoada falta de democracia pelo Ocidente! É a sorte do resto do mundo, pois se o sistema democrático parlamentar, sem embargo dos méritos que se lhe reconhece, põe de “pantanas” países, Continentes, o que seria se na China com 1,3 biliões de habitantes, cada “chinoca” se pusesse a pensar de sua maneira!

Não que defenda os atropelos à liberdade nem aos direitos humanos, mas há que entender o conceito de tempo, que para os chineses é distinto do Ocidente. Relembro aqui a célebre resposta de Zhou EnLai quando lhe perguntaram sobre o impacto da Revolução Francesa no mundo ocidental: "The impact of the French revolution on western civilization -- too early to tell.

Há de tudo nos chineses: aldrabões, trapalhões e precipitados, charlatães e mal formados, arrogantes, tímidos e introvertidos, estranhos à nossa abertura de espírito e variegada aceitação de outros mundos.

Estão só agora a sair para o exterior. É preciso e urgente lá ir e opinar depois de os conhecer nos seus habitats com as dificuldades e “engasganços” nos processos de desenvolvimento civilizacional.

É preciso ter paciência, tolerância e vontade em entendê-los. Sem cedências, quand-même! O que é mal é mal, o que é bom merece ser elogiado!

Mas também há heróis sublimes, um país com uma variedade de culturas e beleza natural, poetas, guerreiros valorosos, homens sérios e trabalhadores, modernos e esforçados e com visão do futuro.

É com estes que quero trabalhar e construir o futuro.

A bolha chinesa? E a espanhola e a portuguesa e a grega e a americana?

Não é inteligente que pague o justo pelo pecador, mas o tema dá para milénios de discussão!

Até lá!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A maior empresa do mundo


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não me esqueço, de que a minha vida é a maior empresa do mundo.

E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um 'não'.

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

Atribuida a Augusto Cury

o primeiro beijo


Our kiss is soft and wet,
smooth and warm,
sensuous and passionate.

The kiss hits our whole bodies like a tidal wave.
We both feel all of our emotion at once,
it's a feeling words can't describe.
As we pull away, you look into my eyes
and I look into yours,
we smile realizing that was our first kiss,

And it wasn't going to be our last.

Aujourd'hui, j'ai croisé l'homme idéal


Aujourd'hui, j'ai croisé l'homme idéal. Physiquement.

Pour le reste, j'ai pas eu le temps de me faire une opinion. Ou si mais je crois que je trouverais encore à redire. Enfin bref!

En fin de matinée, j'étais en ballade dans le hall de l'établissement où je suis censée bosser quand mes yeux croisent les siens... ... Je déconne! Nos yeux se croisent et nos regards insistent.

Je passe et décide "innocemment" de faire le tour derrière les guichets du hall, guichets auxquels! quelle coïncidence, il patiente...

Je fais genre "je suis en plein travail avec le service voisin du mien" (je sais trop bien faire ça)... Et je repasse sous son nez, soulève un dossier, histoire de connaitre au moins l'identité du monsieur. Rien, ce n’est pas pour lui qu'il est là.

Tant pis. Je file et reprend ma ballade. Je reviens sur mes pas, m'apprête à retourner dans mon service quand je le vois se diriger vers moi.

- Bonjour...

- ...Oui?

- Voilà, sur ce papier il y a mon téléphone et j'aimerais beaucoup diner avec vous. (Je ne me rappelle plus s'il a vraiment dit "beaucoup" mais ça me fait plaisir!

- (Moi rouge et un peu surprise, si quand même!)...Heu, ben oui, je vous appelle, alors. Et moi, c'est Giovanna, enchantée.

Et là dessus je lui tends la main.

Je le laisse là et file rejoindre un visage familier. Bien sure le service en face n'en n'a pas rater une miette et en moins d'une heure tout l'étage est au courant et la conversation autour de la machine à café est "DOIT-ELLE LE RAPPELER?"... Génial...

Il s'appelle Emanuele (comme mon tout premier amoureux, je sais qu'on s'en fou pffff), il est beau comme un dieu, mais non, je ne rappellerais pas...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

“Andrei Rublev” de Tarkoviski -filme excepcional


Andrei Rublev é considerado o maior pintor russo de ícones, frescos e miniaturas para iluminuras. Há pouca informação sobre a sua vida. A primeira menção de Rublev é em 1405, quando decorou os ícones e frescos da Catedral da Anunciação no Kremlin em Moscovo.

Na arte de Rublev combinam-se duas tradições: o mais alto ascetismo e a harmonia clássica das formas Bizantinas.

As personagens nas suas pinturas são sempre calmas e pacíficas. Mais tarde, a sua arte tornou-se paradigmática quando se fala em pintura de igrejas e arte icónica.

Um excepcional filme sobre os diversos episódios da vida de Andrei Rublev retrata a difícil vida do povo russo nessa época.

Trata-se de uma biografia não linear de Andrei Rublev, que viveu entre os anos de 1360 e 1430, um período extremamente conturbado da história da Rússia, que sofria com invasões de tribos Tártaras e estava no auge da Baixa Idade-Média.

Acompanhamos, ao longo do filme, a trajectória de Rublev e o aparecimento e desenvolvimento dos seus anseios e das suas dúvidas sobre a fé (Deus), a sociedade russa e sobre a Arte.

Sobressai a tentativa do Artista de compreender o mundo à sua volta, tanto nos aspectos históricos e sociais como também artísticos e estéticos, numa incessante busca pelo conhecimento e pela verdade.

A narrativa do filme é bastante interessante e muito inovadora. É estruturada a partir de oito blocos narrativos autónomos, compostos por histórias não lineares a partir da selecção de faixas temporais.

O Artista pretende decifrar o enigma do mundo, não pelo conhecimento racional (isto cabe à ciência), mas através da Arte e é justamente isso que Andrei Rublev almeja fazer.

Ao longo do filme, Rublev tenta compreender o mundo à sua volta a partir dos três pontos de referência que ele possui: a fé, a crença na sociedade russa e a Arte. Contudo, ao longo da narrativa, ele perde a sua crença nestes três pontos, e só volta a acreditar somente na Arte, quando conhece o jovem sineiro Boriska, no final do filme.

A fé de Rublev é abalada no momento em que as questões e as respostas da teologia cristã não conseguem satisfazer o espírito incessantemente interrogativo e contemplativo.

A sua crença na sociedade e no povo russo é abalada ao presenciar as guerras e as invasões tártaras, na qual um príncipe russo se alia aos tártaros para conquistar o trono do seu irmão gémeo.

Por seu turno, a sua crença na Arte é abalada no momento em que as suas pinturas são destruídas. Rublev perde completamente os seus três pontos de referência no momento em que mata um soldado tártaro. Tinha tirado uma vida, e nada criado, e decide parar de pintar e isolar-se num mosteiro, aonde decide fazer votos perpétuos de silêncio.

Rublev reata a sua crença na Arte, na mais bela cena do filme: “A fabricação do sino”. Ele observa o jovem sineiro Boriska a fabricar um sino: não aceita conselhos e, muito menos críticas, seguindo apenas a sua intuição e espírito criativo. Boriska representa o Artista, o Génio criador.

Boriska tem a capacidade preponderante de apreender as ideias e a realidade das coisas por intuição contemplativa e puramente objectiva, ou seja, a capacidade criativa.

Isto desperta Rublev. O pintor pede para que o jovem o acompanhe: um pinta e o outro faz sinos.

Em “Andrei Rublev”, Tarkoviski realizou uma obra de profundidade filosófica.

Através do personagem Rublev há a discussão do papel do Artista na sociedade e a função da Obra de Arte.

O tsar ao ouvir repicar com um som cristalino o sino feito por Boriska, rejubila e enaltece as qualidades do sineiro, mas este retira-se discretamente e cai de joelhos num pranto, ao lembrar-se do seu avô, o melhor sineiro de toda a Rússia com quem tinha aprendido a Arte e de quem sentia a falta.

O final é sublime: os votos de silêncio que Rublev tinha feito no mosteiro e que nunca tinha falhado, são finalmente quebrados quando afaga a cabeça do sineiro e se lhe dirige, consolando-o.

Aníbal Cavaco Silva


O PR foi infeliz no modo como se expressou, tal como todos nós já o fomos, muitas vezes na vida!

Ele continua a ser o político mais popular do país, ele é dos poucos políticos portugueses que não precisou da política para subir e se afirmar na vida, ele foi, a par de Ramalho Eanes, o único PR que não desertou, não pisou e queimou o símbolo nacional, não vigarizou emigrantes, não criou fundações para continuar a "mamar" o dinheiro de todos nós, não esteve ligado ao tráfico de diamantes e marfim...

Ele, Aníbal Cavaco Silva, trabalhou toda a vida, fez os descontos legais para fazer juz às reformas que tem, não enriqueceu com a política e, muito menos, a endrominar este povo papalvo que olha para a política como se de futebol se tratasse...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

É o tempo da travessia


Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

adivinha


Quando eu te encontrar, possuir-te-ei.
Quando eu te encontrar, levar-te-ei até à cama
Sem pedir licença; tocar-te-ei em todo o teu corpo e te possuirei.
Vou te deixar com uma enorme sensação de cansaço, e entrega total.
Lentamente vou te fazer sentir arrepios, fazer-te suar profundamente.
Deixar-te-ei ofegante, tirar-te-ei o ar, a tua cabeça pulsará.
Da cama não conseguirás sair!
E quando eu terminar, irei embora sem me despedir, com a certeza de que voltarei!

Assinado : a Gripe. Pensaram que era outra coisa????

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

solteiros




What do they know of love
These men who have never been married?
What do they know
About living face to face with happiness
These amateurs of passion?
Do they imagine it's like home used to be,
Having a family of one's own,
Watching the little bones grow lethal,
The eyes turned on you -
And realizing suddenly that it's all
Your own fault the way things are,
Because it's you now
Not your parents who're in charge?
Can they understand what it means,
These suntanned single men?

"Bachelors" (Hugo Williams)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

o jantar no Clube da minha empresa (fim)


No Clube da minha empresa aonde se realizou o jantar que me ofereceram havia um menu variado que ia sendo degustado à volta de uma mesa redonda com um vidro que rodava para nos irmos servindo. Foram-me explicando cada prato que vinha chegando servidos por chinesas engraçadas e vestidas de seda com cores garridas.

Os pratos de peixe e crustáceos de distintos sabores são habituais na cozinha chinesa, caracterizando-se pelo seu sabor doce. Os pratos mais estranhos que constavam do menu eram as ovas de caranguejos com barbatanas de tubarão, e quanto às carnes, o frango com molho de Dezhou. Destacava-se, também, o pato lacado à moda de Pequim com oito tesouros e as tiras de enguia.

Começou o desfile de pratos que fomos experimentando:

Caranguejo cozido no vapor, seguido de um peixe em forma de esquilo. O peixe é frito, servido no molho e a pele é crocante e a carne é fina. Tem sabor agridoce.

Depois uma sopa de bolinhos de peixe. A sopa é de aparência clara, os bolinhos são brancos, muito finos como se estivessem envoltos numa película e lisos. A sopa é feita com toucinho fumado, cogumelos, raízes de bambu e ervilhas.

A seguir vieram uns crepes da primavera. São fritos, e são feitos com legumes numa capa de farinha de trigo. Tradicionalmente, servem-se na primavera. Hoje em dia, são comidos em todas as estações com um molho agridoce.

Trouxeram tigelas de arroz frito com toucinho fumado, ovos, camarão e legumes.

A seguir vieram os bolinhos de arroz recheado – e explicaram-me que há 2200 anos, quando os invasores chegaram à China e o pai de um poeta famoso se suicidou, o filho atirou-se rio Yang Tsé. Para que o dragão não o comesse, os chineses fizeram bolinhos de arroz que atiravam para o rio.

Serviram um Tofu recheado – contaram-me que o fundador da dinastia Ming (uma das mais estáveis e autocráticas dinastias chinesas), passou fome quando era jovem. Um dia bateu à porta de uma senhora para pedir comida. A senhora serviu-lhe restos de tofu, recheou-os com carne e juntou verduras cozidas. O prato ficou tão saboroso que permaneceu na memória do jovem. Ao tornar-se imperador, ordenou que a iguaria constasse do menu real.

Com grande aparato apresentaram os camarões-trovão – que são camarões com molho de tomate pouco apimentado. Quando postos em cima de um triângulo crocante de arroz, a mistura faz como se fosse "o som do trovão e chuva".

A terminar foram camarões cinza (de oito a dez centímetros) sem casca, temperados com sal, pimenta e amido de milho. Depois de fritos servem-se com saqué chinês e cebolinho.

O prato mais imponente foi um pato lacado que foi trinchado pelo cozinheiro à nossa frente e servido com os crepes habituais, cebolinho e o molho do costume. Uma iguaria dos deuses!

Não falando eu mandarim, deixei com generosidade os 14 convivas discutirem interminavelmente entre eles…seguramente temas de grande elevação!

Não resisti, às tantas de lhes contar uma parte das minhas aventuras em Hong Kong, quando lá vivi e trabalhei, passadas com o irmão do último Imperador da China.

Estava no meu gabinete da empresa chinesa aonde trabalhava, no 52º andar de uma torre na Central, quando nessa manhã, ao passar os olhos pelo South China Morning Post, deparei com uma pequena notícia de fundo de página, anunciando a estadia na Colónia, de Pu Jie, o irmão mais novo do último Imperador da China, Pu Yi.

Tinha lido a autobiografia deste último, largamente encorajada por Mao e Zhou Enlai para que a escrevesse, chamada “ From Emperor to Citizen” e visto inúmeras vezes o magnífico filme de Bernardo Bertolucci “The Last Emperor”.

Fui reler tudo quanto tinha nos meus livros e fui comprar mais uns quantos sobre a China Imperial e um dos episódios curiosos que logo respiguei nas memórias foi o de que quando o trouxeram em criança para o Palácio Imperial para ser o companheiro de jogos e de infância do seu irmão o Imperador, numa das suas aulas com o preceptor escocês R.P.Johnston, Pu Yi arremessa um objecto contundente para cima do irmão quando reparou que num dos forros da cabaia de seda de Pu Jie a cor predominante era o amarelo, a qual era tradicionalmente reservada exclusivamente para o Imperador.

Já naquela altura e de tenra idade o seu poder e temperamento eram quase “divinos”!

Na manhã seguinte dirigi-me para o “Lu Kwok” hotel em Causeway Bay. Tinha tido o cuidado de pedir na Livraria aonde comprara na véspera vários livros sobre Pu Jie, que me escrevessem num papel o seu nome em mandarim, o que veio a verificar-se de grande ajuda, pois na recepção do hotel e sem a menor hesitação, indicaram-me o número do quarto e o andar. Confirmei o que já tinha lido, de que desde a implantação do comunismo de Mao, Pu Jie tinha passado a ser mais um cidadão sem nenhuma importância devida ao seu estatuto no passado.

Ainda hoje recordo a emoção que senti ao ousar ir ao encontro de um personagem, pese os acontecimentos políticos que provocaram a sua queda em desgraça, que não deixava de ser descendente de dinastias milenares que governaram o Império do Meio e irmão do último Imperador da China!

Uma vez sentado numa cadeira incómoda de um quarto amplo mas desconfortável, tentava explicar a Pu Jie que era um português que estava temporariamente a trabalhar para uma empresa chinesa relevante em Hong Kong, que tinha lido as memórias do irmão e visto o filme de Bertolucci e que…tinha-se feito um silêncio embaraçante da sua parte, tal como acontecera nos anteriores 20 minutos que me levaram a convencê-lo a abrir-me a porta e a deixar-me entrar para os seus aposentos para uma pequena conversa, depois de lhe ter assegurado que não era jornalista!
Tive a sensação de que se não quebrasse o silêncio estaria fora do quarto nos minutos seguintes, pois era uma cena patética!

Resolvi perguntar-lhe sobre os seus hobbies que tinha identificado na literatura lida e pareceu-me que seria uma introdução mais aceitável e não intrusiva.

Com espanto meu, a cara abriu-se num sorriso mais franco e começou a falar num inglês decente, lento e como que rebuscando na memória os tempos das aulas com o seu preceptor britânico:

- Gosto de fazer birdwatching que para mim é a observação e o estudo dos pássaros a olho nú ou com binóculos. Faço-o através dos dois meios e a estação do ano mais apropriada é na Primavera ou no Outono durante as grandes migrações, podendo-se ver uma grande variedade de pássaros. Nestas alturas levanto-me muito cedo de manhã pois é nestes momentos que os pássaros estão mais activos e os trinados tornam mais fácil localizá-los e observá-los.

Interrompi-o para lhe pedir respeitosamente que me explicasse o que o fazia ter este fascínio pelo birdwatching:

- Tenho estudado com profundidade a provável razão de ser deste interesse em birdwatching e creio que se pode tratar de mais uma expressão do instinto caçador do ser humano ao tentar observar a sua presa bem como a de revelar uma tendência do macho para a sistematização, pois havendo uma maioria significativa de homens em detrimento de mulheres, para estas é mais um exercício intelectual e de desafio do que partilha de informação – explicou.

- Faço-o por uma questão de ocupação do tempo e numa perspectiva mais estética do que utilitária (a de alimentar pássaros). É uma espécie de ciência praticada por cidadãos responsáveis que se preocupam pela protecção do bem-estar dos pássaros e na identificação de potenciais ameaças para espécies raras em risco de extinção.

Fez uma pequena pausa, olhou-me como se me visse pela primeira vez e disse:

- Também me dedico à caligrafia usando caracteres chineses. Este tipo de arte influenciou as pinturas a tinta-da-china e aguarela pois usam o mesmo tipo de utensílios.

- A caligrafia é uma forma de eu expressar uma escrita correcta, concisa, harmoniosa e esteticamente agradável à vista.

- Utilizo o pincel de tinta, a tinta, o papel e o pilão para liquefazer a tinta, considerados como os “Quatro Tesouros para o Estudo”. Para além destes utensílios também uso pesa papéis ornamentados e bases para pousar o papel na minha secretária.

- A parte de cima dos meus pincéis é feita de penas ou cabelo de animais como o coelho, o gamo, o pato, de galinhas, mas há uma tradição curiosa na China de que ao fazer-se um pincel de tinta com o cabelo de um recém-nascido, será uma recordação única na vida para ele, quando for crescido.
Está ligada a uma lenda que narra que um investigador chinês ficou qualificado em primeiro lugar numas provas para a corte do Palácio Imperial dos meus antepassados, usando um pincel personalizado com o seu próprio cabelo de menino.

E o jantar acabou e voltei de regresso ao meu Hotel, para no dia seguinte partir de volta a Lisboa.

Réponds-moi!



Toda a gente tem um Jimmy que não responde!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Don Manuel de Fraga Iribarne


"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Mário Quintana

Heróis do mar


"Lembra-me - história abreviada - o pescador que carregava dois baldes com caranguejos, um tapado e outro destapado, e que quando perguntado sobre o porquê de tal situação explicou:

- que os tapados eram japoneses e os destapados portugueses.

Os japoneses têm que estar tapados porque se os destapar ajudam-se uns aos outros e fogem num instante.

Os caranguejos portugueses podem estar destapados, porque se algum tentar escapar do balde os outros, imediatamente, puxam-no para baixo!!!"

domingo, 15 de janeiro de 2012

" A ceia dos Cardeais" por Júlio Dantas



Cenário: Uma grande sala no Vaticano – Paredes cobertas de telas, com apainelamentos de talha doirada, mesa onde ceiam os três cardeais: Cardeal Gonzaga (português), Cardeal Rufo (espanhol) e Cardeal Montmorency (francês), sentados à mesa, ceando.

Palavras do Cardeal Gonzaga, na peça de teatro de Júlio Dantas, ao descrever aos 84 anos, o seu amor de infância.

Nem a frase subtil,
nem o duelo sangrento...
É o amor coração,
é o amor sofrimento.
Uma lágrima...Um beijo...
Uns sinos a tocar..
Um parzinho que ajoelha
e que vai casar.
Tão simples tudo!
Amor, que de rosas se inflora:
Em sendo triste canta,
em sendo alegre chora!
O amor simplicidade,
o amor delicadeza...
Ai, como sabe amar,
a gente portuguesa!

Tecer de sol um beijo, e,
desde tenra idade,
Ir nesse beijo unindo o amor
com a amizade,
Numa ternura casta
e numa estima sã,
Sem saber distinguir entre
a noiva e a irmã...
Fazer vibrar o amor em
cordas misteriosas,
Como se em comunhão se
entendessem as rosas,
Como se todo o amor fosse
um amor somente...

Ai, como é diferente!
Ai, como é diferente!"

Esta magnífica peça em uma cena, com vários actos retrata dois aspectos que a mim muito me dizem:

- o requinte gourmet e gourmand, de Suas Eminências. Vê-se o cozinheiro, chamado à sala para ser cumprimentado e homenageado pela excelência da sua cozinha, e em cima da mesa nada faltava desde os vinhos copiosos e generosos, champagnes e licores bem como pratos usuais nas ceias dos Cardeais: caça, peixes e crustáceos fresquíssimos, entradas de grande requinte e finalmente doces e sobremesas de muita variedade temperados por frutas exóticas.

- o nosso Cardeal, mais aberto à franqueza do que os outros, não deixa de expressar a nostalgia dos seus amores de infância, malgré a sua dignidade eclesiástica.

Tenho no Brasil, um amigo cultíssimo com uma excepcional sensibilidade, advogado de sucesso e entranhado nos negócios de grande vulto que me surpreende a cada momento.

Estávamos uma tarde a acabar de almoçar num excelente restaurante em S.Paulo para aonde me tinha convidado, quando, por casualidade e ao referir-lhe a propósito das extraordinárias iguarias que tínhamos saboreado, que deveríamos chamar o chef e bebermos uma taça de champagne com ele em sua honra, oiço com estupefacção o Luiz recitar-me as palavras do Cardeal Gonzaga, que acima reproduzo!

Com tal sentimento e arte no dizer, valorizada pela doçura do sotaque brasileiro, que o ouvi até ao fim em silêncio julgando estar à mesa dos Cardeais!

O Luiz quando acabou estava emocionado!

Há momentos inolvidáveis nas nossas vidas que vêm sem estarmos à espera mas que nunca mais esquecemos!

Por isso, tal como o Cardeal Gonzaga só posso repetir: Ai, como sabe amar,
a gente portuguesa!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Clube aonde tive o jantar de despedida de Pequim




O Clube da minha empresa chinesa aonde fui jantar, é na zona dos Hutongs.

O nome de hutong – palavra da língua manchu cujo significado é "ruas estreitas", são aglomerados de vielas que começaram a ser construídos durante a dinastia Yuan, entre o fim do séculos XIII e princípios de XIV, para servir de morada a aristocratas e funcionários da burocracia imperial.

As casas originais dos hutongs chamavam-se siheyuans. Podiam ser mais ou menos luxuosas, mas tinham sempre um pátio interno, ao redor do qual habitavam mais de um segmento de uma mesma família. Aos empregados, eram reservados quartos próximos à entrada, numa inversão da planta actual dos apartamentos da classe média de qualquer latitude.

Alguns siheyuans foram restaurados e, hoje, funcionam como bons restaurantes e agradáveis pensões para turistas. Com as paredes avermelhadas, pórticos simples e telhados cinzentos causam no visitante um efeito desejado e lucrativo para o turismo local, atraindo numerosos visitantes.

Com o fim do Império e as reviravoltas seguintes, a maioria dessas casas seculares foi ocupada por trabalhadores.

Hoje, nas vielas dos hutongs, o pequeno comércio e os modestos restaurantes, acrescido do vaivém de bicicletas e ao clima de interioridade que se sente, com pessoas sentadas nas soleiras das portas, durante o Verão, dão uma impressão errada do que é a realidade e de como é difícil a vida para os seus habitantes.

Nos hutongs a apenas 2 quilómetros da Cidade Proibida, as vielas interiores vão se restringindo a corredores, e depois a passagens que não ultrapassam 60 centímetros de largura.

E os siheyuans, outrora senhoris, dividem-se e subdividem-se, para outra vez repartirem-se em dimensões impensáveis a um convívio humano digno.

Um chinês, que olhava indiferente à nossa visita da janela do que parecia ser uma cabine feita de tapumes, contou-me através do meu tradutor, que a sua casa não tinha mais do que 4 metros quadrados e que se reduzia a um exíguo espaço atulhado de objectos sem memória.

A sua morada, continuou, era a ínfima parte do palácio de uma princesa, onde havia décadas se “concentravam” 107 famílias – como todas as outras, sem quartos de banho, a não ser os comunitários.

Tal como os chineses dos hutongs, milhares de outros vivem nas mesmas condições na capital chinesa, mais fora do que dentro de casa, nas ruas e nos corredores exíguos de tais aglomerados, não tanto porque gostem da existência comunitária, mas porque não há casas. São compartimentos.

Os hutongs não produziram, não produzem, nenhum romance realista e muito menos uma realidade de romance.

Da contabilidade mutável que as autoridades se recusam a precisar, conclui-se que, em meados da década de 40, existiam 3 000 em Pequim. Em 1980, esse número havia caído para 1 300 – dos quais cerca de 400 ainda sobrevivem.

Trata-se, apesar do que acima refiro, de uma zona exclusiva e cara para ter imóveis, pelo que atrai de turismo.

O Clube da minha empresa chinesa é, na aparência da sua entrada, um edifício semelhante a um hutong grande, mas por dentro decorado com um luxo e comodidades de grande qualidade.

Com inúmeras salas privadas aonde se podem organizar reuniões e refeições, tem dezenas de empregadas chinesas que estão vestidas ao rigor do palácio Imperial.

o voo da melga


Estou no meu último dia de Pequim, e amanhã regresso a Portugal.

Há uma tempestade danada em toda a China e os aviões não levantam, por nevoeiro, tempestades de neve, gelo e intempéries.

Tenho uma conversa marcada com o meu Presidente que está na província dele, bem longe de Pequim e não sei se vai poder vir esta tarde, como combinado.

Entretanto, apareceu no meu gabinete um quadro da empresa que tem 34 anos, é do departamento financeiro e é economista. Começámos a falar sobre o negócio que me trouxe a Pequim durante uma boa meia-hora, com interesse e boas opiniões técnicas trocados de ambos os lados, numa conversa construtiva e produtiva.

Esgotado o tema, veio à baila a diferença de culturas entre os nossos dois países, entre o Império do Meio e a Velha Europa.

Ouvi-o com interesse pois é culto, muito interessante e cativante.

Tem uns olhos grandes azuis, mãos compridas e bem cuidadas e veste-se muito correctamente. Podia ser um executivo português.

- Você ontem - disse-me com um ar divertido e provocador - deixou passar à frente a minha colega Chi Leng Tai, que é secretária, à saída do elevador. Ela só tem 22 anos e ficou encantada e não pára de contar a toda a gente. Porque fez isso?

- Faço-o naturalmente e se quer que lhe diga com franqueza, foi ela como seria com outra qualquer. É uma questão de cultura ocidental quando se é educado nesses princípios. Mas não merece tanta publicidade, disse eu, um pouco atrapalhado.

- E se fosse eu? – perguntou ele com um ar de quem já sabia a resposta.

- Se calhar deixava-o passar só para lhe mostrar que você é distraído – disse, sorrindo-lhe.

- Agora sou eu a perguntar: o que acha de um português que chega aqui à China, não fala a língua nativa, e que quer fazer negócios com a sua empresa?

Deu-me uma resposta tão cândida que fiquei embaraçado:

1. Gostamos muito de estrangeiros;

2. Adoramos aprender o que nos têm para ensinar;

3. Conseguimos distinguir quem é sedutor de quem é um calhau rolado com dois olhos (referia-se seguramente a alguma destas pedrinhas do tal Rio Yang Tsé);

4. Somos infantis com as mulheres e com os homens. Somos tímidos na expressão dos nossos sentimentos e vocês são quentes, intensos e descomplexados.

5. Aqui os sentimentos são controlados, quase que por decreto imperial do Governo. Os beijos e as carícias em público são forçados, rotineiros e rapidamente levam ao cansaço e à hipocrisia.

6. Se apetece agarrar alguém bem junto, dar um beijo ou um abraço e permanecer sentindo por dentro um calor bom, é-se mal visto.

7. Tudo é estereotipado e isso farta.

8. Eu simpatizo consigo, se à despedida me apetecer dar-lhe um abraço, deixa-me?

- Não precisa de ser à despedida, você mereceu-o desde a primeira frase e pode agora ficar abraçado o tempo que quiser, pois estando frio sempre encontro algum aquecimento no seu sobretudo quentinho! – disse-lhe com um grande sorriso.

- A minha noiva diz que os namorados têm que estar sempre de mãos dadas e aos beijos e eu acho que tudo o que é demais, farta!

- A sua namorada é uma chata e “melga” e expliquei-lhe que melga era uma incómoda criatura da classe dos insectos que está sempre a girar à nossa volta até morder. E disse-lhe que devia fazer à namorada o que fazemos às melgas: ou as afastamos com palmas ou as matamos, mas neste caso, em sentido figurado.

- Posso fazer uma pergunta pessoal? – inquiriu um pouco tímido.

O gajo está a pedi-las, pensei eu. Mas vamos a isso:

- Os ingleses dizem assim “ never ask or make personal remarks”…por isso se te confinares a estes parâmetros, chuta!

- Se eu lhe pedisse para ser meu Amigo aceitava?

E foi tão genuíno ao posar a pergunta que não resisti a estender-lhe a mão.

- Claro que sim. Com muito gosto.

- De hoje para a frente posso dizer aos meus Amigos que tenho um amigo português - afirmou com um ar orgulhoso.

- Com uma condição, é que vais acrescentar que esse teu amigo português tem um novo amigo chinês.

Abriu a boca num enorme sorriso, aproximou-se e deu-me um abraço e foi buscar a namorada a quem me apresentou. Tinha cara de melga, daquelas deslavadas e parece que não vibrou da mesma maneira com as explicações que ele lhe deu sobre este nosso pacto.

Grandes adeus e no fim disse-me baixinho: primeiro batem palmas com as mãos para ver se afugentam a melga, e se não conseguem…pimba, matam, não é?

Isso – disse-lhe eu!

Vou ficar atento ao obituário da empresa, nos próximos meses.

Na próxima viagem vou armar em Pedro Almodôvar e vou saber de tudo e vender o guião a um famoso film maker!

Já estou a visionar o nome do filme: “ o voo da melga” (inspirado no do moscardo…)

Uma vez em Hong Kong em conversa amena com umas putas chinesas da rua ( quando reentrava tarde para o apartamento da empresa na Queen’s Road) , que não acreditavam que eu só estava numa de research e de pura conversa sem cama, lá acabaram por me confessar que tinham na cabeceira das camas aonde exerciam a sua profissão, o escapulário da Nossa Senhora do Carmo, para as proteger! Notável!

Enfim, o rapaz à partida piscou-me o olho e disse : Obrigado por ser meu amigo!

E eu acabei por fazer um fair deal nesta minha vinda a Pequim, em duas penadas: ganhei um amigo e progredi nos negócios.

Chamava-se Guang Xi


Ontem fui jantar com um amigo ocidental que vive em Pequim. Andámos um bom bocado a pé até ao restaurante e o malandro fez-me trotar a passadas gigantes, pois o frio apertava. Tem cerca de 2m e farta-se de fazer “jogging” em condições meteorológicas adversas.

Tinha sonhado com um bistrot de comida francesa: os meus adorados caracóis bourguignonnes, uns petits-poussins com recheio de foie-gras du Périgord dentro do sítio certo, um excelente Bordeaux e a terminar um soufflé de chocolate ou ao Grand-Marnier.


Nada disso. Não foi McDonalds ( de que confesso, gosto de ir quando me apetece e me é conveniente) mas foi a um restô sem graça.

Mas graça teve a conversa.

Juntou-se-nos uma chinesa de 23 aninhos, com uns olhos de mel, um sorriso de fazer sucumbir S.Tiago (não faço ideia porque me lembrei deste Santo) a cometer as mais torpes e agradáveis tentações que à carne são permitidas. A voz era doce e pausada e o inglês macarrónico, mas divertido.

O bicho, ou seja, o meu amigo, tem mais do dobro da idade dela, a qual me explicou ser guia de excursões à Grande Muralha da China. Estive quase para lhe dizer que era o meu sonho de sempre ir calcorrear com ela quilómetros e quilómetros de pedra inóspita ao som dos pensamentos de Confúcio ! Mas lembrei-me daquela musiquinha do Roberto Carlos que tem a ver com roubar a namoradinha do amigo meu…

Ela esteve connosco até ao meio do jantar e foi-se embora para casa…diga-se dos pais, aonde mora. Fazia-se tarde, sobretudo numa noite de -12º de frio !

Guang Xi, foi contratada pelo meu amigo inglês de uma forma tão romântica quanto um olhar pode ser relevante para um encontro amoroso.

Estendeu-lhe uma pequena brochura com os tours que organizava quando ele se cruzou com ela na Praça Tienamen. Recusou e seguiu e passados uns metros, reflectiu e olhou para trás e ela lá estava a olhar para ele !

Explicou-lhe que queria alguém que lhe fizesse companhia em Pequim, que lhe mostrasse coisas que os estrangeiros nunca vêem, não conhecem e nem entendem por não falarem mandarim.

Começou assim e ela tem sido de uma inexcedível competência e sagacidade.

Devo acrescentar que o meu amigo é casado no Reino de Sua Graciosa Majestade, mas que não deixando de gostar da legítima e de rebentos, encontrou em Pequim um aconchego de que nos falava o Eça !

Acho que só os homens podem perceber estes leitos repartidos e eu limito-me a relatar uma ínfima parte do que foi a minha interessantíssima conversa, sem fazer juízos nem emitir opiniões.

Os detalhes não foram nem sórdidos nem sexuais, era o que faltava pois ambos somos oficiais e cavalheiros, mas no longínquo Pequim com temperaturas gélidas os nossos corações estavam aquecidos por simples e pueris sentimentos, sobretudo por um bom fogo que crepitava numa lareira acolhedora !

Boa noite, pois vou dormir confortado com pensamentos elevados e um astral alto. Amanhã tenho outros assuntos igualmente relevantes com que ocupar a mente e a vontade, mas mais prosaicos.

Aventuras no Rio Yang Tsé


Fui de manhã para fora de Pequim para o interior do campo chinês.

Estava um dia lindo de sol e muito frio. Havia neve por todo o lado que cobria os telhados feios e pobres de aldeias sem interesse e nem sequer pitorescas.

De repente surge uma vereda muito verde que conduzia a um rio, o famoso Yang Tsé, que eu desci de barco há uns anos e que é uma maravilha, pois as ravinas que estão desenhadas nas aguarelas chinesas banais que retratam as suas margens, são exactamente assim. O verde pendente, as árvores frágeis recortadas e sobretudo o caudal forte e generoso que vai regando tudo por onde passa através de canais laterais sabiamente traçados há milénios.

Recordo que fiz esta viagem com um amigo que falava razoavelmente cantonês o que nessa zona equivalia a zero! Estávamos entregues à sorte e à curiosidade da aventura.

Por essa via tinha nadado o Camarada Mao com um milhão de chineses atrás dando origem à Revolução Cultural.

Num determinado ponto do rio o barco acostou e éramos suposto apanharmos um avião interno num aeroporto rústico com cadeiras de ratan, incómodas e sujas.

Os nossos companheiros de viagem marítima mal tocaram a costa, puseram-se a andar para as suas aldeias e ficámos os dois feitos que nem imbecis à espera do anúncio da partida do avião, na dita aerogare.

Deitámo-nos nos ditos móveis de ratan e de súbito ouvimos no altifalante um aviso que pareceu ao meu amigo – disse-o com um ar perfeitamente convencido – que o voo estava atrasado.

Como nada havia a fazer, deixámo-nos adormecer e quando acordámos já era noite e nem vivalma. Até os grilos falantes se calaram.

Passámos a noite meio enregelados e fazendo rondas de vigilância de pouca vantagem, pois nada seguramente se iria passar. Explorei os arredores quando havia luz e tirei uma séria de fotografias excelentes com uma máquina que tinha comprado em Macau – uma extravagância cara – pois era uma Olympus OM2, o rolls-royce da sua categoria!

Conclusão: só dois dias depois apareceu o teço-teco para nos buscar, e era esse o aviso que tinham dito ao microfone!

Voltando à vereda de hoje, fui avançando devagarinho fotografando flores ainda molhadas da neve com reflexos da luz como se fossem cristal a brilhar.

Junto à margem, estava uma menina chinesa pequena, talvez de uns 7 anos, com um ar muito carinhoso e doce e com um olhar brilhante. Um esplendor para modelo de uma fotografia. Sorri-lhe e por gestos pedi-lhe se podia fotografá-la a que acedeu.

A cara tinha umas feições muito correctas, mas estava um pouco desgrenhada e suja. Tirei umas placas de lado recortando o perfil que era muito assimétrico e bem equilibrado.

Depois mandei-a voltar o pescoço para mim com o corpo para a frente. Isto exigiu que esticasse o porte e saiu soberba: um olhar fixo em mim, mas com senhoria e humildade.

Tirei-lhe mais umas fotografias às mãos, alvas e bem mantidas e fi-la agarrar as flores de um choupo….Renoir, ou Monet!

Voltei apressado a juntar-me aos meus companheiros de empresa que me consideram um bem humorado e um pouco excêntrico, o que não é senão a pura das verdades.

Peguei numa nota de 100 yuan e enrolei-a devagarinho na mão dela como se estivesse a fazer uma carícia e vi que ela me seguiu com o olhar…

Regressei de imediato ao puro e duro mundo dos negócios e dirigimo-nos para um restaurante local.

olho de peixe ao vapor em Beijing


Acabado de chegar ao Aeroporto de Beijing e já cá fora da zona de passageiros, esperava pacientemente que o motorista da empresa e um dos quadros chegasse para me buscar e levar para o hotel.

Apesar de ser Domingo, havia bastante movimento e de todos os destinos chegavam familiares que vinham para o Ano Novo Chinês e eram recebidos por residentes.

Uma Mãe dos seus 50 anos, a cujo encontro foi um filho e uma pretensa nora: um abraço apertado encostando as caras um ao outro, um brilho rápido de alegria nos olhos do filho e um cumprimento correcto e um pouco formal da rapariga.

Um namorado fardado de militar, com cerca de 25 anos e uma namorada a chegar: um sorriso e um pegar nas malas e ajudá-la a transportá-las.

Quando vivi e trabalhei em Hong Kong e Macau, constatei que os chineses não são de beijos. Estes dois casos confirmaram uma secura ancestral: mesmo a pele é seca e nada oleosa ou com o brilho ocidental ou africano, os cabelos são finos e ralos e não têm pêlos em sítio nenhum!

Mesmo as “estudantes” que na rua me abordam, perguntando se quero ir beber um café, sendo novinhas têm pouca sensualidade, acho eu! Ele há de tudo, convenhamos!

Uma delas a quem perguntei quanto me custaria o café respondeu que dependia e eu respondi-lhe que nunca tinha pago cafés! Riu-se e com um ar malandro, disse-me de caras que era para o hotel que queria ir comigo, mas que não levava nada!

E é isto a China que avança em passos curtos: proibindo o acesso ao facebook, que não me faz falta nenhuma para dizer a verdade pois tenho dias cansativos e compridos, mas irrita a proibição! Claro que o Google tem velocidades lentas como retaliação da sua saída da China, não tenho acesso a páginas da internet que possam levar a sites de livre acesso, etc

As avenidas são gigantes, como se sabe, e está um frio de rachar: hoje fez -10ºC quando voltei a pé para o hotel depois de um jantar com uns amigos americanos num restaurante de “grill e charcoal”, para variar. Ando de gorro o que me dá um ar de uma farta cabeleira por debaixo…não sei se não vou adaptar aí no Ocidente: compro aqui barato, de várias cores para dar com os trajes que vista a cada dia!

Os pequineses que conheço profissionalmente e são de várias idades desde os de 23 a 50 anos, são incapazes de me levar a restaurantes “in” ou que façam sucesso: não estão nem aí – não sabem, pura e simplesmente! Sempre comida chinesa o que torna o hábito cansativo, por muito que os menus sejam “exquisite” e excelentes.

Ontem num jantar requintado, com um Vice-presidente da empresa, foi sopa de cobra, língua de caimão, peixe no vapor tendo o meu anfitrião servido o olho a mim, como prova de grande consideração…tive uma pequena indisposição, passageira quando pensei em esparguete com cabeça de chicharro…e devo confessar que o petisco era bom.

Cuidado pois, passei a apreciador de órgãos humanos! Blrrrrrrrr

Amanhã vos contarei mais peripécias!

No avião para Pequim


No avião para Pequim, sentou-se ao meu lado um francês. Durante a primeira meia-hora, cada um entreteve-se em silêncio. Eu pus em dia a leitura dos jornais económicos e do Expresso e ele esteve a jogar no iPad.

Reparei que olhava intrigado para o meu lado varias vezes e sobretudo para os jornais que eu estava a ler.

Às tantas perguntou-me se eu falava francês e eu respondi-lhe que sim. Fez um ar mais prazenteiro. Veio a pergunta que tinha adivinhado: em que língua estava eu a ler os jornais?

Disse-lhe que era em português.

Era bem educado e muito civilizado e começámos a conversar. Gabou o meu francês, com especial ênfase para a pronuncia e eu disse-lhe que em minha casa, em pequenos tínhamos tido uma nany inglesa e uma professora de francês.

Perguntei-lhe em que se ocupava e contou-me a sua vida fascinante que vos passo a descrever:

- era filósofo, chercheur que eu traduzo por pesquisador, especialista da civilização khmere, historiador, director da Escola Francesa do Extremo-Oriente, etc.

- eram-lhe mais familiares os mosteiros do Cambodja do que as administrações de empresas.

- teve um avô que fez viagens em missões culturais ao Tibete, tornando-se depois professor de tibetano e de filologia tibetana na Escola de Altos Estudos em Paris.

- aos 5 anos levavam-no a visitar as vitrinas das salas aonde se encontravam cálices cavados em tíbias e cortes de crânios humanos. Ele confessou-me que ficava fascinado e ao mesmo tempo sentia uma espécie de atracção e repulsa. Muito inquietante!

- tudo isto o marcou. Ao interromper a tese de filosofia que não progredia, procurou uma outra actividade. O departamento de línguas para a Ásia Oriental, acolhia inscrições para chinês e japonês mas havia muitos inscritos e poucas vagas. Não havia ninguém para o cambojano!

- inscreveu-se e começou a aprender, mas com todas as dificuldades inerentes. O país estava totalmente fechado ao mundo exterior e nas mãos dos
Vietnamitas. Aprendeu assim a falar de uma maneira livresca....comentou-me com muita humildade.

- no fim de contas disse-me que sabia dizer " gostaria de consumir uma sopa" e não "quero comer uma sopa", como seria o correcto!

-obteve uma licenciatura em cambojano ao fim de 10 anos e quis ter um mestrado e assim partiu para a Tailândia para os campos dos khmer vermelhos.

- quando anos mais tarde começou o degelo da Indochina comunista, foi contratado para duas missões no Cambodja - organizar um programa de pesquisas, e da conservação de manuscritos e abrir um liceu francês no Cambodja.

- o seu interlocutor era o Governo do Cambodja posto pelo Vietname. Em Phnom Penh o Ministro da Cultura deu-lhe um pavilhão no interior do pagode de Prata, num recinto a que chamavam " o museu do ex-palácio real e do feudalismo"!

- ele tinha as chaves do Palácio Real! Durante anos foi o único ocupante. Uma espécie de castelo abandonado com ervas altas por todo o lado.

- com o regresso do Rei Sihanouk ao poder em 1991, permitiu-lhe lá manter-se e encarregou-o da manutenção e da conservação dos manuscritos preciosos.

- dizia- se em ar de graça, contou-me ele, que o país estava dividido em três tipos de zonas: as minadas, as provavelmente minadas e as provavelmente não minadas! Quando mandava uma carta para Bangkok acabava por passar por Moscovo para controlo politico! O regime comunista instalado pelos Vietnamitas era absurdo no seu conjunto, mas mesmo assim nada se comparava ao KGB.

- o seu trabalho era o de recuperar os manuscritos preciosos sobre a historia do Cambodja. Não havia informações sobre as destruições selvagens. Visitou os mosteiros de Phnom Penh. Os monumentos de Angkor tinham sofrido pouco por parte dos khmer vermelhos e da ocupação vietnamita, mas os manuscritos tinham sido destruídos em proporções extraordinárias, em cerca de 98%. Com isto não só a memória como a cultura tinham desaparecido.

- o Cambodja é um pais bastante curioso, comentou-me, pois conta monumentos dos séculos VIII ou IX e também dos séculos XVIII e XIX. A única coisa que ligava o Cambodja antigo ao moderno eram os documentos - a maior parte religiosos - copiados e recopiados durante séculos, conservando-se nas bibliotecas dos pagodes.

- durante vinte anos , localizou, restaurou, registou, micro filmou cerca de 160.000 fichas, numerou-as e conseguiu reconstituir uma imagem bastante plausível da literatura do Cambodja.

- num estado de desorganização politica e económica desde o século XIV, o Cambodja, contrariamente à Tailândia, Birmânia ou Ceilão, nunca teve um poder central que impusesse regras jurídicas fixas. É assim um repositório magnifico de tradições, que continuam bem vivas ainda, acrescentou.

- em Paris, disse-me, encontram-se no museu da Arte Oriental, peças excepcionais, tais como as jogadoras de pólo, objectos funerários Tang de uma enorme sensibilidade - uma estátua com uma expressão muito doce da colecção Khmer, uma representação genuína da serenidade, concluiu.

Entretanto, ia escrevendo tudo isto no meu iPad, e o sono chegou para ambos.....

Combinei escrever-lhe e quem sabe, um dia destes, partir com ele e um grupo de amigos interessados na descoberta de um outro Cambodja!

Entretanto, este foi só o relato da viagem do avião....parece-me que ao sobrevoar a China novas descrições podem surgir, e eu escrevo sempre a comentar as minhas viagens.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um novo olhar sobre a China



The Quattrocento refers to the 15th century Italian Renaissance; ershi yi shiji - 21st century in Mandarin - can be used as a reference to the current Chinese renaissance and the way it is changing our world.

Arguably the most significant process of our time, China's renaissance is composed of three interrelated elements: economic re-emergence, socio-political transformation and intellectual reinterpretation of the Chinese tradition.

After last month's 17th National Congress of the Chinese Communist Party, and before the 2008 Beijing Olympics and the 2010 Shanghai World Expo, not one single day goes by without news, debates and comments on China; confronting such a profusion, one risks taking short-term variations or trivial fluctuations for long-term tendencies and losing any sense of pattern.

One question can help us focus on what really matters: Are Westerners ready to adjust to the effects of the Chinese renaissance? In other words, is the West prepared for a century with Chinese characteristics; is it ready for the ershi yi shiji?

Understanding the China factor

Fourteen years after the collapse of the Qing Dynasty (1644-1911), the writer Lu Xun was asking in his essays: "When are we going to stop bringing new bricks to the Great Wall?" A defensive construction built and consolidated through the centuries to protect the empire from the invasions of the nomads, the Great Wall could also be seen as the symbol of an immured Chinese mind. In 1949, China fully recovered its sovereignty; in 1978, Beijing adopted the opening-up policy - today, the Great Wall is a tourist attraction.

In a process of unprecedented magnitude, one-fifth of mankind, different from the mainstream (the West), is entering the world stage. While Western scientific and economic modernity will continue to have influence on China - Beijing's overall strategic goal is modernization - the Chinese world will have considerable quantitative and qualitative impact on the global village.

Americanization was a distinctive feature of the 20th century; the 21st-century global citizen's identity will have Chinese characteristics. The West, on the rise since the 15th century and which, through its American version, still dominates world affairs, will have difficulty conceiving and accepting that it will not anymore unilaterally dictate the global agenda; that it will have to adjust.

To look at China without passion requires constant intellectual vigilance. One has to avoid the idealizations of the Sinophobe or the demonization of the Sinophobe.

True, the People's Republic of China is a developing country that is, as such, facing considerable challenges. If one focuses exclusively on what has yet to be done to catch up with the developed world or on the various visible signs of Westernization within China, the idea of serious Chinese influence on the global village can appear illusory.

However, if one considers the scope of post-imperial China's metamorphosis (the collapse of the Roman Empire in the 5th century was followed by at least 300 years of disorder in western Europe), the speed of its transformation since 1978, while keeping in mind the Chinese empire's past cultural, economic and political centrality in Asia, the question of the Sinicization of the world makes sense.

The presupposition of the "China threat" leitmotiv is precisely China's capacity to influence on a massive scale our world system, but it also assumes that this impact will be negative. Between two extremes, "China fever" and "China threat", the analyst should stay rationally within the limits of what can be called the "China factor": China's opening-up means, to a certain extent, Sinicization of the world, a process that has to be integrated and explained and not adored or condemned a priori.

Modernization does not mean cultural alienation

But how could the global citizen be in any way Sinicized if tomorrow's China is radically westernized?

Looking at the young people in Dalian, Beijing, Shanghai, Shenzhen or Chongqing, it seems that Westernization is China's future. It gives Chinese students "face" to speak some English - more "face" if it is American English. On campus they practice sports popular in the west, and after graduation they would opt preferably for a career in a joint venture where the corporate culture is supposed to be Western - and the pay higher!

But it is necessary to put these trends into historical perspective. In China, snapshots can be misleading. One has to integrate different "clocks" and be attentive, behind shorter developments or even ephemeral fashions, to very slow movements, what Fernand Braudel called the longue durée.

Past interactions between China and what was foreign to it show the unique resilience of Chinese civilization. It has the ability to change without losing itself; it could even be defined by this singular capacity of renewal.

The Yuan Dynasty (1277-1367) and the Qing Dynasty (1644-1911) were established respectively by Mongols and Manchus. However, the only way for the "barbarians" - non-Han - to rule the empire was to adopt elements of the Chinese tradition. Immutable China is a myth - the long history of China is a succession of clearly distinct periods - but absolute discontinuity from one time to another is also a narrative.

Buddhism and Christianity have also been testing Chinese civilization's capacity to absorb exogenous elements. Entering under the Han Dynasty (Eastern Han, AD 25-220), Buddhism penetrated deeply into the Chinese world under the Tang Dynasty (618-907); but this penetration has seen the transformation of original Buddhism to fit Chinese philosophical and linguistic context.

In the age of European expansion, Christian missionaries spared no effort to convert Chinese people. The Jesuits' approach initiated by Matteo Ricci (1552-1610) was to engage as much as possible with China's elites; no one has ever understood the Chinese world better than the Sinologists of the Company of Jesus, but genuine European intellectual excellence failed to change radically the Chinese mind. How can one seriously believe that current superficial material Westernization in China - related to food or clothes, the introduction of managerial skills, the instrumental use of English, etc - is going to affect essentially Chinese culture?

China's technical and economic modernization does not mean cultural alienation. China is once again translating into its own context foreign practices and theories. Democratization might be unavoidable for the Chinese world - in fact, the process has already begun - but it will be a democratization with high Chinese characteristics, a very fortunate process indeed. One should remember the words of Alexis de Tocqueville (1805-1859) in Democracy in America: "I am well aware of the influence which the nature of a country and its political precedents exercise upon a constitution; and I should regard it as a great misfortune for mankind if liberty were to exist all over the world under the same forms."

Some external forms of the translation process can be a surprising accumulation of heterogeneous pieces. Look at a Sichuan-cuisine restaurant with Rococo furniture or at a Shanghai middle-class home where reproductions of European impressionists co-exist on the same wall with Chinese calligraphy. The sociologist observing China's mega society can interpret these unusual combinations as parts of a gigantic assimilation. One can also enjoy completed translations where the "original" fits perfectly into the evolving Chinese context; it is often the case in architecture, in urbanism or in design.

The resilience of Chinese culture cannot be separated from China's demographic vitality; they reinforce each other in what constitutes a virtuous circle. The very fact that China is the most populous country in the world is highly significant.

In the global community, fundamentally optimistic and life-oriented China will interact with various Western forms of nihilism; the culture of life and happiness will quietly prevail.

China and globalization

China absorbs, translates and regenerates itself vigorously. In 2005, Chinese people from Singapore to Beijing celebrated the 600th anniversary of the navigator Zheng He's (1371-1433) first voyage. These celebrations of the Ming Dynasty explorer, Asia's Christopher Columbus, were also indicative of China's current mindset: Chinese people can also be extrovert and do not intend to witness passively, beyond the Great Wall, the reconfiguration of the world.

Forty one years after the beginning of the Cultural Revolution nightmare, 29 years after Deng Xiaoping's decision to reform and to open the People's Republic, Chinese people are embarking on their "age of discovery".

In 2004, Parisians looked at a red Eiffel Tower in honour of Chinese President Hu Jintao's visit, which coincided with the "Year of China in France". The event "China in London 2006" was the largest celebration of Chinese culture ever seen in the British capital. In 2007, Russia welcomed its "Year of China". French journalist Erik Izraelewicz wrote a book whose title is When China Changes the World (Quand la Chine change le monde, 2005). China is succeeding in having non-Chinese framing the debate in a way that is advantageous to it.

Already 30 million non-Chinese are learning Mandarin. Beijing has opened Confucius Institutes (following the example of the Alliance Francaise, Goethe Institute or British Council) both to teach Chinese and to explain Chinese culture throughout the world. Chinese is already the second language on the Internet, with more than 100 million Chinese netizens. The Office of Chinese Language Council International (OCLCI) estimates that by 2010 100 million foreigners will learn Mandarin. In the science-fiction series Firefly, the characters use English and Chinese.

The Chinese central government also took the initiative to bring traditional Chinese medicine to the world. The first center will be in Bonn, Germany, and it will be followed by many more in Europe.

A global audience greets Chinese artists. Movie director Zhang Yimou (but also Taiwan's Lee Ang or Hong Kong's Wong Kar Wai ), composer Tan Dun, cellist Yoyo Ma, creator Cai Guoqiang and Nobel Prize winner Gao Xingjian are internationally acclaimed for their talent and creativity. Gong Li, Zhang Ziyi and Maggie Cheung have penetrated European or American imagination. Chinese design is enriching fashion. The idea behind Shanghai Tang, founded by Hong Kong businessman David Tang Wing-Cheung, is to "create the first global Chinese lifestyle brand by revitalizing Chinese designs". Many more will follow.

Chinese brands such as Lenovo, TCL, Haier, Huawei and ZTE are largely recognized worldwide. In the 2004-05 academic year, China sent more than 115,000 students abroad (62,000 to the United States). The World Tourism Organization predicts that by 2020, 100 million Chinese tourists will travel the world: the global tourism industry will have to adapt to Chinese characteristics.

China's direct investment overseas is rising rapidly. By the end of 2006, China made $75 billion direct investment in more than 160 countries. The 2008 Beijing Summer Olympics and the 2010 Shanghai World Expo will reinforce this momentum.

Almost exactly 100 years after of the end of the Qing Dynasty (1911), China will be once again at the centre of Asia, and in a position to challenge US unilateral domination over a world system in search of equilibrium.

The Chinese world is not only made up of the 22 provinces, five autonomous regions, four municipalities, two special administrative regions (Hong Kong and Macau) of the People's Republic of China, Taiwan and the highly Sinicized Singapore, but also includes in its largest extension a Chinese diaspora active worldwide.

This Diaspora - estimated at 50 million people - is not just about Chinese restaurants (although food and cooking are key elements of culture) or Chinatowns (perfect examples of Chinese cultural resilience far away from the Yellow River or the Yangtze); the notion of Chinese Diaspora indicates that China is not only a political entity related to a territory but, above all, a cultural expression already having global reach. Those who know Mandarin and, more importantly, written Chinese, those who can play by the codes of the Chinese culture, have, in fact, access to a network whose main hubs are in the Mainland and at its periphery but which is certainly not limited by traditional borders. The "sinosphere" is not only a transnational domain ideally structured to benefit from "a flat world" but also an accelerator of globalization.

Co-architect of the 21st-century new world order?

For the West, adjustment to China's renaissance requires modesty and intellectual curiosity. Are Westerners ready to learn from the Chinese civilization as Chinese people are ready to learn from the West? This is the precondition of a genuinely cooperative relationship. Seriously engaging China is to accept the very possibility of Sinicization.

The West, in a position of scientific and economic superiority since the industrial revolution, is used to treating China as a product of orientalism. For the majority of Westerners, China is either a museum - hence the surprise of many foreigners in China: "I was expecting something else!" - or a classroom: one has to lecture Chinese people on more advanced standards. The West has to reflect on these prejudices and to look at China as a living matrix of a civilization that is already reshaping our time.

If China proves to be an integrating factor in a world plagued by morally unacceptable, exclusive globalization, if China proves to be a laboratory where cultures can cross-fertilize in a world threatened by tensions between civilizations, one should rejoice to find a co-architect of the 21st-century new world order and to live at the very beginning of the ershi yi shiji.

by David Gosset - Rector of the CEIB'S (University in Shanghai for top Chinese students willing to work in the West and sponsored by the EU)

Teste de velocidade do TGV desastroso



O primeiro teste de velocidade do TGV na estação do Rossio, revelou-se desastroso! O TGV vinha a alta velocidade desde a estação de Campolide e não conseguiu travar!

O Governo deve tomar atenção, não vá também não conseguir travar....

Be a Gentleman


Moderation, decorum, and neatness, distinguish the gentleman; he is at all times affable, diffident, and studious to please.

Intelligent and polite, his behaviour is pleasant and graceful. When he enters the dwelling of an inferior, he endeavours to hide, if possible, the difference between their ranks in life; ever willing to assist those around him, he is neither unkind, haughty, nor overbearing.

In the mansions of the rich, the correctness of his mind induces him to bend to etiquette, but not to stoop to adulation; correct principle cautions him to avoid the gaming-table, inebriety, or any other foible that could occasion him self-reproach.

Pleased with the pleasures of reflection, he rejoices to see the gaieties of society, and is fastidious upon no point of little import.

Appear only to be a gentleman, and its shadow will bring upon you contempt:

Be a gentleman, and its honours will remain ever: after you are dead.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Colecção particular (4)

Colecção particular (3)




Colecção particular (2)

Colecção particular (1)


Inicio hoje a publicação de uma extraordinária colecção dos carros particulares.

pequenas alegrias


Muitas pessoas perdem as pequenas alegrias enquanto aguardam a grande felicidade.

Depois das Festas Felizes....



Agora que chegámos quase ao fim das festas é altura de pensarmos em "emagrecer" as despesas desnecessárias e encarar um ano de dificuldades.

Tantas vezes a renúncia fortalece a vontade e torna as comunidades mais unidas pela solidariedade.

Quer queiramos quer não, há que aforrar e saber parar a tempo pois como nesta barriga excessiva a cujo dono soube bem comer até encher, logo se verão os efeitos nocivos a posteriori que são sempre fatais!

Dois corpos, a mesma cabeça



É como às vezes nos sentimos...