terça-feira, 20 de julho de 2010

7ª Carta do meu primo Luis Bernardo (Michael Jackson)


Meu Caro Manuel,

Fui à procura de uma outra figura mais moderna: o Michael Jackson (MJ). Deixaremos para mais tarde Salazar e Álvaro Cunhal. Foram figuras de peso, sim, mas bafientas no final da vida, não pela idade com que morreram, mas pela permanência longa em que usurparam a condução de gentes e de ideais, cada um nos antípodas. Logo trataremos das suas muitas luzes e sombras, que as tiveram e com aspectos menos conhecidos.

Resolvi apurar sobre MJ não tanto o que todos sabem, foi escrito, registado ou testemunhado mas a sua perspectiva de uma vida turbulenta, aparentemente infeliz e de um tremendo e inegável sucesso.

A sua qualidade, mesmo para os cépticos deste tipo de música, tornou-o um ícone dos tempos modernos e achei que tinha interesse ouvir narrar “de dentro” a explicação de tantas atitudes e comportamentos discutíveis, que só o próprio pode esclarecer.

Começou assim por me falar da sua infância: sentia-se muito só no meio dos irmãos, com um pai autoritário e distante e uma mãe pendente da gestão de uma casa em que a desorganização, falta de dinheiro e uma vida agitada, o tornaram como um indesejado.

Esta sensação de exclusão, causou nele um desejo de se afirmar e aproveitando os talentos musicais da família, cedo se começou a destacar. Sentiu o ciúme, a raiva e a hipocrisia de se aproveitarem dele para melhorar o nível de vida e a fama.

Foram momentos em que os seus sentimentos de jovem adolescente se rebelaram contra a solidão e começou a fechar-se e a criar um alter-ego. Admirava-se a si próprio, às suas qualidades e dotes e fazia companhia a si mesmo.

A sua vida sexual de rapaz teve uma evolução complexada e como não se dava com amigos para além da carreira que tinha encetado, sentia-se bem num retorno à infância. Revia situações de carinhos maternos, poucos houve, mas inventava um instinto de protecção e de facto, diz-me, que não começou a crescer em maturidade emocional.

Mais tarde a sua inspiração foi a música que o preenchia e aonde se reencontrava, voando alto e transferindo o seu desejo de exibição e exteriorização para os cenários e roupas fantasmagóricos que criava, as melodias que dançava e as letras que cantava. Transfigurava-se e fortalecia-se.

Nunca teve jeito para os negócios e entregava-se a pessoas que o exploraram mas em que ele confiava cegamente até constatar que já não tinha meios para continuar a “sonhar”.

A droga, o álcool e o desequilíbrio emocional por viver tão isolado levaram-no, uma vez mais, a um excessivo egocentrismo. O afastamento da família e as relações frias que mantinha com alguns familiares, criaram uma repulsa interna sobre a sua origem étnica. Odiava a negritude e tudo fez para se tornar mais claro. Custou-lhe uma fortuna e teve acidentes de saúde que o tornaram num obcecado pela pureza dos ambientes em que vivia.

A sua destruição, começou, segundo me disse, quando nesse regresso à infância de que tanto gostava se passou a rodear de crianças com quem brincava, transportando-se ao seu mundo da fantasia.

A princípio era um desejo sincero e puro de os fazer felizes e as acusações de pedofilia muito o fizeram sofrer.

A sua versão é a de que o continuado tratamento carinhoso que dedicava, a proximidade física e convivência foram-se transformando em paixão desequilibrada e pela sua carência afectiva, tentou encontrar nessas crianças alguma compensação.

A decadência física e os anos a passarem desprovido de tudo o que deveria ser uma vida saudável que lhe permitisse poder explorar o seu enormíssimo talento, tornaram-no dependente de barbitúricos.

A terminar, confessou-me que a morte foi para ele um grande alívio pois tinha a consciência que deixava uma obra inigualável mas já não tinha forças para enfrentar a falta de saúde, a ruína, o descrédito e a perca da fama.

Este concerto que tinha programado já era, segundo ele, um esforço titânico que estava a fazer e sabia que seria problemático pois a imagem que tinha construido, iria ficar prejudicada.

Arrependeu-se de ter começado a sua preparação e disse-me que a sua morte veio no momento certo pois tinha que ser polémica e chamativa, como tinha passado a ser a sua vida desde muito cedo.

Os génios têm que acabar em glória, acrescentou, e a memória que deixou foi ainda a de alguém que mereceu os tributos que de todo o lado lhe prestaram.

Aqui tens o exemplo acabado de um ser humano que seguiu o curso da sua vida, em total liberdade sem que se lhe tenham sido postos “obstáculos divinos”!

Perguntarás se de acordo com os dogmas terrenos, se “salvou” ou “condenou”?

Cinza, pó e nada? Interessa alguma coisa?

Interessa sim, em termos humanos, a excelência da sua música, a genialidade da sua dança e os momentos de qualidade, felicidade e prazer que soube dar a tantos outros seres humanos.

Pagou bem caro na terra, tudo quanto fez de menos elevado!

Está por aqui, no inferno? Talvez a entreter os diabos, dançando no meio das chamas! Continuaria a ser seguramente, um grande ARTISTA!

Teu primo muito amigo

Luis Bernardo

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