sexta-feira, 16 de julho de 2010

3ª Carta do meu primo Luis Bernardo




Meu Caro Manuel,

Encontrei hoje a Brites de Almeida conhecida aí na terra como a “padeira de Aljubarrota”. Disse-me que era feia, grande, com os cabelos crespos e muito, muito forte e que tinha um comportamento masculino.

Contou-me que nasceu de uma família pobre e humilde e que em criança preferia mais vagabundear e andar à pancada que ajudar os pais na taberna de donde estes tiravam o sustento diário.

Aos vinte anos ficou órfã, vendeu os poucos bens que herdou e meteu-se ao caminho, aprendendo a manejar a espada e o pau.

Narrou-me que houve um soldado que, encantado com as suas proezas, a procurou e lhe propôs casamento, mas ela, que não estava interessada em perder a sua independência, impôs-lhe a condição de lutarem antes do casamento.

Como resultado, o dito soldado ficou ferido de morte e Brites fugiu de barco para Castela com medo da justiça, mas o barco foi capturado por piratas mouros e foi vendida como escrava.

Conseguiu fugir para Portugal com outros cativos numa embarcação e referiu-me que procurada ainda pela justiça, cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve, mas um dia, cansada daquela vida, aceitou o trabalho de padeira em Aljubarrota e casou-se com um honesto lavrador...tão forte quanto ela, segundo me afirmou.

A 14 de Agosto de 1385 com os clamores da batalha de Aljubarrota, não conseguiu resistir ao apelo da sua natureza. Pegou na primeira arma que achou e juntou-se ao exército português que nesse dia venceu os castelhanos.

No fim da batalha, chegou a casa cansada e ouviu um estranho ruído: dentro do seu gigantesco forno estavam sete castelhanos escondidos.

Pegou na sua pá de padeira e matou-os logo ali.

Confessou-me que acabou os seus dias em paz junto do seu lavrador.

Passei pelos teus Pais e falei-lhes desta nossa correspondência.

Disseram-me que desde pequeno foste um contestatário e que as conversas e discussões sobre temas importantes, acabavam sempre da mesma maneira: o teu Pai indo deitar-se pois tinha que operar na manhã seguinte e a tua Mãe e tu ficavam até desoras num desassossego de trocas de impressões como se se tivessem zangado para a vida….acabando num grande beijo de boa-noite e num enorme prazer de realizarem que as divergências podem ser saudáveis, quando verdadeiramente se ama.

Acharam a maior graça ao meu encontro com a padeira de Aljubarrota.

Prometi-lhes ir dando notícias tuas e combinámos procurar tantos outros que ainda não encontrei e de quem eles já me falaram.

Ninguém se interessa aqui pelo que se passa no presente aí na terra, imagina tu! Só pelo passado, o que faz sentido pois já não estamos aí e o que sabemos da terra foi o que vivemos.

Curioso, no entanto, que o passado terreno é visto a uma luz por assim dizer do que foi a realidade positiva: já não interessa apurar, investigar e escalpelizar o negativo das situações com as características terrenas da intriga, do ciúme, da perícia e do interrogatório.

Há um parque maravilhoso das boas memórias do passado e foi aí que eu encontrei a Brites.

No fundo é como se fosses a uma biblioteca terrena e escolhesses um livro sobre um tema, só que aqui é diferente e usei esta expressão para te tornar mais clara a compreensão desta sensação de tranquilidade e bem-estar, outra vez em termos terrenos, de que aqui desfrutamos.

Quanto às tuas perguntas, mais uma vez simples de responder.

O sentimento de perca é compreensível, desejável e significa amor. Mas, ao contrário do que vulgarmente se diz, deve somente limitar-se ao horizonte terreno, ou seja a falta que alguém te faz é porque não podes mais estar com, falar sobre, repartir a vida, os bons momentos e os prazeres.

Essa bela palavra saudade, significa um desejo de proximidade em termos terrenos e o sofrimento sentido é por tudo quanto a qualquer pessoa causa a ausência do outro.

No entanto, mais uma vez há panaceias terrenas para todas as dúvidas.

Deseja-se inventar, confabular e fazer acreditar, impondo, que se está melhor no céu, ou no purgatório e pior no inferno, que até tem labaredas, imagine-se!

E a boa-fé das pessoas absorve ou engole o sofrimento acreditando nestes cenários virtuais que são deixados propositadamente em nevoeiro vago, sem qualquer plausibilidade, a título de transcrições ou interpretações doutrinárias de livros sagrados, sejam eles a Bíblia, o Corão ou de outras religiões.

Já reflectiste bem quem os escreveu? Humanos.

Humanos que em determinados momentos quiseram ou precisaram de motivos fortes para conduzir povos para determinadas terras prometidas ou nirvanas, mas sempre com motivações humanas, das quais se salientam as políticas, de opressão tantas vezes, de guerras injustas…enfim o carrear de tudo quanto de mal tem demonstrado a Humanidade.

E no fundo, se atentares bem, só tens mesmo até hoje a ao momento em que te estou a escrever dois tipos de opções, pois NUNCA ninguém falou a ninguém sobre o que se passa para além da morte.

Se assim tivesse sido o mundo era outro, não achas?

Mas voltando por momentos às duas opções:

- ou a morte traz “cinza, pó e nada” e pouco importa se tens ou não credo, religião ou se és ateu ou agnóstico ou indiferente. É pura e simplesmente o pragmatismo duro, ou quiçá não, da realidade;

- ou seja o que for, não pode ser aferido, antecipado e conhecido, o que significa também que nada podes fazer para modificar o teu curso pessoal para além da morte.

Este raciocínio, faz-me entrar, no tema da fé, ainda que eu tenha já acima aflorado muitos argumentos para a comentar.

A fé em Deus, em Maomé, Javé, Buda, Allah e outros ícones que são adorados, venerados, respeitados não trazem nenhum prejuízo, pelo contrário, ajudam o Homem a encontrar algumas referências, nota bem no que te digo a seguir, ENQUANTO ESTÀ VIVO.

A beleza da fé ou da sua falta reside neste doce, suave, inigualável e irrenunciável princípio terreno do direito à liberdade de escolha.

Os desvios que existem são muitos como saberás e no passado tantas vezes discutimos: o mais abjecto e reprovável é condicionar a vontade das pessoas através da imposição de princípios pretensamente de amor e de virtude, quando no fundo cerceiam o desejo espontâneo de serem livres e decidirem como querem viver a sua vida.

Naturalmente, esta liberdade tem os limites impostos pelas comunidades HUMANAS, , e como referi na carta anterior, cada sociedade tem o que merece, o que escolhe, o que deixa que lhe impinjam nomeadamente os condicionantes morais, de fixação de normas de intolerância irracionais, injustas, contra a natureza humana e afastadas da realidade.

Tens exemplos transversais a todas as religiões desde a Igreja Católica, ao Islão, Budismo, Judaísmo e a tantas desta novas pretensas seitas religiosas que não são mais do que máquinas de fazer dinheiro explorando a boa-fé dos mais ignorantes.

São espartilhos, coletes de força que impedem o respirar de ar puro e até a visão de uma maior profundidade e leveza na análise da Natureza e das suas regras equilibradas e justas, sem interferência humana.

Falámos em aparições tantas vezes. Há-as para todos os gostos e variados destinos turísticos!

Com máquinas comerciais bem montadas, oleadas, dando emprego a muita gente.

Os orçamentos anuais resultantes dos óbolos, esmolas, doações, legados pios e heranças dariam para minorar as dificuldades de muita gente.

Mas a falta de seriedade nem está aqui: trata-se de defraudar todo o tipo de gente que a troco de promessas, nota mais uma vez fixadas por critérios humanos – o carneiro do holocausto e os pombos do Templo de Salomão, as velas de santuários, santinhos, medalhinhas e “águas bentas” de fontes santas ligadas às companhias abastecedoras locais que rejubilam por quem venda mais garrafões, de pivetes nos templos budistas, etc, contribuem para este grande embuste de pagar a prestações um lugar desconhecido no futuro.

Mas já alguém veio explicar como é o mapa da sala, para a escolha poder ser de plateia, 1º balcão ou camarotes, 2º balcão, geral e galeria?

E os preços quais são?

Tolos que estão a pagar caro sem saber o preço e acabam de pé na galeria!

Reflecte bem, as mensagens de todas as aparições, manuais, livros sagrados FALAM da TERRA com precisão e os seus líderes que através dos tempos as vão dirigindo, estatuem o que QUEREM que se faça, tantas vezes para interesses ocultos ou materiais e, sempre sem deixar respirar!

Impossível seres de um clube desportivo e não gostar da cor da camisola! É a expulsão.

E a liberdade de decidir pela vossa cabeça e não porque vos impõem?

Repito, nenhuma destas religiões fala sobre o futuro com certezas, porque pura e simplesmente NÃO SABEM!

Nada mesmo, e inventam de acordo com os seus interesses, numa espécie de campanha de sócios para verem quem tem mais para dominarem o mundo!

A terminar dou-te dois exemplos: um da religião católica e outro do islão.

Uma das aparições de Fátima falava da conversão da Rússia? Como?

Mas o que tem a ver com o futuro para além da morte? E que tal talvez ter-se aproveitado para contar a verdade ao detalhe, se existe a dita vida do depois, naturalmente, para aqueles que acreditam nessas aparições!

Porque será que Allah impõe no Corão que, entre muitos outros princípios castradores da liberdade, irracionais e desadaptados aos tempos que sempre foram evoluindo, as mulheres sempre tiveram que usar burkas para evitar que os homens caiam em tentação?

Tudo isto é um disparate que termina com a morte! Essa é que é a realidade!

Já me fui alongando, mas era imperativo que te refrescasse a memória do que tantas vezes, até um pouco desorganizadamente, íamos conversando.

Um abraço apertado

Luis Bernardo

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