quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O PENINHA REGRESSOU DOS AÇORES DE PAPINHO CHEIO

O PENINHA REGRESSOU DOS AÇORES DE PAPINHO CHEIO

Nada do que a Adélinha e o Peninha levaram como trajes para os Açores foi usado. Foram recebidos por um primo do Peninha, um tal de Gonçalo Falé de Bittancourt, homem apalaçado, de posses e vivendo numa mansão na Ribeira Seca.

Imensos móveis tipo séc ( mas dos verdadeiros), retratos de antepassados pendurados nas paredes de 3 salões, elas de barbinha fina e um buço abigodado, eles loiros de olhos azuis com um ar efeminado, mas o primo disse que era da raça de onde provinham quando aportaram ao Arquipélago: as ilhas Faroé.

Adélinha não parava de perguntar porque não tinham televisão, não havia rendinhas em cima das cómodas nem bonecas vestidas de trajes brilhantes em prateleiras, os pratos não eram dos cafés Delta e os copos da Coca Cola. Tudo em cristal da Boémia e os vinhos que o primo servia das caves de Vizela no Continente. O Peninha que tinha mais sensibilidade para os brasões, assegurou à Adélinha que o vinho era do Visconde de Vizela (com uma cabrinha desenhada), um título muito antigo talvez mesmo antes dos Visigodos!

No fim do jantar como não havia a “pantalla” nem telenovelas para ver, o primo Bittancourt mandava vir um rancho de Ribeira Seca para cantar, mas tanto Adélinha como o Peninha, adormeciam rapidamente, pois não percebiam peva do que estavam a ouvir. Saíam assim umas notas em forma de uivos de lobos…

Quando a troupe partia lá acordavam os dois estremunhados e o primo começava a contar a história da família.
Veio no barco uma Ursulina, mulher de má-vida que como rameira que era a todos servia e quando desembarcou esgotada da viagem…logo ali pariu uns pares de gémeos que foram os primeiros habitantes das ilhas, com corvos que já lá existiam desde a criação do mundo.
Uma das pequenas que nasceu, era esguia e magra e para crescer foi mandada para uma ilha mais amena e central a que deram o nome de Ponta Delgada, pois a menina que era delgadita, passava-lhe os dias numa ponta da ilha a cismar.

À Ursulina enfiaram-na numa aldeia viçosa para recuperar mas já sendo entradita de idade e depois de tanto parto e ante-parto na viagem de barco, secou. Chamaram por isso à povoação aonde ficou de Ribeira Seca.

Peninha e a Adélinha sentiram-se orgulhosos e perguntaram então se não podiam usar no dedo mindinho que adoravam espetar quando bebiam chá, um cachucho igual ao do primo. Bittancourt aí achou que era topete, mas não querendo desfeiteá-los, prometeu-lhes no dia seguinte levá-los a uma loja de anéis.

Foram deitar-se muito animados os dois e dormiram agarrados um ao outro felizes e contentes.

De manhã a mulher de Gonçalo Bittancourt de uma família local de origem modesta, de apelido de Saldanha e Bolama e Victorino, levou-lhes ao quarto uns trajes típicos e lá saíram de carro em direcção a Ponta Delgada.

O fito do primo era levá-los à loja do chinês e lá sugerir uns anéis vistosos para os dois. Eles não tinham percebido o que estava gravado no anel do Gonçalo assim que lá chegados, o chinês cheio de mesuras pôs-se à disposição do fidalgo.

Para a Adélinha, Bittancourt escolheu um camafeu e quando ela lhe perguntou quem era a mulher representada no anel, a resposta foi de que era uma antepassada romana. Adélinha encheu o peito de orgulho.

Para o Peninha, tinham acabado de chegar uns anéis com pedras brilhantes falsas de cores variadas e com gravações dos signos chineses. Bittancourt disse-lhe que escolhesse o anel com o símbolo do macaco, pois a família descendia de um colateral de um antropopitecos troglodita, que dera origem à nobre estirpe.

Claro está que no centro da cidade eram o alvo da chacota de todos, micaelenses e estrangeiros, pelo uso dos trajes inapropriados ao calor que fazia.

Os dias foram passando. Iam à praia e Adélinha trouxera um bikini de tamanho inferior ao dos seus seios gigantescos e a cada momento, quando eles saíam para fora do exíguo tecido dava uns repelões para ajeitar a carniça. Peninha trouxera uma tanga à Tarzan e uma parra à Adão, de forma que se via bem torneado o sexo, coisa que na praia era muito comentado pelas donzelas magalonas, sem ele se aperceber.

O primo modificara-os quase totalmente:

- não arrotavam alarvemente e quando saía um som mais ousado, punham a mão anelada em frente da boca e diziam : - com licença ou perdão!
- no fim do almoço armavam uma barraquinha com a mão anelada em frente da boca e escarafunchavam com palitos entre os dentes o resto da comida;
- o primo dissera-lhes que era deselegante comer com a boca aberta e falar ao mesmo tempo, de modo que eram parcos nas conversas, mas no fim não dispensavam uns estalidos da língua a mostrarem o apreço pela comida chupando e fazendo barulho entre os dentes.

Enfim chegou o dia da despedida e vieram os dois gordos e anafados, rosados de carnes e contentes como uns cucos.

Mal chegaram, descansaram, dormiram e no dia seguinte partiram de carro em direcção a Paços de Ferreira, a capital do móvel, para renovarem a mobília toda.

Isto era apenas o começo. Deram os tarecos velhos para a paróquia e já falavam em comprar uma bibenda em Massamá, passe a publicidade.

Foram, pode dizer-se, umas férias chics a valer.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Instantâneo com Fernando Pessoa

Instantâneo: Chiado, em frente à Brasileira. Senhor idoso com um ar convencido senta-se ao lado de Fernando Pessoa.Dá ordens à esposa:
- tira-me uma boa fotografia com o gajo. Deve ser importante!
Apresentei-me:
- Luís Paixão. ( Meu nome de incógnito)
Retorquiu: - Anacleto Bemposta.
Eu: - ouvi o seu comentário. Não sabe quem é Fernando Pessoa?
Ele, impertinente: E o senhor tem alguma coisa a ver com ele?
Eu: - Como o meu nome indica, tenho uma grande PAIXÃO!

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O PENINHA VAI PASSAR 10 DIAS AOS AÇORES


O PENINHA VAI PASSAR 10 DIAS AOS AÇORES

O Peninha e a Adélinha vão passar uns dias aos Açores a casa de uns amigos do Inatel local.

Ao fazer a mala a Adélinha, sem a menor noção de como é Ponta Delgada leva brocados, sedas, veludos e jóias falsas compradas no chinês e até espartilhos. Sapatos de verniz com saltos altos, vestidos compridos com decotes generosos mas coitada, serve-lhe de pouco pois como cantava Luiz Vaz, “o alvo peito branqueando” já está na cintura…bem compra soutiens alçados nas lojas dos paqui, mas com o peso ficam os seios espetados mas no rés-do-chão…ahhaha

O Peninha, leu umas coisas no Correio da Manhã e sabe que há romarias e festas de Verão nas povoações e lembrou-se de ir à campino de camisa branca, colete encarnado, uma faixa vermelha que usa na cintura, calça azul, meias brancas até ao joelho, sapato preto com esporas, uma jaqueta que coloca sobre o ombro esquerdo e por último o seu bastão (pampilho) que comprou no Ribatejo.

Para o caso de haver assim uma festa mais formal e dado que assistia à Adélinha, que nem uma doida, a encher a mala de viagem com roupa como se fosse cantar a S.Carlos, empacotou o smoking com um laço garrido e uma camisa de folhos.

Vão na AIR BERLIM, num voo muito barato às duas da manhã pois essa é a hora dos voos low-cost, e por isso foram deitar-se cedo.

Prometeu contar as aventuras.

Bon voyage casal Peninha!

Instantâneos

Instantâneos:

Vou de carro para o Chiado, não me apetece ir de metro. Algum trânsito junto à Misericórdia. Dois polícias barrigudos e velhos assistem impávidos à bagunça. Como é possível a esta hora camiões de descarga de mercadorias impedirem o trânsito? A autoridade não controla, não mexe um palmo a barriga. Apetece-me sair do carro, dirigir-me aos polícias e apresentar-me: fulano, tenente de cavalaria na disponibilidade e depois esbofeteá-los com as luvas até me cansar!!! Sigo para o parque do Camões e vejo na placa de peões em frente ao Loreto para atravessarem a rua, magotes de estrangeiros. Impressionante! Será que merecemos este boom?

Depois em frente do Paris em Lisboa impedindo a passagem, um guia espanhol rufia, rodeado de uns 60 castelhanos devia dizer coisas chistosas pois riam-se que nem uns alarves! Não é em vão que um meu Avô, Dom Thomaz de Noronha, Conde dos Arcos, foi um dos Conjurados de 1640! E mais outros Noronhas e Távoras! Ainda desembainhei a espada mas dou de caras com o mesmo cenário em frente dos Mártires. Mudei de táctica e pensei num petardo Molotoff!

Entrei exausto com tantas emoções na Bertrand e sentei-me ao fresquinho. Entram umas francesas rascas com um guia de Lisboa na mão e perguntam ao empregado: - quantos metros são da entrada até ao fundo da loja?

A empregada ficou confusa.
Pus -me de pé e apresentei- me:
- Luis Paixão (meu nome incógnito) e em um perfeito francês de Versalhes, respondi: - a distância é de 1,5Km. Olharam para mim com surpresa e acrescentaram: - como sabe?
- não sei, inventei!
- porquê?
- porque a uma pergunta idiota, a resposta é estúpida.
E inclinando-me saí.

O que me espera ainda até à FNAC?

sábado, 5 de agosto de 2017

O PENINHA VAI DE FÉRIAS PARA AS TERMAS


O PENINHA VAI DE FÉRIAS PARA AS TERMAS

Finalmente o Peninha dispôs de tempo para ir de férias. Anda muito maçado, com mau feitio, embirra por tudo e por nada e Adélia, já não o atura mais.

O Peninha tem direito a beneficiar dos privilégios dos sócios do Inatel, pois um tio dele, irmão da mãe, o tio Ramón sendo cigano, acampou durante muitos anos junto aos muros de uma quinta de lazer do Inatel. Sendo boa pessoa e cordato, foi acarinhado desde miúdo pelo sr. Jacinto e a d.Pulcheria, vigilantes da propriedade. Educaram-no muito bem e tornou-se o Ramón num garboso mocetão que se engraçou da Maria Engrácia, filha do casal. Não tiveram filhos e deixaram tudo ao sobrinho, o Peninha, incluindo a inscrição perpétua no Inatel.

Assim sendo, todos os anos o Peninha e a Adélinha aproveitam de excursões baratas e passam uns dias de férias com outros sócios em grande confraternização.

Pois este ano escolheram um plano de férias duplo: uma cura de uma semana nas termas dos Cucos e a segunda semana na praia de Mira.

O Peninha, pela mãe, tinha sangue cigano e Dulce marcara nele as cores e o garbo de uma gitana salerosa que tendo vindo de Toledo para Portugal, tornou-se uma cantadeira de renome. Era conhecida como a Dulcineia, só não era de Toboso como a do don Quijote, pois a mãe era de carne e osso e muito bem provida.

Quando foi esta discussão toda sobre algum racismo étnico contra os ciganos por parte de um candidato autárquico, Peninha enervou-se e chegou a ameaçar partir-lhe os cornos, nas suas palavras. Mas tudo acalmou e ele bem merece descansar.

Ao preparar a mala pensou ao detalhe que roupa levaria para os dois tão diferentes sítios de vilegiatura e dividiu em dois o espaço, a saber.

Termas dos Cucos:

- roupa branca, calças e colete e um casaco de alpaca fina para pôr de manhã, depois dos tratamentos. No fundo era beber auguinha pura da nascente para as doenças venéreas de que ele não padecia, mas ficava bem dizer que tinha estado a águas. Um chapéu de palhinha clara com uma fita em seda azul escura dava o contraste. Procurou na sapataria Oliveira, ao Chiado, comprar uns sapatos adequados mas já não se fazem daqueles de duas cores: beijes como se fosse palhinha em cima e carneira à volta.
Levava lenços, um frasco de lavanda Ach.de Brito e comprara uma caixa de charutos da marca da Fábrica Micaelense para fumar a seguir ao jantar no terraço, ao fresco, sentado numa cadeira cómoda de palhinha.

Praia de Mira:

- vira umas tangas/sungas de Tarzan em saldo na loja de roupa dos chineses e comprou umas quatro de várias cores aleopardadas e achou que seria um sucesso. Levava umas camisas de manga curta, de marca Tony Carreiro, e nos pés umas xanatas brasileiras.

Para se entreter em leituras, pensou em várias alternativas que adquiriu na livraria local, aconselhado pelo sr. Medeiros que mandava vir livros ao desbarato sem fazer escolha e tinha-os para ali, sem esperança nenhuma de ter compradores. Fazia descontos ao Peninha para se ver livre deles.

Ora então, para a Adélínha não maçar e estar calada absorvida na leitura:

- série completa de 2016 da revista Maria;
- As Pupilas do Senhor Reitor;
e para um género religioso, a Vida e Obra de São Vicente de Paula, um calhamaço volumoso que daria ainda para as férias dos dois anos a seguir.

Para o Peninha:

- de carácter sexual: encontrou num alfarrabista uns 6 números da Gaiola Dourada do Vilhena. Histórias sórdidas, picantes, muito bem desenhadas…rijo a valer. Pensara fazer esta leitura ao fim do dia.
- alguém lhe tinha sugerido como leitura de informação económica, os Pensamentos de Adam Smith. Parece que era nele que o Governo se inspirava, nomeadamente o Ministro das Finanças. Sempre daria sainete nas termas a seguir ao almoço, adormecer com este livro nos joelhos e os passantes lerem de soslaio o nome do autor. Chic a valer…
- Finalmente assim para mais divertido na praia debaixo do toldo do Inatel, o Tio Patinhas em vários números.

Tudo arrumado, pronto para a partida de autocarro com os companheiros de férias, pensou consoladinho para si mesmo:

- Isto de férias divertidas, só no INATEL. E talvez em Mira, na praia ainda encontre algum político. Deixa-me mas é levar mais um livro de política, assim um que dê nas vistas. Hesitou entre o Mein Kampf e o Das Kapital e acabou por levar as memórias de Christine Garnier “ As minhas férias com Salazar”! Sempre seria mais equilibrado no Norte!