domingo, 13 de setembro de 2015

SÓCRATES E O FUTURO

Fui já há uns meses, na minha qualidade de voluntário da Cruz Vermelha para o sector prisional, convidado pela minha colega local para dar uma sessão de trabalho no Estabelecimento prisional de Évora. O eng.Sócrates, nesse dia não compareceu e creio que por razões próprias, pois tinha sido publicado nessa manhã nos jornais, mais uma das suas “complicações”.

Conheci-o em várias visitas de Estado para que fui convidado, como empresário, e guardei dele a memória de uma pessoa simpática, activo, e eficaz na promoção das empresas portuguesas que acompanhava.

Nessas viagens, não sendo eu seu íntimo nem do seu partido, constatei ser uma pena que os líderes, Chefes-de-Estado incluídos, não tenham um contacto mais desinibido com todos, revelando mais o homem do que o político. Bem sei que são muitos participantes e agendas intensas.

Vem tudo isto a propósito de ter vindo a ler uma série de comentários, artigos, reportagens, fotografias aéreas e terrestres…sobre a casa, as pizzas, os convidados e a vida pessoal do eng. Sócrates, na fase pós-Évora.

A minha experiência com reclusos que vale o que vale, apesar de serem de alta segurança e estrangeiros, leva-me a reflectir sobre o que eu sugeriria que o eng. Sócrates deveria fazer para se dignificar a ele próprio, não só porque tem família, foi Primeiro-Ministro do meu País e eu tenho orgulho de ser Português, como também para preparar o seu futuro.

Algumas dicas:

1. Ter a serenidade e categoria para falar menos, pensar no que diz e no que pode ou não causar como efeitos;

2. Ser natural, isto é, igual a qualquer outro português que ao tocarem à porta para entregar uma pizza que pediu, abre-a sem mistérios, paga ao "menino" que a leva, sorri para os fotógrafos e torna a fechar a porta…e já agora dando uma lição de normalidade à imprensa ranhosa de que este é um “non-issue” ou seja ninguém está interessado na pizza do engº Sócrates, que tem direito a comer como qualquer cidadão;

3. Depois, tentar exteriorizar sem raiva, ódio ou extremismos o que aprendeu durante o tempo de reclusão e solidão. Há tanto para transmitir e até dar exemplo. Só ganharia em reconhecimento por parte dos portugueses, de como aprendeu a ter mais humildade, a analisar-se e a ganhar eventualmente a simpatia de quem já o condenou na praça pública;

4. Se eu fosse Juiz do seu eventual processo, já teria à partida uma irritação imensa pela sua arrogância, temeridade em afrontar a Justiça, falta de maneiras como cidadão desrespeitando as regras aplicáveis para todos os outros reclusos, atacando irreflectidamente tudo e todos, prejudicando o seu partido e os socialistas e por último dando um péssimo exemplo internacionalmente, como foi tantas vezes referido, inclusivamente por jornais de esquerda;

5. Os reclusos que eu ensino, são todos pessoas inteligentes e com perfis diferentes do engº Sócrates, ainda que cada um é cada um, e a importância dos seus casos é impossível de comparar. Uma coisa é certa porém, nem eles próprios lhe têm respeito e criticam-no pelo seu desbragado ego, espalhafato e incumprimento das leis penais;

6. A falta de bom senso de Mário Soares e de outros destacados líderes socialistas em visitá-lo acintosamente, mais uma vez dando cobertura ao espectáculo mediático de que tanto gosta, vai causar-lhe de certeza um grande amargo de boca quando se apurarem os actos ilícitos que eventualmente tenha praticado. É como se quisessem pré-ilibá-lo de culpas, quando se sabe que só ele, engº Sócrates conhece o que fez.

7. Finalmente, se tivesse crescido interiormente e se dispusesse, quando falasse ou escrevesse, a espelhar uma outra imagem de arrependido e de capaz de recomeçar uma nova vida, só revelaria como vale a pena acreditar que muitas vezes a expiação, com sofrimento e solidão, é a única maneira de reabilitação.

1 comentário:

  1. Reconheço que sou provocador e maquiavélico e que vou irritar muita gente bolorenta...paciência! É de facto o que penso.

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