segunda-feira, 13 de setembro de 2010

os minutos mordem-me os calcanhares


Não é que eu tenha nascido noutro sítio.
Muito menos, que me preocupe o tempo
na sua beleza de abstracta redondez lunática.
É que os minutos mordem-me os calcanhares
formigas enfurecidas urgindo-me a fazer
a não me deter em função dos finais.

É muito certo
a pressa é um agulheiro na calma da insónia
uma muralha na planície dos sonhos
um bebedouro de ilusões que amiúde falham.

Não é que me avassale o medo do atraso
porém esvai-se-me a magia
perdi as fórmulas, os hieróglifos, as poções
a chave dos segredos que guardava
as coisas que o sábio confiou aos meus ossos.

Confesso
Cada vez sou menos eu
E mais o que vivi.
Por isso é que me apuro
para não chegar tarde
ao que realmente fui
quando tudo acabar.

Consuelo Tomás Fitzgerald

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