segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mentes inquietas


De autoria de Ana Beatriz Barbosa Silva, médica com pós-graduação em psiquiatria pela UFRJ e especialização em Medicina do Comportamento pela Universidade de Chicago, Estados Unidos.

Por ser uma obra densa e recheada de exemplos reais, colocarei aqui algumas coisas que me chamaram especial atenção numa visão geral deste livro.

Pessoas com sintomas típicos como desatenção, desorganização e atabalhoamento, muitas vezes são vistas como não tendo jeito e muitas vezes levam uma vida soterrada por críticas e culpa.

Mente Inquieta (cérebro com funcionamento DDA), não significa um cérebro defeituoso. Seu comportamento peculiar é responsável pelas suas melhores características, bem como suas maiores angústias. O livro aborda vários traços comportamentais de pessoas com mente inquieta.

Citarei algumas:

- Desviam a atenção por qualquer estímulo;
- Dificuldade em prestar atenção na fala de outros;
- Desorganização quotidiana;
- Dificuldade com actividades obrigatórias de longa duração;
- Interromper as tarefas no meio;
- Tendência a estar sempre ocupado;
- Costume de fazer várias coisas ao mesmo tempo;
- Hipersensibilidade;
- Instabilidade de humor;
- Tendência ao desespero;
- Depressões frequentes.

Para essas pessoas, é um desafio adequarem-se ao ritmo não-elétrico dos outros. Um caso real que achei interessante foi de um Contabilista que se sentia tolhido numa escada rolante. Para ele, escada rolante significava tortura, da forma em que ele a subia normalmente. Logo que a escada se movia, ele rapidamente chegava ao topo enquanto as pessoas aguardavam calmamente o movimento da escada.

São traços que como diz a autora, podem ‘cair mal’ para quem precisa trabalhar em funções burocráticas, rotineiras ou repetitivas ao passo que é positivo para quem exercita a criatividade como compositor ou artista.

Achei curiosa a abordagem da afectividade nessas pessoas: emoção em excesso e escassez de razão. São pessoas que amam intensamente no interior de suas mentes, mas não conseguem colocar em prática o que vivem em seus pensamentos. Muitas vezes, os seus parceiros nem sequer imaginam que são objecto de tão nobres sentimentos. Felizmente toda essa emoção tende a transformar-se em poesias, obras literárias ou músicas. Semelhante a um vulcão inactivo, a pessoa pode apresentar-se calma e tranquila externamente, mas por dentro, mantém-se agitado e inquieto.

A autora cita o nome de alguns famosos que apresentavam esses traços.

Citarei alguns:

Fernando Pessoa – Em sua obra há traços de inquietação, contradição, devaneios, dificuldade em seguir regras. (Como no poema “Liberdade”: Ai que prazer/ não cumprir um dever/ ter um livro para ler/ e não o fazer...) Criou por isso vários ‘eus’, os heterónimos, indicando uma personalidade inquieta e de humor instável.

Leonardo da Vinci – Uma mente movida por inquietação. Além de pintor, foi arquitecto, botânico, urbanista, cenógrafo, cozinheiro, inventor, geógrafo, físico e até músico. Deixou uma infinidade de obras inacabadas por começar vários projectos ao mesmo tempo, característica desse tipo de funcionamento mental.

Bethoven – Inquieto, polémico e incompreendido. Era acometido de devaneios e distracções, segundo seus amigos. Produziu obras geniais sem escutá-las. Elas brotavam de sua mente inquieta, imune à sua surdez.

Pessoas com este problema tem vulnerabilidade para desenvolver outros transtornos como TOC, Fobias, Pânico, Depressão, transtornos alimentares e de humor, para citar alguns.

A autora dedica um capítulo ao maior desafio: a difícil tarefa de dormir bem e orienta como relaxar um cérebro a mil por hora.

Em suma, Mentes Inquietas é um guia para quem apresenta esse funcionamento cerebral que mescla desafios vários com muita criatividade. A autora transmite uma visão optimista sobre o problema e uma variedade de recursos para tratamento. Tirei muito proveito desta leitura e por isso a recomendo.

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