quinta-feira, 1 de março de 2018

PENINHA ENTRE OS ESQUIMÓS



PENINHA ENTRE OS ESQUIMÓS

Peninha ia gozando docemente a presença de Nafta e Lina,ora uma vez no igloo de uma ora no da outra. Tinham acabado por aceitar a situação e Peninha tomara cores tisnadas e sentia-se um nababo.

Ia à pesca todos os dias com uns esquimós com quem fizera amizade, faziam um buraco no gelo, lançavam os iscos e vinha peixe fresco para a mesa a cada dia.

No acampamento dos cientistas a que ia a cada semana mandava mensagens urgentes para o IKEA despachar a mobília para o navio que estaria a zarpar. Ele eram armários, estantes, camas, bibelótes…ahahaah…e móveis de cozinha e loiças e talheres. Frigorífico e máquinas não eram precisas pois por um lado não havia energia e pelo outro havia braços a mais inactivos que tratavam dessas mordomias.

O IKEA respondeu que quando quis debitar a conta bancária, esta fora bloqueada pelo co-titular.

Raio da Adélinha que desconfiou de qualquer coisa. Nunca se deve ter contas em conjunto, pensou o Peninha. Acabou por recorrer ao crédito ao consumo pessoal que lhe iria custar mais caro mas não exigia a concordância da esposa.

Finalmente o IKEA informou que estava tudo resolvido e Peninha veio ufano mostrar o papel da mensagem ao Chefe da tribo. Claro que era como se fosse chinês pois ele não sabia ler nem escrever, mas ficou mais confiante.

Entretanto em Lisboa, Adélinha preparava a viagem surpresa que iria fazer a Peninha, só suspeitando que algo não estava bem mas sem fazer a menor ideia da tribo de esquimós e das Naftalina…ahahaha

Embarcou num navio de reforço da expedição e achou estranho que no meio do equipamento técnico e científico da carga, fossem muitos caixotes do IKEA. Teve curiosidade e perguntou se era para a expedição mobilar as casas aonde se alojavam, mas o imediato foi ver o bill of lading e disse que era para um sr. Peninha Silva.

Adélia ficou a cismar e fez-se luz no seu espírito quando percebeu que o montante da conta bancária conjunta que iria ser debitado e que ela em boa-hora bloqueara, era para pagar esta despesa.

Cada vez percebia menos e a única ideia que lhe veio à cabeça foi a de que Peninha arranjara um emprego no acampamento e ao ter que ficar numa casa com ela, queria dar-lhe todo o conforto que lhe poderia proporcionar.

A viagem decorreu sem incidentes e aportaram de novo no Ártico, no Polo Norte.

Adélinha tinha feito uma exuberância e tinha comprado na Rua dos Fanqueiros, um casaco de carpélio fofinho e quente com a aparência vaga de um casaco de vison. Sentia-se vestida apropriadamente para o clima que estava realmente de cortar à faca de frio.

Perfumou-se pôs um gorro de pele e desceu pelo portaló e chegando ao cais, não avistou o Peninha.

Ficou desolada e pensou que talvez estivesse ocupado e a viria buscar mais tarde.

O material do IKEA foi descarregado e posto em vários trenós gigantes puxados com cães que estavam prontos a partir para o seu destino.

Adélinha aproximou-se do escritório do acampamento e puxando do seu espanhol, dirigiu-se a um cientista escocês que estava sentado numa secretária e perguntou-lhe:

- Por favor, osté sabe onde estay mi maridio, sr. Peninha?

O outro olhou para ela pasmado de a ver naqueles preparos totalmente inadequados para o ambiente do acampamento e respondeu:

- I beg your pardon, Madam?

- Não, Peninha, yo soy su madama.

O outro chamou um técnico argentino que era ajudante de cozinha e que lhe perguntou:

- Puedo ayudar Señora?

A Adélinha respondeu, vindo cá de dentro num arremesso de uma avó peixeira da Nazaré das de sete saias e pondo as mãos nas ancas disse-lhe em voz já alterada e em bom português:

- Ou me dizem aonde está o meu marido o sr. Peninha ou parto os cornos a quem o está a esconder. Quero saber já.

Ao fim de algum tempo e de muita paciência do argentino, prometeu ir indagar e regressou dizendo que ele estava numa aldeia esquimó e se queria ir ter com ele, que aproveitasse a boleia dos trenós que iam para lá.

Escolheu-se um trenó que levava os colchões da cama e lá os puseram dentro de um armário com portas e Adélinha deitou-se e adormeceu protegida do frio durante a viagem.

Como estava cansada, pouco habituada a estas temperaturas, caiu em cima dos colchões e bem abafada com o carpélio/vison e o gorro dos chineses, adormeceu profundamente com o movimento dos trenós no gelo em que deslizavam.

Passado uma hora chegaram e Adélinha vinha no trenó detrás e continuou a dormir, enquanto descarregavam os caixotes do IKEA.

Peninha estava impante e toda a aldeia assistia impressionada ao cumprimento das promessas de Peninha e as Naftalinas encostavam-se sensualmente a Peninha, já agradecidas, excitadas e com olhos de promessas sem fim.

Chegou a vez do último trenó e surpreendentemente parecia que alguém estava dentro do armário e queria sair.

A porta abriu-se e sai Adélinha de gorro à banda, cabelo despenteado, e o carpélio/vison amachucado.

Quando encara com Peninha deu um guincho animalesco de fúria ao ver as Naftalinas agarradas ao esposo e avança para ele, que abismado não sabia o que dizer.

A tribo ficou surpreendida e o Chefe perguntou a Peninha quem era aquela mulher louca que tinha vindo ao seu encontro.

Peninha teve que lhe dizer que era a sua mulher do seu país, mas que preferia ficar com as duas filhas do Chefe, a voltar com ela.

As Naftalinas desapareceram assustadas e com o instinto de mulher perceberam que havia sarilho.

Ficaram os dois frente a frente e Peninha ajoelhou e numa lamúria pediu-lhe perdão pela traição e começou logo a congeminar um plano. Nessa noite dormiu cada um num igloo separado e a meio da noite as Nafatalina foram visitar Peninha que compensou as duas pelos susto e tranquilizando-as.

Fizeram amor até ao nascer do sol e elas esgueiraram-se e Peninha caiu num sono reparador.

Entretanto Adélinha acordara e dirigira-se ao igloo de Peninha aonde o viu a dormir. Esperou que ele acordasse e assim que o fez, começou num disparate de gritos a pedir-lhe explicações.

Ele jurou que não tinha havido nada e que sendo as filhas do Chefe tinha que as respeitar, não faltava mais nada. Tudo muito decente!

Adélinha começara a acalmar e perguntou-lhe se as mobílias do IKEA eram para uma casa aonde habitariam os dois. Peninha disse-lhe que sim e propôs-lhe ir conhecer um reef lindo e romântico que estava gelado sobre o oceano.

De mão dada iam avançando e a dada altura aonde o gelo estava mais frágil, Peninha pediu a Adélinha que se fosse pôr contra o sol mais para a frente para ele a admirar naquela paisagem.

Adélia seduzida pela ideia da reconciliação avançou com o seu peso todo para um pedaço de gelo que já apresentava fissuras e de repente o gelo partiu e Adélia mergulhou na água gélida do oceano e foi como um fuso para o fundo.

Peninha com remorsos ainda tentou gritar: Adélia, Adélinha filha, diz-me que estás aí para eu te salvar. E nada.

Adélia nunca soubera nadar e quando ia à praia dava uns gritinhos à beira-mar e nada de entrar na água.

Após uma hora o gelo voltou a fechar-se e o corpo de Adélia não mais apareceu.

Peninha voltou á aldeia e foi-se enfiar no igloo depois de ter explicado o sucedido ao Chefe.

Emborcou uma ou duas garrafas de vodka, e dormiu durante duas noites.

Quando acordou, estava bem disposto e começou a descarregar os móveis do IKEA e a montá-los na sua casa ajudado pelas Naftalina que de boca aberta nunca tinham visto tais belezas de móveis….ahahah

A vida continuou pacífica e Peninha sentia-se muito feliz até que um dia no seu igloo ouviu passos de fora, e quando abre a porta entra o fantasma da Adélinha.

(continua)

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