quinta-feira, 22 de março de 2018

O encantador de serpentes

O encantador de serpentes

Vem isto a propósito do dia da tua vida em que num gesto e num olhar
Me despertaste os sentidos. Apeteceu-me, logo ali, fazer coisas contigo.

Enquanto falavas observava a tua cara, os teus dentes e o teu sorriso.
Não atribuía nomes, pois o que eu sentia era o desejo de te conhecer e
Subir por ti acima, desde os pés à cabeça e possuir-te, sabes, com sofreguidão
Com o resfolgar impetuoso dos sentidos, despir-te loucamente, arrancar-te a roupa
Sem pudor nem contemplações.


Há lá coisa melhor que um beijo bem dado, bem trabalhado, sensual e lento, pensado.

No entanto, o tema não era este, era um trecho qualquer de poesia malparida que não me interessava.

Voltei a olhar-te e a cada som que saía da tua boca, a cada sorriso, a cada movimento das tuas mãos, voltava o desejo de te experimentar e saber como reagirias à minha imaginação fértil de prazeres imorais.

Antevia cada passo que daria para te conquistar, pois sou um encantador de serpentes.

De repente, cai a máscara da credibilidade. Tudo parecia estudado, repetido, como se fosse roupa velha, esquemática, aquela que punha em cada aventura sem fogo nem chama

Mas não era.

In “poemas dispersos” de Vicente Mais ou Menos de Souza

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