sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Clube aonde tive o jantar de despedida de Pequim




O Clube da minha empresa chinesa aonde fui jantar, é na zona dos Hutongs.

O nome de hutong – palavra da língua manchu cujo significado é "ruas estreitas", são aglomerados de vielas que começaram a ser construídos durante a dinastia Yuan, entre o fim do séculos XIII e princípios de XIV, para servir de morada a aristocratas e funcionários da burocracia imperial.

As casas originais dos hutongs chamavam-se siheyuans. Podiam ser mais ou menos luxuosas, mas tinham sempre um pátio interno, ao redor do qual habitavam mais de um segmento de uma mesma família. Aos empregados, eram reservados quartos próximos à entrada, numa inversão da planta actual dos apartamentos da classe média de qualquer latitude.

Alguns siheyuans foram restaurados e, hoje, funcionam como bons restaurantes e agradáveis pensões para turistas. Com as paredes avermelhadas, pórticos simples e telhados cinzentos causam no visitante um efeito desejado e lucrativo para o turismo local, atraindo numerosos visitantes.

Com o fim do Império e as reviravoltas seguintes, a maioria dessas casas seculares foi ocupada por trabalhadores.

Hoje, nas vielas dos hutongs, o pequeno comércio e os modestos restaurantes, acrescido do vaivém de bicicletas e ao clima de interioridade que se sente, com pessoas sentadas nas soleiras das portas, durante o Verão, dão uma impressão errada do que é a realidade e de como é difícil a vida para os seus habitantes.

Nos hutongs a apenas 2 quilómetros da Cidade Proibida, as vielas interiores vão se restringindo a corredores, e depois a passagens que não ultrapassam 60 centímetros de largura.

E os siheyuans, outrora senhoris, dividem-se e subdividem-se, para outra vez repartirem-se em dimensões impensáveis a um convívio humano digno.

Um chinês, que olhava indiferente à nossa visita da janela do que parecia ser uma cabine feita de tapumes, contou-me através do meu tradutor, que a sua casa não tinha mais do que 4 metros quadrados e que se reduzia a um exíguo espaço atulhado de objectos sem memória.

A sua morada, continuou, era a ínfima parte do palácio de uma princesa, onde havia décadas se “concentravam” 107 famílias – como todas as outras, sem quartos de banho, a não ser os comunitários.

Tal como os chineses dos hutongs, milhares de outros vivem nas mesmas condições na capital chinesa, mais fora do que dentro de casa, nas ruas e nos corredores exíguos de tais aglomerados, não tanto porque gostem da existência comunitária, mas porque não há casas. São compartimentos.

Os hutongs não produziram, não produzem, nenhum romance realista e muito menos uma realidade de romance.

Da contabilidade mutável que as autoridades se recusam a precisar, conclui-se que, em meados da década de 40, existiam 3 000 em Pequim. Em 1980, esse número havia caído para 1 300 – dos quais cerca de 400 ainda sobrevivem.

Trata-se, apesar do que acima refiro, de uma zona exclusiva e cara para ter imóveis, pelo que atrai de turismo.

O Clube da minha empresa chinesa é, na aparência da sua entrada, um edifício semelhante a um hutong grande, mas por dentro decorado com um luxo e comodidades de grande qualidade.

Com inúmeras salas privadas aonde se podem organizar reuniões e refeições, tem dezenas de empregadas chinesas que estão vestidas ao rigor do palácio Imperial.

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