sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aventuras no Rio Yang Tsé


Fui de manhã para fora de Pequim para o interior do campo chinês.

Estava um dia lindo de sol e muito frio. Havia neve por todo o lado que cobria os telhados feios e pobres de aldeias sem interesse e nem sequer pitorescas.

De repente surge uma vereda muito verde que conduzia a um rio, o famoso Yang Tsé, que eu desci de barco há uns anos e que é uma maravilha, pois as ravinas que estão desenhadas nas aguarelas chinesas banais que retratam as suas margens, são exactamente assim. O verde pendente, as árvores frágeis recortadas e sobretudo o caudal forte e generoso que vai regando tudo por onde passa através de canais laterais sabiamente traçados há milénios.

Recordo que fiz esta viagem com um amigo que falava razoavelmente cantonês o que nessa zona equivalia a zero! Estávamos entregues à sorte e à curiosidade da aventura.

Por essa via tinha nadado o Camarada Mao com um milhão de chineses atrás dando origem à Revolução Cultural.

Num determinado ponto do rio o barco acostou e éramos suposto apanharmos um avião interno num aeroporto rústico com cadeiras de ratan, incómodas e sujas.

Os nossos companheiros de viagem marítima mal tocaram a costa, puseram-se a andar para as suas aldeias e ficámos os dois feitos que nem imbecis à espera do anúncio da partida do avião, na dita aerogare.

Deitámo-nos nos ditos móveis de ratan e de súbito ouvimos no altifalante um aviso que pareceu ao meu amigo – disse-o com um ar perfeitamente convencido – que o voo estava atrasado.

Como nada havia a fazer, deixámo-nos adormecer e quando acordámos já era noite e nem vivalma. Até os grilos falantes se calaram.

Passámos a noite meio enregelados e fazendo rondas de vigilância de pouca vantagem, pois nada seguramente se iria passar. Explorei os arredores quando havia luz e tirei uma séria de fotografias excelentes com uma máquina que tinha comprado em Macau – uma extravagância cara – pois era uma Olympus OM2, o rolls-royce da sua categoria!

Conclusão: só dois dias depois apareceu o teço-teco para nos buscar, e era esse o aviso que tinham dito ao microfone!

Voltando à vereda de hoje, fui avançando devagarinho fotografando flores ainda molhadas da neve com reflexos da luz como se fossem cristal a brilhar.

Junto à margem, estava uma menina chinesa pequena, talvez de uns 7 anos, com um ar muito carinhoso e doce e com um olhar brilhante. Um esplendor para modelo de uma fotografia. Sorri-lhe e por gestos pedi-lhe se podia fotografá-la a que acedeu.

A cara tinha umas feições muito correctas, mas estava um pouco desgrenhada e suja. Tirei umas placas de lado recortando o perfil que era muito assimétrico e bem equilibrado.

Depois mandei-a voltar o pescoço para mim com o corpo para a frente. Isto exigiu que esticasse o porte e saiu soberba: um olhar fixo em mim, mas com senhoria e humildade.

Tirei-lhe mais umas fotografias às mãos, alvas e bem mantidas e fi-la agarrar as flores de um choupo….Renoir, ou Monet!

Voltei apressado a juntar-me aos meus companheiros de empresa que me consideram um bem humorado e um pouco excêntrico, o que não é senão a pura das verdades.

Peguei numa nota de 100 yuan e enrolei-a devagarinho na mão dela como se estivesse a fazer uma carícia e vi que ela me seguiu com o olhar…

Regressei de imediato ao puro e duro mundo dos negócios e dirigimo-nos para um restaurante local.

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