terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ai flores, ai flores do verde pino



Acordei às cinco e meia da manhã e apesar do ar condicionado, deixei de ter sono.

Levantei-me e fui para a sala e sentei-me no meu lugar habitual e deixei-me embalar por esta cantiga de amigo de el-Rei D. Diniz, que estudei nos meus tempos de literatura, e a qual estranhamente me veio em sonhos durante a noite:

Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?

Na lírica medieval galaico-portuguesa uma cantiga de amigo é uma composição breve e singela posta na voz de uma mulher apaixonada. Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo, com o sentido de pretendente, amante, esposo.

Ainda que todos os poetas medievais fossem homens, utilizavam o ponto de vista feminino nas cantigas de amigo, que têm como tema o erotismo feminino e os conflitos resultantes da ausência do 'amigo'. Caracterizam-se formalmente pela repetição.

Tem sido um Verão bem dramático de mortes de mais novos e mais velhos e no meu sonho de hoje, a minha aflição era a de saber aonde estão todos estes a quem tanto quisémos.

Mal sabia el-Rei Diniz que o seu cantar de amor poderia servir para exprimir este clamor no silêncio eterno do desconhecido que pergunta sem cessar:

Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?

Aonde estão?

Respondei!

2 comentários:

  1. Adoro o seu blog.Aqui sinto, na grande maioria das vezes (para não dizer sempre), cumplicidade.Questiona os assuntos mais sérios de uma forma extraordinária e os menos sérios (ás vezes umas graças ousadas) com a classe de quem pode tudo dizer e nada fica mal.
    Gostava muito de conseguir responder-lhe, pois também eu anseio por saber, onde estão aqueles que adorava mas que já não consigo ver e as saudades, ás vezes, fazem doer, não fazem?

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  2. Mas que bom, espero continuar a corresponder às suas expectativas. Obrigado.

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