quinta-feira, 21 de agosto de 2014

quando tu não estás


Quando tu não estás, sinto-te
em tudo quanto faço, digo, penso
pois é como se fizesses parte de mim,
não por abuso de te possuir obsessivamente,
mas porque és o meu sossego, o meu enlevo,
o prazer que não sendo só carnal,
me dá uma razão de existir no tempo e no espaço,
agora e aqui.

Quando tu não estás, sou e não sou diferente perante o mundo,
pois se a alma espelha mais este sentir profundo
que vem cá de dentro, e reflecte certezas de amor,
não muda de brilho o meu olhar para os outros,
a minha entrega é segura, precisa
e não cede aos apelos dos sentidos,
porque te tenho e me bastas.

Quando tu não estás, apago-me e faço-te o meu ídolo,
és tu que brilhas, que incendeias e acalentas sonhos
com quanta intensidade sou capaz de te fazer passar por mim,
e nas sensações que provocas pelo meu agir,
há esta pureza de saber que o faço por amor,
sem retorno e sem traição.

Quando tu não estás, qual amante velando pelo ser amado,
cuido no meu íntimo que o teu amor por mim é honrado e limpo
e que na lonjura da cidade onde mergulhas,
a saudade te fortalece a alma das sombras, dos medos e dos cansaços
e te esconjura da tibieza com que te seduzam,
pois o amor é frágil e mutável.

Quando tu não estás, tenho saudades das tuas mãos,
do meu olhar para ti que é o teu para mim,
do teu corpo em descanso no meu, lânguido e entregue,
dos teus beijos e jogos de amor, do teu eu tão intenso
e ao mesmo tempo tão inseguro do teu querer,
mas não estando estás, pois eu estou.

in poemas raros de Vicente Mais ou Menos de Souza


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