quinta-feira, 21 de agosto de 2014

as tuas mãos seduzem-me



As tuas mãos seduzem-me! Deixaste-me estirar ao teu lado
e amacias as palmas das minhas e no silêncio dos corpos nus,
entregamo-nos mútuamente, cedendo meigamente aos sentidos.

As tuas mãos seduzem-me! Quando as fechas nas minhas
sinto o bater do teu coração, que te pede a minha boca
e ao encontrar-nos nesse oráculo de prazer imenso,
saboreamo-nos lascivamente e em jogos de amor
de intensidade infinda, como que um bocadinho de nós passa para o outro deixando uma presença perene,
reserva de afecto que preenche as nossas solidões.

As tuas mãos seduzem-me! Quando me acaricias o corpo
e perpassas as pontas dos dedos sobre lugares ocultos de prazer,
é como que uma partilha de paixão e intensidade insana,
despudorada e escandalosa do encanto de sabermos
que somos um do outro.

As tuas mãos seduzem-me! Quando as nossas bocas em uníssono
buscam sofregamente os dedos ágeis um do outro,
que intrusos acariciam o santuário do desejo,
em gestos ao mesmo tempo sensuais
e de procura de um prazer simultâneo, então sim,
os nossos corpos encontram-se em toda a sua complementaridade, confundindo-se num só.

As tuas mãos seduzem-me e enchem-me não já os sonhos, mas são o bater real do teu coração no meu.


 in poemas raros de Vicente Mais ou Menos de Souza


2 comentários:

  1. A propósito de mãos, lembrei-me de um poema de Alda Lara, que li há muitos anos:

    ..."Dantes, quando o Atlântico nos separava, sentia as tuas mãos nas minhas.Agora, que tenho as tuas mãos nas minhas, sinto que o Atlântico nos separa."

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