terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Rubém e a Adèlinha - Noivas de Santo António


A Adèlinha confiou ao Rubém que se queria casar nas noivas de Santo António, pois havia uma bonita festa, davam o vestido de noiva branco, um almoço e muitos presentes úteis para a casa.

- Ó filha de branco? Isso até parece mal, mas se queres muito, seja – disse o Rubém meio indignado.

- O D.Plínio disse que tratava de tudo, pois como é da embaixada mete lá uma cunha na Câmbara. Em troca pediu-me que eu não o largasse e eu disse-lhe que vinha perguntar-te.

- Ó filha dá sempre jeito mais dinheiro para a casa, o que eu acho é que lhe devias pedir um aumento por causa do IVA, está tudo tão caro…minha malandra, tu gostas de brincar – disse o Rúbem já a pensar na Cátinha Alexandra. Assim ficava tudo na mesma e ainda se ganhava com o quiosque!

Acontece que a Adèlinha precisou que o Rubém assinasse um papel para o sr. Prior por causa das Noivas de Santo António e lembrou-se de apanhar o autocarro e ir ter com ele à oficina.

Nesse dia a Cátia Alexandra escolhera uma roupa janota. Tinha levado para a pastelaria um saco de plástico do Lidel com o traje que poria para ir ter com o Rúbem.

Ele contara-lhe das Noivas de Santo António, sossegara-a quanto a manter-se tudo na mesma e até lhe prometera nas férias uma ida ao Senhor Roubado, pois tinha aberto recentemente um grande armazém chinês cheio de coisas baratas mas muito jeitosas e ela ficara toda excitada.

Tinha comprado na capelista da esquina que vendia de tudo, um verniz côr-de-laranja que estava na moda das madamas da alta, e na loja do sr. Li de nome “Pérola do Oriente” uns brincos a imitar as arrecadas do Minho mas só que em vez de douradas eram com luzes fluorescentes, brilhavam muito, muito, o Rúbem havia de gostar! Ia estrear uma blusa de fios brilhantes entre o verde e o amarelo canário e uns shorts que quase deixavam ver as partes da vergonha quando se dobrava! 

Uns sapatos destes com uns saltos muita altos, que ela via no cabeleireiro nas revistas do coração e um perfume muito leve de uma marca que comprara na farmácia, chamado “Bien-être” que até tinha sido barato. Perguntara se era dos melhores e ela que sim, a framacêutica sabe destas coisas! 

Sem soutien, de peitaça a transbordar da blusa de malha como ele gostava…e sem calcinhas pois já era tudo tão apertado que já nem dava espaço…

A única coisa que lhe começava a chatear era ela ir assim de arrasar e toda lavadinha e ele estar sempre suado, cheio de óleo e com as unhas e mãos sujas. Fazia-lhe nojo quando ele a agarrava e tocava mas ele era tão quente…havia de lhe dizer que alugassem um quarto ali ao pé, com duche e tudo.

A Adèlinha estava encantada com o casamento e toda a cerimónia. O D. Plínio tinha sido muito amigo e ela sentia-se assim como uma dona, menos puta, sim porque estas coisas da igreja sempre davam respeitabilidade e ela havia de ser muito feliz com o seu Rubém.

Viu a porta da oficina entreaberta e disse para si mesma: horas extraordinárias! Coitado, trabalha sempre até tão tarde que só pode estar comigo nos fins-de-semana.

Entrou e pensou; vou devagarzinho para lhe fazer uma surpresa e até já vou começando a me desapertar. Hoje apetecia-lhe festa e havia de compensá-lo de tantos dias sem ela.

Luz meia mortiça no interior da oficina, um barulho como se fossem gritos que ora eram altos ora baixinhos, uns gemidos e uma chusma de palavrões “ meu cabrão, anda leão, mete-me essa mudança, puseste-lhe freios novos, arranca-lhe as pastilhas”!

- Mas querem ver co meu Rúbem está com uma gaja?

- Ah desavergonhada, ah desgraça da minha vida, hás-me de mas pagar. Ah que me lixas as minhas ricas Noivas de Santo António!

O Rúbem desprevenido fugiu para o canto e a Adélinha de sacola em riste vá de bater sem descanso na Cátia Alexandra.

Desfez-se o casório, a Adèlinha ficou com o D. Plínio e quiçá até bem melhor, e o Rubém acabou por enjoar o “Bien-être” e mudou de oficina.

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