segunda-feira, 9 de outubro de 2017

hey JUDE!

hey JUDE!

Hoje lembrei-me da minha Mãe, quando passei em frente da nossa casa do Estoril (a 1ª, a original em frente do Clube de Ténis que hoje é um magnífico centro de Congressos e a nossa antiga casa um prédio de ateliers de arquitectura).

Encontrei o Miguel Soares Franco na bomba do alto da Av.dos Bombeiros a lavar o carro como eu. Sempre fomos muito amigos desde os 8 anos para aí, e o Filipe também.

- Olha leio tudo o que escreves, disse-me com o ar manso e amigo que sempre lhe conheci, boa onda como se diz agora, sorridente e agradável. Falámos de alguns problemas que nos afligem, mais a ele e cada um seguiu para se por na fila para lavar o carro.

Fiquei a pensar que quando algum de nós partir a mão que apertámos com o vigor da ternura e da amizade ir-se-à desprendendo até ficar cada um com a sua. Tive já saudades desse momento, que estupidez.!

Mas voltando à Mãe, morávamos uma data de manos e manas e imenso pessoal e Pais e Avós e Bisavós nesta dita casa naqueles que foram os melhores anos da minha vida em Verões soalheiros, de praia, de ténis, de bicicletas, de festas, as chamadas “reuniões” e a vida corria despreocupada e feliz.

Numa conversa de 3 horas que tive sozinho com a Mãe uma semana antes dela morrer, ambos de mãos dadas, eu a disfarçar as lágrimas que não paravam de cair, de vergonha! a Mãe ia rememorando a nossa vida, os pequenos detalhes da minha infância, a cumplicidade entre nós, uns olhos ternos mas reprovadores das minhas asneiras e disparates, mas já sem tempo de julgar e se o fizesse seria de certeza com uma bondade infinita.

De repente, ergue o pescoço e diz com um fulgor nos olhos e a sorrir : - o menino lembra-se quando logo de manhã o Miguel (Soares Franco) vinha na mota e desafiava-os para saírem e o Pai acordava furioso e chegava à janela e dizia que ainda era muito cedo?

O Tio Ruy e a Tia Belita, tendo mudado de casa para as Areias que era longe de mão, tinham comprado umas motas a pedais para o Miguel e o Filipe que eram comodíssimas.

O código do Miguel para me acordar era o da música dos Beatles: - hey Jude! Que gritava/cantava até eu aparecer à janela, radiante, pronto para sair.

A Mãe não se lembrava do grito e eu disse-lhe baixinho e abanou a cabeça, assentindo.

Soube-me bem vir pela marginal devagar a olhar o mar, com um dia tão bonito e cheio de sol, I wonder como é que olhava tudo através de uma espécie de chuva branda e serena que saía dos meus olhos.

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