quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Deitar para cima por Miguel Esteves Cardoso

Já reparei que há bons amigos meus que desconfiam quando eu elogio uma empresa ou uma marca.
Na cultura portuguesa de desconfiança, dizer mal é prova de independência e dizer bem é prova de patrocínio.
Elogiar é o trabalho mais difícil e necessário que há. No meio de tanta merda - e de vidas tão curtas - dizer bem do que é bom (e se pagou sem favores ou descontos) é um acto de generosidade. Cede e partilha:  aproveitem esta oportunidade que seria melhor quanto menos fossem as pessoas a conhecê-la.
Já me ofereceram pouco dinheiro (10 mil euros) para fazer publicidade (da Sagres e da Netcabo) mas nunca me deixei corromper. Mesmo se fossem 10 milhões de euros jamais prescindiria da única coisa valiosa que tenho, para além do meu talento: a minha independência que, longe de ser um sacrifício, é o meu ganha-pão.
Dizer mal é fácil e, por ser quase sempre justo, junta muitas mãos na posição (e atitude) de suplicante.
Dizer bem é mais perigoso mas arrisca mais para ser útil para os outros.
É verdade que umas poucas empresas (no máximo 4, ao longo da minha longa vida) mandaram-me mercadorias boas depois de terem sido pagas e muito friamente elogiadas por mim.
Malcriadamente aceito e não agradeço. A minha liberdade, honestidade e dignidade são as únicas coisas que tenho para mostrar que mereço que acreditem em mim.
O resto é corrupção, subornos e angariações de influências.
A única pureza que subsiste é a verdade descontrolada das nossas almas.

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