sábado, 11 de outubro de 2014

serei um cavalo de crinas ao vento

Já se perguntaram o que lhes apetece mesmo fazer com a vida? Mesmo, mesmo? Não é depois de copos e charros, ou só copos.

É:
- no emprego cinzento e rotineiro,
- na casa de família aonde se dão mal com o cônjuge, ou mesmo que se não deem já viram tudo o que tinham que ver ou fazer,
- é na rejeição de um engate ou na constância de uma aventura que perdeu a graça,
- é no dinheiro que já não têm e que se foi em bancos maus,
- ou na viagem – agora é que é, em primeira ou executiva melhorada – aonde se chega cansado ao fim, quase da mesma maneira do que em económica?


E já repararam que quando se dão aos outros e se esquecem de si próprios, pelo menos no durante, a vida tem outro sabor, um cansaço merecido e reparador, uma aproximação à paz interior tão desejada?

Lê-se por aí os excessos dos bilionários, a pobreza gritante e a morte diária de inocentes em guerras e conflitos sem outro objectivo senão o de impulsionar as máquinas de armamento de cada país conflituante, com as comissões distribuídas pelos hipócritas dos políticos que apregoam a concórdia entre as partes.

Não acham que farta, não apetece ser um manifestante de rua de Hong Kong, tranquilo, idealista, arrumado e limpo, sem luxos nem grandes exigências para além de gritarem pela liberdade?

É nestes exemplos em que me revejo e aonde me sinto farto do capitalismo feroz e selvagem. Apetece fechar a loja e deixar de existir, pelo menos nesta vida.

Consultados os astros, numa nova encarnação serei um garboso cavalo de crinas ao vento.


In “poemas imaginários” de Vicente Mais ou Menos de Souza


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