quinta-feira, 15 de setembro de 2011

o repouso do guerreiro


Há quem seja pró-activo e quem seja uma pessoa passiva ou completamente inactiva. Conheço bem do que falo.

Tenho sido uma espécie de “birdwatcher” desde que me conheço, só que no meu caso trata-se de gente, às vezes uns grandes passarões, é bem certo!

Faço, aliás, testes um pouco desonestos intelectualmente para apurar do grau de atenção à vida, naquilo que considero o básico para comigo poderem interagir sem sobressaltos ou se quiserem, sem maçadas…

Convido a virem passear no meu carro, e passados alguns generosos minutos de conversa, observação das ruas, avenidas, passeios e gentes, pergunto:

- Viste a miúda com o lenço encarnado ao pescoço?

Na rádio, uma meia-hora depois, pede-se a quem tenha visto uma terrorista das “Brigadas Vermelhas” que avise a polícia. É isto!

Quem não vê, e estava lá, passa à categoria de não admitido na polícia, if you know what I mean!

Conversas fúteis, julgando os outros com frequência, radicalismo, ignorância, distracções de coisas relevantes da vida, tudo me afasta!

Ao revelar este pequeno e insignificante teste, reconheço que torno o lugar ao lado do condutor do meu carro bem vazio, ou talvez cheio de pouca, mas gente “valerosa”!

Vou dando cada vez mais, a maior das importâncias a não ter que perder tempo com coisas mesquinhas, minudências.

Acham que é arrogância intelectual. Seja.

Mas não me sinto na obrigação de ser sempre sorridente para toda a gente.

Pelo contrário, apetece-me chamar as coisas pelos nomes e dizer que não gosto de alguém quando tenha motivos para o sentir, ou pelo que me fizeram ou causaram indirectamente, ou falaram mal nas costas criticando com ou sem razão, enfim no fundo não aprecio quem goste de ser um mole, manteigueiro, querendo estar sempre de bem com “gregos e troianos”!

O contrário também é verdadeiro, ou seja, acho que se deve manifestar expressamente o amor, a amizade, a gratidão sem meias palavras, dando aos outros que o merecem, provas inteiras de alguma doçura reconhecida deste rigor invernoso do meu carácter duro e, às vezes, impiedoso.

Vem isto a propósito de algumas “lutas” recentes que estou a travar e que se anunciam vencedoras, esperemos! Não sou nada supersticioso e ainda não se tendo concretizado, se por acaso perder ou não ganhar totalmente como planeei, não mudo uma vírgula ao que vou dizer.

No início referi os vários tipos de atitude perante a vida.

Só quem luta a cada dia, sem desfalecimentos teóricos porque na prática e sobretudo na “carne/psíquico” os há e dolorosos, causando nervoso miudinho, é que pode tentar influenciar o “curso das estrelas”, o futuro, o desejo de encontrar paz ou um amor, ou um emprego, ou um andar, ou um negócio, ou um remédio para engordar ou emagrecer, uma coisa perdida que faz falta nesse momento e não se sabe mais aonde se “desarrumou”!

É esta permanência na “actividade” que a mim me preenche, é um tentar mais uma vez, é antecipar o que poderá ir na cabeça de alguém de quem precisamos, é não desistir de um projecto, de dizer ou fazer o que tem de ser feito o melhor que soubermos, é estar sempre a magicar como o tempo vai passando ou poderá decorrer de uma forma cheia.

O quê?

Ficar o dia todo no terraço de um penthouse soberbo, bem sentado, parado, a olhar fixo o horizonte, como parece que faz o Arqt.Pei, em Nova York? Bem sei que tem cerca de 85 anos e dizem-me os filhos, com quem falei, que medita!

Livra, prefiro a minha cave sem vista, na zona do Senhor Roubado, de onde vos escrevo!

Sei que sabem que é mentira que não moro lá, pois morreria de claustrofobia!

Subjectivo, sim senhor! Mas eu sou o sujeito titular da minha vida e por isso a minha visão é a que vale, afinal para mim.

Devo ouvir outras opiniões, sim. Consultar quem saiba mais, sim. Mas estar sempre a propor a nossa visão para formar a opinião de quem nos aconselha.

E sabem porquê?

Porque, “at the end of the day” quem decide somos nós e se querem que lhes diga a minha experiência pessoal, se não for eu a tratar da minha vida, ninguém trata dela bem – podem tentar fazê-lo, normalmente mal, mas porque entregar a outros o que tem a ver com o meu “inner Manuel” que verdadeiramente só eu conheço de ginjeira…mesmo até ao fim!

E depois, se eu me render molemente a terceiros (incluindo cônjuge, amante, amiga(o), padre, advogado, conselheiro, passante na rua, imprensa…) sou o tal passivo ou inactivo, e não gosto!

Acho que no fundo ninguém, verdadeiramente gosta!

Talvez haja quem se habitue ou que não consiga ultrapassar!

Mas se nas vidas de cada um NUNCA houve um grito de Ipiranga, um desejo de se ser o próprio a tomar as coisas nas mãos, então o meu julgamento é que se é um traque…por definição, vento malcheiroso!

Ninguém gosta de sofrer e a luta quanto mais aquece, mais suores frios causa, medo, cagufa, tef-tef, miaúfa ou cagaço…é sabido! Mas é no auge da luta, com cabeça, estratégia, trabalho e argúcia que se definem vencedores e vencidos, sempre com honra! Perder assim é ganhar também!

Claro, isto implica trabalho, muito trabalho. Atenção a cada pormenor, à vida nos seus contornos gerais e particulares, medir as consequências de um ou outro cenário, desfecho…uma canseira, por isso chega o momento em que se, estatisticamente, o score pessoal é manifestamente positivo, se perde a última batalha: a da morte.

Irrita, pois apetecia continuar, mas é o repouso do guerreiro.

Ave, Caesar, morituri te salutant"

3 comentários:

  1. Gostei muito deste texto... e também aqui a imagem é espantosa e mt, mt sugestiva. Inspiradora.
    Cada vez mais me surpreende a sua produção. Gosto. E desejo muito que continue com esse prazer enorme que lhe reconheço em dizer de tantas formas diferentes o que sente.
    Beijinho
    Isabel

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  2. Querido Manel
    ...gosto particularmente quando escreve de forma directa e sem os subterfúgios que a escrita permite a quem sabe, o que sente. Uma janela aberta para uma alma aparentemente multifacetada, mas que apenas considero rica. Muito rica e cheia de sensibilidade, por mais que se considere bruto em certas avaliações ou reflexões que faz sobre tanto da vida. Uma alma onde multiplicidade se pressente cada vez mais una.
    Um abraço profundamente amigo e grato também pela sua amizade em que acredito, como já disse.
    Gostei da sua reflexão.
    É boa esta partilha, repito.
    Sempre
    Isabel

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  3. Olá Isabel,

    Fico contente por constatar que vem aqui e que dá a sua opinião.

    è sempre encorajadora e muito amiga, por isso lhe fico muito reconhecido.

    Bem haja

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