domingo, 8 de abril de 2018

Instantâneo


INSTANTÂNEO

Saí a seguir ao almoço para caminhar e como vi sol, não levei, imprevidente, chapéu de chuva. Estava frio e sobre uma camisa de lã aos quadrados escoceses em tons de azul de várias tonalidades, um leve gilet de malha com um fecho éclair, que puxei para cima, levantando a gola.

Arrependi-me logo ali, mas tive preguiça de voltar a casa.

Passei pela botica a aviar um remédio contra a tosse e ao descer por uma avenida abaixo, desatou a chover.

Fui-me abrigando tanto quanto pude debaixo de beirais salientes, mas a chuva que caía generosa, ia-me ensopando o casaco e molhando os jeans.

Não há nada de menos romântico do que apanhar uma molha sem pretender dansar nem cantar o " singing in the rain" considerando sobretudo que nesse cenário sempre havia um chapéu de chuva!

Entrei desaforado na Bertrand e a praguejar baixinho. Já lá sou conhecido dos empregados: um rapaz novo sorrindo sempre às minhas graças e uma rapariga rondellette que é a chefe da livraria.

Andei a miroscar as novidades, fiz perguntas e alguns comentários amalucados mas sem mal, pois estávamos só os 3 nessa manhã de chuva.

Fixei-me no último livro do Pedro Mexia, "Lá fora" que folheei e me interessou. Tinha lido a entrevista dele ao Observador bem como tendo já estado umas vezes com ele, é um escritor que me agrada ler.

Ainda folheei outros livros e revistas e jornais estrangeiros, mas a molha moderou-me os gastos!

Estava com fome pois tinha tido um frugal pequeno-almoço. Decidi-me a ir comer um croissant e beber um galão.

Ao dirigir-me porém, para a pastelaria, cruzei-me com uma antiga namorada.

Ela não me viu, mas eu sim. Estava diferente. Todos estamos.

No caminho de regresso a casa pus-me a pensar como seria se a tivesse desposado! E fiquei convencido que a minha escolha de não o ter feito, fora avisada.

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