terça-feira, 18 de novembro de 2014

Trisavô que disse em ar de nada que ia ali comprar uns biscoitos e que voltava.....!

Estive a arrumar uns papéis antigos do arquivo familiar que estão aqui em Lisboa e encontrei uma carta de uma Trisavó materna para a Mãe dela, queixando-se do marido.

E que queixa era essa? Toda a vida ouvi na minha família a narração deste Trisavô que disse em ar de nada que ia ali comprar uns biscoitos e que voltava, nunca mais tendo regressado até hoje! Suspeitamos que qual Dom Sebastião, ainda possa aparecer montado a cavalo no meio do nevoeiro…

Naturalmente que esta carta à minha Tetravó é triste, pois o safado deixou a mulher e três graciosas filhas donzelas abandonadas, e não fora o apoio dado pela família, tenho dúvidas que este vosso criado, pudesse estar a escrever estas saudosas linhas sobre tão estuporado avoengo…

Com esta carta, reli uma muito posterior dirigida por ela à mesma Mãe, narrando-lhe como estava feliz, rica e com uma excelente vida, tendo as filhas educadas nos melhores colégios.

Acontece que este súbito desaparecimento redundou na sorte grande, pois o Avô que o substituiu tinha vastas roças e minas em S.Tomé e Angola, era um fidalgo muito bem aparentado e proporcionou à descendência não só um estadão de vida internacional, pois adorava fazer viagens por todo o mundo, como deixou vasto património cultural – livros preciosos, pinturas de autores excelentes e conhecidos, baixelas de prata e móveis de grande beleza e qualidade, colecções de moedas de ouro, as ditas minas, não de Salomão, mas parecidas, casas, quintas que vinham do seu lado, e deu aos meus Avós e Tios Avós uma esmeradíssima educação.

Eram uns verdadeiros “sportsmen”, nomeadamente na esgrima e na paródia, frequentando a melhor sociedade.

Fiquei a cogitar o que motivaria uma tão escandalosa partida, deixando tudo para trás. Fica-se a saber que já naqueles tempos, quando a convivência se tornava insuportável, intolerável e massacrante, o melhor remédio era a libertação total e o corte definitivo. Cada um sabe de si e Deus Nosso Senhor de todos...

Ele era “galante uomo”, muito letrado e dado à escrita e à poesia, e tanto quanto sei, pouco dado à gestão da fortuna familiar. Gostando mais de salões literários e de fados e guitarradas sendo pouco atreito a uma vida severa familiar, com uma estrita educação religiosa.

Usava esta frase nos seus escritos que copiei para mote do meu blogue: …”J'agace mon millieu, et alors! C'est le cadet de mes soucis” !

Quem sai aos seus, não é de Genebra…

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