terça-feira, 18 de setembro de 2012

Resposta do meu primo Luis Bernardo à minha carta da rentrée

Meu Querido Manuel,

Li com muita atenção a tua carta. O que queres que te diga se tu sabes tão bem quanto eu, o que fazer.

Primeiro, é preciso encontrares paz em ti. Nada se consegue sem tranquilidade interior: fazendo uns exercícios de controlo lento e pausado da respiração, obriga-te a descomprimir.

Depois, é sempre bom lembrares-te de exercer a humildade e simplicidade nas coisas que fazes. Apaga-te um pouco e trabalha na sombra, com afinco e bravura para conseguires ser bem-sucedido: parece-me uma excelente terapia.

Em tempos de crise, todos têm problemas e por isso não será de espantar que apareças menos, pois cada um tenta sobreviver como pode e concentra os seus esforços nessa tarefa, tantas vezes difícil e dolorosa, para ultrapassar a incerteza quanto ao futuro e as penosidades do presente.

Em terceiro lugar, pensa menos em ti e nas tuas angústias e dedica-te mais aos outros, sobretudo a quem não tenha ninguém a quem recorrer. Às vezes, não precisas de sair de dentro da tua família. Há palavras de conforto, de presença mais assídua, de mudança de atitude que operam milagres e com a tua espontaneidade e percepção da realidade, um bom conselho vem sempre a propósito.

Sem sobranceria e com o desejo de acertar, nomeadamente, escutando e só no fim aconselhando. Não há cá sábios nem tu o és, por isso, tanto quanto me dizes, havendo por aí uma “troika”, é-o, porque se trabalha e abordam-se melhor os problemas em equipa, com vista a se encontrarem soluções. “It takes two to tango”!

Se visses daqui o que se passa aí, saberias que olhamos mais para a floresta do que para a árvore, ao contrário do usual. Por isso e como bem dizias, há que pairar acima das nuvens, neste caso das preocupações e aí avistarás prazenteiros prados verdejantes, rios e oceanos, a natureza na sua pujança magnífica.

Tem respeito pelo silêncio e pelas admiráveis lições do passado, daquele que vale a pena reter aonde se praticava a honra, os princípios sagrados da defesa dos mais fracos pelos mais fortes, e distrai-te, não te fixes em pontos de tormento moral e de cansaço dos outros.

Lê, passeia, conversa, estuda, trabalha e ocupa o teu tempo. Não há pior do que a ociosidade para o desequilíbrio do espírito.

E no fundo, exerce a bondade. É o mais importante.

Tenho visitado os teus Pais com frequência. Estão óptimos e entretidos com a organização de uma viagem por aqui: quem visitar, o que levar, como chegar a cada lugar e procurar estar com quem os convidou.

Nunca os tinha visto tão entusiasmados. A festa que deram a todos os antepassados e de que te dei notícia anteriormente, provocou nos que compareceram, uma chuva de convites para lhes retribuírem o gesto.

O teu Pai, sempre meticuloso e organizado, quer ter a certeza que a cada encontro familiar, conhecem tudo de todos para evitarem fazer “gaffes”. A tua Mãe, num desassossego, prepara-se para levar malões e diz com alguma razão que quando visitar o avoengo “El Cid, o Campeador”, não poderá ir da mesma maneira do que quando se encontrarem com o Avô Vasco (da Gama), bem entendido.

São “faits divers” que te conto para te distrair.

Quero ter boas notícias tuas na próxima carta. Cheer up!

Um afeiçoado e apertado abraço do teu primo

Luis Bernardo



4 comentários:

  1. Carlos Falcão Afonsoquarta-feira, setembro 19, 2012

    Este seu primo é um cavalheiro, bastante sensato, e sempre nos vai dando noticias do seu Pai. O seu Pai ao que me lembro era muito bem humorado e não desperdiçava uma boa piada. Pelo visto mantem o seu estado de espírito

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    1. Em nome do meu Pai e do meu primo Luis Bernardo agradeço confundido com tão amáveis palavras:-)

      Bem-haja

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  2. Gostei Manuel.
    Conselhos... dos melhores.
    Sentimentos... fraternis e carinhosos.
    Notícias... fantásticas!

    Esse céu é do melhor.... e incrivelmente ao alcance de todos.
    Valha-nos essa esperança.

    Sem brincar... gostei mesmo. Estas cartas são uma delícia, repito.
    Beijinho, Isabel

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    1. Olá Isabel,

      De facto apetece arrajar uma agência de viagens, pelo menos para já, que organize umas excursões temporárias, a tal destino. Seria um sucesso!

      Hei-de consultar o Luis Bernardo, talvez ele queira ser meu sócio. Cada um em seu lado, mas eu trago o "mercado" e ele o programa...parece-me fair:-)

      Um beijinho

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