domingo, 2 de setembro de 2012

História de absoluto terror que me aconteceu há uns tempos ( parte 6)


Fui ter a casa de um amigo e a primeira coisa que fizemos foi rebentar com as fechaduras da mala e olhar, com olhos de ver e com tempo, o seu conteúdo. Passava-se tudo numa garagem bem escondida e segura.

Assim se fez, pois ele vivendo numa quinta tinha todos os apetrechos necessários para as forçar, e ficámos os dois sem palavras com milhares de notas pretas nas mãos, empilhadas ordeiramente na mala.

O passo seguinte foi o de abrir a garrafa e tentar limpar umas quantas notas, só para testar. Apesar do estranho incidente com os meliantes e o seu desaparecimento, tive a certeza de que voltariam a contactar-me para virem buscar a mala e a garrafa. Não iriam perder assim tão elevada quantia.

Tentou-se uma e duas e muitas vezes, com notas tiradas de vários montes e nada. Era puro papel preto que com o dito "líquido" ficava engelhado e quase se desfazia.

Calculam o que me passou pela cabeça de confusão, desânimo e perplexidade. Como é que tinha funcionado na minha frente e eu ter recebido cerca de USD 2,500 reais e verdadeiros, depositados regularmente e sem devoluções na minha conta bancária e agora nada acontecer?

Esperei vários dias, semanas e nenhum contacto foi restabelecido pelos que me tinham visitado, nem vi nos jornais os nomes de ninguém preso na data daquele dia e por isso resolvi participar às Autoridades.

Foi-me dito que não era o único a ter sido vigarizado e que houve banqueiros e homens de negócio que perderam centenas de milhares de dólares.

A história poderia ter ficado por aqui, se eu não fosse quem sou. Já não se tratava de recuperar o dinheiro que dava como irremediavelmente perdido, mas não desistiria enquanto não descobrisse como era o “truque”!

Revi ao detalhe todos os pormenores, circunstâncias e acontecimentos, diálogos com eles e respectivas explicações e não me considerando propriamente burro, tinha que haver uma explicação.

Falei com amigos íntimos, inteligentes, experientes, de várias profissões e ninguém, mas mesmo ninguém me conseguia dar uma resposta.

Houve quem me dissesse que eu teria sido hipnotizado ( o que seria impossível pois não há hipnoses colectivas numa sala, uma vez que não olhei nunca os "limpadores" nos olhos), que tinham sido bruxedos, imaginam os disparates!

E aí começou a segunda parte desta saga, que foi a de encontrar quem ou já tivesse ouvido falar deste “líquido” milagroso, ou das notas pretas ou estivesse na posse do referido produto, uma vez que não tive mais dúvidas de que a garrafa que eu possuía não continha o genuíno, aquele que eu tinha visto resultar!

Mesmo assim, perguntava-me pasmado e siderado, como tendo eu visto o egípcio tirar com uma seringa vazia que comprou numa farmácia à minha frente, umas gotas desta mesma garrafa que serviram para transformar 5 papéis pretos em USD 500,00 novinhos em folha, que me entregou e eu validei, tudo quanto saía agora era um líquido com um cheiro estranho mas totalmente inútil!

Acabei por recolher uma amostra e mandar para um laboratório da polícia e veio de lá uma fórmula química banal sem mistério algum, únicamente com um cheiro activo.

Poupo-vos os detalhes dos encontros que tive com gente que jamais na minha vida pensei encontrar: noites tenebrosas com africanos que prometiam saber como se resolvia o assunto, pedindo mais dinheiro, indianos, guineenses, penso que alguns dos piores bas-fonds da sociedade e nada recomendáveis, uma experiência de terror, muitas vezes de medo e de pavor de não-retorno.

Aldrabões, vigaristas e oportunistas tanto cá em Portugal como nas paragens mais longínquas em África, pois havia sempre quem dissesse que tinha a solução e eu tentava mais uma vez!

Tornou-se para mim uma missão, uma obsessão e nada me faria desistir até saber a verdade. Tive ameaças de gangs, chantagens, emissários meus em países impensáveis arriscando a vida para finalmente me trazerem as “boas notícias” que nunca chegavam.

Acabei por ser admirado por uma gente inenarrável que achavam que eu tinha valentia, fibra e coragem para arrostar com todos estes perigos, mas eu só sentia raiva a cada golpe que recebia e adquiri uma insensibilidade às reacções das pessoas: era duro a negociar, falava pouco e era incisivo.

Tinha uma mala que “valia” 4 milhões de USD dólares, uma garrafa com um “líquido“ que funcionou umas poucas vezes e tinha pago já uma pequena fortuna dos meus aforros sem nenhum êxito!

Era o suficiente para me ter tornado num cão de fila. Fui dando conta discretamente de tudo às Autoridades que me acompanhavam sem intervir e esperavam que fosse eu a tomar a iniciativa de pedir ajuda.

Mas ajuda em quê?

Sim, pedi informações sobre pessoas, comuniquei os locais de encontros surrealistas, mas o assunto era meu. Só meu!

(continua)

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