quinta-feira, 12 de julho de 2012

Quando fui o Cangalheiro-Mor do Reino - Presidente da SCI Portugal, a maior empresa funerária do mundo (parte 1)


Fui ao aeroporto de Figo Maduro, destinado nessa altura aos aviões privados, esperá-los à saída de um imponente LearJet de 14 lugares.

Jerry Pullins era o Presidente da SCI, a maior empresa funerária do mundo, sediada em Houston, nos Estados Unidos. Vinha acompanhado do Vice-Presidente internacional, um alemão.

Figura imponente e de alta estatura, com um sorriso aberto e franco, abraçou-me e disse do prazer de me conhecer. O alemão foi igualmente simpático, mas mais comedido.

Nos meses precedentes tinha efectuado um estudo do mercado funerário em Portugal para a SCI, com vista a interessá-los em tornarem-se os principais players e a fazerem aquisições no nosso país. Uma operação típica de M&A à americana.

Tinha mais uma vez constatado a nossa pequenez, neste caso por boas razões, por termos uma taxa de mortalidade muito baixa e nada comparável com a dos EUA ou mesmo com a da média europeia.

A razão era dupla: por um lado temos uma população mais reduzida, ainda que envelhecida e por outro, com o SNS os hospitais distribuíram-se pelo país e funcionavam como uma triagem e barragem a que os doentes viessem, como antigamente, morrer em estado terminal, aos hospitais centrais das duas ou três grandes cidades, oriundos do interior. Havia uma melhor profilaxia das doenças e a expectativa de duração de vida triplicou.

A SCI tinha decidido implantar-se na Europa, como grande multinacional que era. Nesse ano a facturação anual fora de 4 biliões de dólares e tinha 14 mil funcionários.

Portugal não podia ficar de fora, por duas óbvias razões: a primeira por ser um país da União Europeia e a segunda por um prosaico e felicitous motivo - eu queria ser o Presidente em Portugal e ganhar bom dinheiro, para além de profissionalmente ser muito desafiante proceder à aquisição da maioria do mercado, modernizando-o.

Tinha acabado de ser o último Presidente da Torralta e precisava de algo tranquilo, bem pago e internacional. Um desafio que não podia perder!

Estava combinado que iríamos visitar “profissionalmente” o cemitério do Alto de S.João, depois almoçarmos no Porto de Santa Maria uns belos lagostins acompanhados de excelente pinga e antes de embarcarem à noite de volta a Houston, o Jerry queria comprar, por encomenda da mulher, uns dez tapetes de Arraiolos para a casa em Martha’s Vineyards!

Começámos pelos tapetes de Arraiolos que foram convenientes e discretamente arrumados no porta-bagagens da minha carrinha Audi. O Jerry trazia uma pasta de mão em pele de porco linda do Lancel com letras a ouro – JP - que foi lá para trás e o alemão também arrumou o computador aonde, vim a saber mais tarde, tinha guardada a estratégia da empresa para a Europa no quarter seguinte, sem nenhum back-up.

No parque do cemitério havia um guarda de automóveis, velhote com um boné de pala com uma chapa identificando-o como funcionário municipal. Prometi-lhe uma “gorja” à saída e ele assentiu agradado.

Avistei, sem ligar muita importância, uns “mitras” e “drogados” que provinham do Bairro de Chelas, adjacente ao cemitério e que, fazendo concorrência ao arrumador oficial, cobravam umas moedas por ajudarem a arrumar os carros de quem estacionava.

Fomos tranquilos e visitámos durante cerca de uma hora tudo quanto havia para ver desde jazigos sumptuosos, a campas rasas, a gavetões, e as perguntas sucediam-se e eu, bem preparado, ia respondendo. Acho que passei no “exame” pois estavam muito contentes, cheios de ideias para modernizar e limpar os cemitérios portugueses e a conversa fluiu naturalmente.

Apetecia-nos, num dia lindo que estava, o almoço de mariscos no Guincho com vinhos franceses – dizia o Jerry – e eu disse-lhe que sempre que estivesse em Portugal era só dos portugueses que beberia. Perdi algum tempo a falar da excelência do meu País, das suas gentes, dos seus produtos e cultura e fomo-nos aproximando do meu carro.

(continua)

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