segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cangalheiro-Mor ( parte 2) o roubo



Aproximei-me do carro temendo o pior! Tinha sido assaltado e roubado de tudo o que estava no porta-bagagens!
Avancei para o guarda e peguei-lhe nos ombros e sacudi-o com violência gritando uma série de impropérios e perguntando o que se tinha passado! Respondeu-me assustado com o meu olhar e tom de voz, dizendo que talvez tivessem sido os “mitras”! Poupo-vos o que foi a minha fúria, não só pelos prejuízos causados, como por ver o meu tão ansiado emprego ir “por água abaixo”.
Jerry e o alemão, depois de perceberem o que se tinha passado, foram cada um para o seu lado e só voltaram uns 15m depois. Calmos, educados e controlando as emoções disseram-me que tinham ido respirar fundo. Impecáveis, tranquilizaram-me dizendo que podia ter acontecido em qualquer outro país.
Tomámos de imediato algumas medidas óbvias: o Jerry telefonou para Houston para a secretária a pedir para reportar o roubo e cancelar todos os cartões de crédito e cheques, requereu um reforço de dinheiro em cash de USD 5,000,00 à chegada em Paris para aonde iam à noite, e a participação às Autoridades do número dos passaportes, entretanto roubados.
Telefonei para as Embaixadas dos EUA e Alemanha, respectivamente, para amigos que lá tinha informando-os do ocorrido e pedindo que preparassem urgentemente dois novos passaportes para essa tarde, para que eles pudessem partir nessa noite no avião privado.
Entretanto fomos para a esquadra da zona e não resisto a contar-vos dois episódios surrealistas:
- Saiu de imediato uma brigada especial à civil para procurar nas redondezas os possíveis ladrões, indo até ao bairro de Chelas. Entretanto eu tinha fixado, antes de entrar no cemitério, dois “mitras” mais desenvoltos que me olharam desafiantes e não me sossegaram, mas achei que o guarda municipal, aliciado com uma prometida “gorja”, evitaria potenciais dissabores.
- No meu desespero vim até cá fora da esquadra “apanhar ar” enquanto se preparava o auto de participação. Qual não é o meu espanto quando vejo virem no passeio na direcção da esquadra, os referidos “mitras”! Dei um berro para dentro a chamar pelo Comissário e em minutos os dois meliantes estavam nos calabouços! Ouvia-se cá fora uns gritos de quem estaria a levar pancada da grossa, mas dali a pouco os guardas vieram dizer-me que eles não eram os assaltantes e nada tinham visto. Não fiquei muito preocupado pela “porrada” levada, pois lembrei-me da fábula de La Fontaine do lobo e do cordeiro, quando o primeiro lhe diz que o vai comer de qualquer maneira, pois senão era ele o que fugira, seria de certeza o seu irmão! Ficaram umas “favas” pagas por outros roubos!
- Uma “diligente funcionária” começou o interrogatório ao Jerry Pullins e ao alemão, através de mim. Escrevia, dedo a dedo, numa máquina de escrever Remington antiga, em duplicado com papel químico.
- Nome dos Pais…o Jerry “banzado”, perguntou-me para quê? Eu, enervado com tudo aquilo, apertava as minhas mãos com força no balcão do guichet para me conter, e disse com a calma possível, que eram estrangeiros, que tinham sido assaltados e roubados em milhares de contos, estavam desolados e não queriam processo nenhum contra terceiros desconhecidos….mas nada consegui!
Lá disse, coitadinho, com uma candura imensa: nome do pai: Jeremy Pullins e da mãe: Alice Gwendallin Pullins!
Freguesia de nascimento, pergunta a funcionária? Aí saiu-me um som rouco e gutural que a assustou…estava disposto a esbofeteá-la, tipo Obélix, até ela cair por terra, exangue! Expliquei-lhe que nos EUA não havia o sistema administrativo igual ao de Portugal, mas foi renitente que lá pôs um traço - sem informação. Ainda tentou perguntar os nomes dos avós, mas dirigi-me que nem uma seta para o gabinete do Comissário, ameaçando-o com a CIA e com a polícia alemã com consequências graves para a sua eventual promoção.
Fomos almoçar ao Porto de Santa Maria, num dia estupendo de sol e com a gloriosa vista sobre o mar e a conversa correu maravilhosamente bem, como se nada se tivesse passado!
Fui levá-los ao aeroporto para tomarem o avião particular com destino a Paris, já com os novos passaportes, que lhes tinham sido entretanto entregues pelas respectivas embaixadas.
Pediram-me para pessoalmente tratar de recuperar o computador, pois quanto à pasta do Lancel, linda de morrer e caríssima, com USD 5,000,00 dentro, os tapetes de Arraiolos e os cartões de crédito, era para esquecer. Haveria outras oportunidades e tencionava comprar outra pasta assim que chegasse a Paris.
Disseram-me que iam transferir no dia seguinte para a minha conta USD 2,500,00 para eu dispor de dinheiro para pagar ao ladrão em troca….do disco rígido do computador, pois não interessando a mais ninguém, continha, porém, informação corporativa valiosa.
Adormeci exausto, mas feliz! Nem tudo estava perdido e jurei fazer tudo, mesmo tudo o que estivesse ao meu alcance para recuperar os dados empresariais desviados, incluindo uma visita ao perigoso bairro de Chelas.
(continua)

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