terça-feira, 26 de julho de 2011

O SABIÁ vaidoso


A notícia espalhara-se rapidamente por toda a "Floresta Encantada".

Já todos sabiam da mágica especial que tinha a “Árvore do Tronco Encarnado”.

Todos os dias aumentava o número de visitantes que queriam ouvir o maravilhoso e afinado canto que dali vinha.

A bicharada só falava nisto.

Que linda música!

Que bela melodia!

Os bichos ficavam todos encantados.

Mas, sobre o autor daquele trinado, ninguém gostava de falar...

Era um Sabiá de porte elegante, inteligente, mas muito vaidoso e orgulhoso. Mal falava com os animais, e achava que ninguém era digno do seu convívio!

Passava os dias escondido por entre as folhagens da sua árvore e como sabia que o seu canto era o mais belo da floresta, cantava e cantava só para se sentir admirado e elogiado por todos, pois tinha a certeza de que ninguém nas redondezas cantava tão bem ou melhor do que ele.

Todos os anos havia na floresta um grande concurso de música chamado “O Som da Natureza”.

O vencedor ganhava três prémios: um diploma assinado pelo Dr. Coruja, uma viola feita pelo habilidoso esquilo Din, e é claro, o respeito e a admiração de toda a floresta.

No ano anterior o Sabiá tinha sido o vencedor. Tornara-se ainda mais orgulhoso e vaidoso.

Aproximava-se o dia do concurso do novo ano, e o seu convencimento era tanto que nem ensaiava as músicas oficiais exigidas pelo regulamento: cantava só o que queria, principalmente quando se apercebia que tinha uma grande audiência, ansiosa pelo seu canto.

Por fim, chegou o grande dia! O dia do concurso “O Som da Natureza”.

Toda a floresta rejubilava.

Os bichos chegavam elegantes nos seus trajes de festa, e aguardavam pelo grande momento.

Os juízes já a postos, estavam com os ouvidos preparados para a avaliação e atribuição da respectiva nota.

Os dois concorrentes tomaram os seus lugares nos galhos: o Sabiá e um jovem Rouxinol.

O Rouxinol adorava cantar, era a sua maior alegria!

Todos os dias se dedicava a muitas horas de estudo da música. Ouvia atentamente os conselhos dos mais velhos, pois o que não lhe faltava era empenhamento, treino e, principalmente, humildade para aprender sempre cada vez mais.

O macaco Guru começou as apresentações.

O primeiro a ser apresentado foi o vencedor do ano anterior, o Sr. Sabiá. O seu belo canto soou muito bem aos ouvidos da bicharada, como era esperado.

Todos antecipavam a sua nova vitória.

De seguida o jovem Rouxinol ocupou o seu lugar e iniciou o seu canto.

Nesse momento algo de inesperado aconteceu, e toda a floresta parou!

Não era só a perfeição e os cuidados nos detalhes com as notas que o jovem Rouxinol demonstrava, mas o sentimento que punha na melodia, o amor que demonstrava a cada gesto.

Os aplausos não pararam mesmo depois de terminada a sua apresentação.

Os juízes não tiveram dúvidas – o jovem Rouxinol obtivera o melhor resultado, era o grande vencedor do concurso anual.

Começaram as comemorações e o jovem Rouxinol contagiava a todos com a sua alegria e simpatia.

Mas alguém não acreditava ainda no que se tinha passado.

Como poderia existir alguém melhor do que ele? – perguntava-se o Sabiá.

E o que teria de tão especial o Rouxinol, que contagiava e enlevava toda a floresta?

Era para ele uma desonra! Foi-se embora de mansinho, sem que ninguém se apercebesse.

Nenhum bicho deu pela sua falta, pois o Sabiá, orgulhoso como era, não se preocupara em fazer amigos!

Passaram-se vários dias e o jovem Rouxinol foi o primeiro a preocupar-se com o Sabiá vaidoso. Desde o dia do concurso que não saía da sua árvore e muito menos se ouvia o seu canto.

O jovem Rouxinol marcou então uma reunião com a bicharada:

- Gostaria de vos falar sobre o Sabiá – iniciou assim a reunião, o Rouxinol.

- Aquele pássaro arrogante que não é amigo de ninguém! - exclamou a D. Arara.

- Esse mesmo! Orgulhoso como é, nem nos faz falta a sua companhia, tanto mais que agora, temos o teu belo canto para nos alegrar! – exclamou, bajulador, o macaco Guru.

- Oiçam lá: - Se ele não tem amigos é porque não descobriu ainda o que é a amizade, e como é bom ter amigos. Se ele é orgulhoso é porque não sabe o que se ganha sendo mais humilde, transformando a nossa vida em maior simplicidade e muito mais feliz – disse o jovem Rouxinol cheio de amor e compaixão.

Gerou-se uma grande confusão na reunião. Todos queriam falar ao mesmo tempo, cada um com uma opinião diferente. Mas o certo é que não tinham vontade nenhuma de ajudar o Sabiá.

Até que o Dr. Coruja falou aos berros, quase a gritar, para se fazer ouvir:

- Se fosse com um de vocês em vez do Sabiá, não gostariam de ser ajudados?

A bicharada foi-se calando pensativa.

E continuou a falar o sábio Dr. Coruja:

- O nosso amigo Rouxinol tem razão: devemos fazer o bem sem olhar a quem.

Aquelas palavras penetraram nos corações dos bichos da floresta tornando-os mais dóceis.

Decidiram que o melhor era alguém ir fazer uma visita ao Sabiá. É claro que o escolhido foi o Rouxinol, que se prontificou a fazê-lo com alegria.

Foram todos até à “Árvore do Tronco Encarnado” e ficaram à espera do Rouxinol.

Passaram-se duas horas, e nada do Rouxinol.

De repente, com grande surpresa e quando menos esperavam o jovem Rouxinol saiu abraçado ao Sabiá, que estava abatido e magro, mas apesar do olhar cabisbaixo, percebia-se um brilho diferente nos seus olhos.

O Rouxinol disse a todos:

- O nosso amigo Sabiá estava um pouco doente, por isso podem ir agora para as vossas tocas e ninhos, pois ele irá fazer-lhes uma visita depois.

A bicharada já começava a dispersar, quando o Sabiá, esforçando a voz, disse-lhes:

- Esperem! Em primeiro lugar quero pedir desculpa a todos. Eu pensava que o meu canto era a coisa mais importante do mundo, e só o usava em meu próprio benefício. Agora sei que devo usar a minha voz para o bem e alegria de todos. E além do mais não valorizava os amigos que tinha.

Em segundo lugar quero agradecer a todos e em especial ao Rouxinol, que me ensinou tanto, não só com as palavras mas principalmente com o seu exemplo de humildade.

A emoção apoderou-se da bicharada.

Aquele dia tornou-se inesquecível para os animais da "Floresta Encantada" e sempre que se reuniam em torno da “Árvore do Tronco Encarnado” para ouvir a dupla inseparável, o Sabiá e o Rouxinol, era com grande emoção que os escutavam, agora com um canto ainda mais harmonioso.

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