quarta-feira, 13 de julho de 2011

basta o essencial



Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma taça de cerejas.

As primeiras, chupa displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer de árbitro de desafectos que discutiram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coro da orquestra.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, a minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na taça, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que saiba rir dos seus tropeços, que não se encante com triunfos, que não se considere eleita antes da hora, que não fuja da sua mortalidade,

Quero caminhar perto de coisas e de pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade

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