quinta-feira, 14 de outubro de 2010

12ª Carta do meu primo Luis Bernardo


Meu Caro Manuel,

Não há própriamente uma história da filosofia cristã, tal como existe a história da filosofia grega ou da filosofia moderna, pois no pensamento cristão, o máximo valor, o interesse central, não é a filosofia, mas a religião.

Entretanto, se o cristianismo não se apresenta, de facto, como uma filosofia, uma doutrina, mas como uma religião, uma sabedoria, pressupõe que tenha uma específica concepção do mundo e da vida.

O cristianismo fornece ainda uma - imprescindível - prestação à filosofia, no que se refere à solução do problema do mal, mediante os dogmas do pecado original e da redenção pela cruz.

E, enfim, além de uma justificação histórica e doutrinal da revelação judaico-cristã em geral, o cristianismo implica uma determinação, elucidação, sistematização racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação.

No plano cultural, a Igreja exerceu um amplo domínio, traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era o pressuposto fundamental de toda sabedoria humana.

Em que consistia essa fé?

Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades reveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras (Bíblia) e devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja.

Assim, toda a investigação filosófica ou científica não poderia, de nenhuma maneira, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica.

Segundo essa orientação, os filósofos não precisavam de se dedicar à busca da verdade, pois já havia sido revelada por Deus aos homens.

Restava-lhes, apenas, demonstrar racionalmente as verdades da fé.

Não foram poucos, porém, aqueles que dispensaram essa comprovação racional da fé. Eram os religiosos que desprezavam a filosofia grega, sobretudo porque viam nessa forma pagã de pensamento uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela Igreja, em termos de fé).

Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se necessário explicar os seus ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Tinham que ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.

A terminar deixo-te esta reflexão: qual a relação entre as palavras e as coisas?

Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa continua a existir. Neste caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma ideia geral.

Um abraço do teu primo

Luis Bernardo

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