sábado, 6 de janeiro de 2018

O Miguel (II)


O MIGUEL (II)

Hoje encontrámo-nos no Galeto pois ele acha a Versailles chique. Foi pelas 15h mas eu estava cheio de fome e estando ele já agarrado a dois hambúrgueres do McDonalds, convidei-o, não obstante, para me acompanhar num leve almoço.

Tinha-lhe emprestado um livro sobre a vida de Mao contada pela enfermeira/secretária/amante que descreve a podridão e todos os crimes que ele cometeu. Estranhamente acedeu a ler e devolveu-mo hoje dizendo que o Mao era um biltre. Nem perdi mais tempo a falar sobre Mao pois estávamos de acordo.

Pusémos em dia a actualidade política e as minhas análises sobre o futuro previsível em Portugal eram coincidentes.

Disse-me que a revolução dele estava meia adiada porque não tinham meios. Eu disse-lhe que sem uma sede e todos instrumentos comunicacionais necessários hoje em dia, um representante para os contactos com a imprensa que fosse atractivo (ela ou ele e não um zibigu mal enjorcado e sem um português escorreito – dei o exemplo positivo do Louçã -) jamais arrancariam e penetrariam nas massas populares pois hoje em dia mesmo os trabalhadores menos qualificados do que os da Auto-Europa são exigentes e a revolução deu-lhes um estatuto muito melhor. O Arménio Cardo da CGTP é um "burguês elegante", bem vestido, põe gravata quando visita quer o PR quer o PM e sabe que tem impacto na televisão e nos jornais. Concordou comigo.

Falámos do TRUMP, do Irão, da China, da Rússia e do Médio-Oriente e as minhas análises eram coincidentes com as dele. Somos ambos rigorosos, objectivos, informados e não há muito a acrescentar ao que é a realidade. O resto é pura fantasia.

Mas hoje a discussão de fundo era complicada e ele quis saber a minha opinião.

O papel das mulheres na vida política de organizações revolucionárias. Comecei por lhe dizer que o que conheço do interior da vida das ditas organizações é o que vem transpirando das cisões e das vinganças publicadas em livro de quem sai batendo com a porta.

Ele, Miguel, diz que é difícil recrutar mulheres pois trata-se de um trabalho para homens, com as devidas excepções como sempre. São mais exigentes nas condições de trabalho, não abdicam da vida familiar quando têm companheiros ou descendentes, preferem integrar-se em estratégias já iniciadas, não têm o mesmo espírito aventureiro dos homens e por isso na maior parte destes partidos é difícil ver mulheres líderes ou mesmo em número visível. Têm menos espírito criativo para pôr em prática acções mais ousadas e são depositárias no sentido de valorizarem o seu estatuto de mulher por oposição à dos homens.

Eu ouvi-o em silêncio e ele disse-me que às poucas raparigas a quem pôs o problema com mais "suavidade" ouviu impropérios e irritações. Disse-me que não estava em causa qualquer diferença de género nem machismo, mas que esta era a realidade.

Eu disse-lhe que concordava com ele, mas como excepção lembrei-o de Cristas e de Catarina Martins, mas ele e bem, disse que o CDS não era um partido marxista nem com uma estrutura interna igualitária e em permanente actividade, com horários diários de reuniões até tarde e de saídas de casa, etc.e que considerava o BE um partido de revisionistas.

Se mesmo já nas famílias conservadoras, apartidárias e sem actividades políticas o homem tem que chegar a casa cedo, e a mulher se por acaso anda na ramboia é passiva de sevícias do tipo violência doméstica de companheiros "marialvas" o que será num partido pequeno, desorganizado, sem meios e com uma ideologia com pouca penetração ainda, segundo ele, no meio laboral!

Claro que teve muito mais vivacidade a discussão e teceram-se muito mais argumentos aliás pacíficos, mas constatei que a Guarda e a sua neve no inverno, no campo de reeducação ainda estará longe.

Vou falar com amigas minhas para ouvir abalizadas opiniões sobre o tema e procurar desde já uma Mata-Hari que a troco de um bom ordenado pago pelos capitalistas, que os há pouco, seja uma infiltrada e prove que a teoria do Miguel está errada.

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