segunda-feira, 24 de julho de 2017

O QUE MAIS ME DANA


O QUE MAIS ME DANA
Levantei-me cedinho e planeei ir a uma das companhias majestáticas fornecedoras de electricidade para refilazar sobre uma factura descomunal.

Pensei que estando numa época estival e um grande número de clientes de férias, seria rápido e eficaz.

Esperei talvez uma meia-hora e atrás de mim tinha uma fila de africanos, na sua maioria, e reparei que a única funcionária disponível para atendimento estava sem as menores maneiras profissionais a tratar um outro cliente africano com irritação, arrogância e em termos indesculpáveis. Para além de se estar a marimbar para as restantes almas nas quais eu me incluía, já íamos em 45 minutos de espera e a fila a aumentar.

Ao fim de uma hora chegou a minha vez.

Tenho um compartimento no meu cérebro que uma vez accionado é demolidor em frieza, intolerância e ataque feroz e impiedoso. Foi ganho pela parentela em Aljubarrota (Os Magriços) – apesar de eu estar um pouco forte mas a tentar fazer uma dieta – e igualmente com o Senhor Dom Sebastião em Alcácer-Kibir. Os meus, depois de um resgate que os salvou mas nos deixou de tanga até ao século XVII, conseguiram transmitir na parcela de sangue-azul que foram passando, este temperamento de excepção. Note-se que d’habitude sou um ser encantador, cordato, calmo e sem excentricidades…ahahahah

Ora bem a dª Gertrudes, assim se chamava e ostentava numa placa sobre o seio direito, já cansada do cliente anterior começou mal, perguntando-me o que eu queria!

Comecei por lhe dizer, em ar de nada, que queria o livro de reclamações. Ficou bízara e disse-me que não tinha com maus modos. Eu repliquei que era Advogado entre outras coisas e que sabia que era obrigatório ter. Foi buscar e repreendeu-me dizendo-me que a obrigava a ficar ao meu lado a acompanhar o preenchimento da reclamação com os outros Clientes à espera.

Depois de ela ter acabado de falar, levantei a voz o suficiente para ser ouvido pela numerosa bichette que já me antecedia impaciente e disse que ia participar da Companhia e dela e que não precisava que estivesse ao meu lado e que fosse atender os outros Clientes. Disparatou, gritou, insultou e perante o meu ar impávido e sereno, já sentado e a escrever o meu relatório, foi atender as restantes pessoas com um ar assustado e cordato.

Terminei uma longa e bem estruturada reclamação que nem Fernão Lopes teria tido tanto detalhe e arte a fazer e entreguei-lhe o livro que ela sofregamente leu ficando cada vez mais lívida.

- Mas o Senhor com o que diz aqui vai fazer com que eu seja despedida! – exclamou sem voz.

Os africanos num outburst/explosão de satisfação deram largas aos seus comentários de apoio e contentamento.

Respondi-lhe que não sabia se esse seria o desfecho mas que lhe servisse de lição para ser profissional e tratar com correcção e boas maneiras as pessoas que lhe garantiam o salário.

Entreguei-lhe uma outra reclamação pessoal sobre o referido excesso na minha factura como referi acima e saí tendo a noção que naquele momento um rasto de ódio vinha na minha direcção proveniente dos olhos da dª Gertrudes.

Uns 15 dias depois recebo dois ofícios separados da dita companhia majestática dizendo o seguinte:

- que pediam desculpa pelo engano na factura tendo tudo ficado resolvido a meu contento.

- que a dª Gertrudes tinha ido para um campo de re-educação na Guarda gerido pelos Guardas Vermelhos da Revolução e seria integrada numa célula revolucionária aquando da próxima revolução.

Caspité! Ainda bem que assinei a reclamação com um dos meus nomes de disfarce: Luis Paixão!
Seria uma das primeiras vítimas a tombar!

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