terça-feira, 18 de julho de 2017

O PENINHA ANDA TRISTE

O PENINHA ANDA TRISTE

O Peninha anda desolado com o país. Só antevê dificuldades e agora que leu algures que o fim do mundo é para Agosto não consegue sorrir e passa os dias neura e sem vontade de reagir.

A “silly season” para ele é fatal. Vai tudo de férias e não há programas para fazer de carácter público/social, aonde possa aparecer, ser visto, gabado, e conviver com a boa sociedade, como ele diz.

O Peninha nunca fala na Adélinha, que é a esposa de trinta e tal anos de casamento, e só quando programam as férias de verão é que vêm as discussões. Ela quer ir numas viagens que o INATEL organiza lá para Arganil e ele recusa-se a acompanhá-la.

A d. Adélia é mulher dos seus 54 anos, roliça de carnes imensas, com seios descomunais descaídos e até parece que compra os soutiens em saldo, pois não firmam os peitos e fica horripilante. Tem um cabelo oleoso de que lhe deu a mania de pintar de uma cor preta de azeviche, escorrido pela cara com um nariz curvilíneo – diz ela que sai ao lado Ortiz de Castela – e uns olhos pequenos de côr escura. Não é muito alta e tem um corpo gigantesco e sem elegância. Com uns braços e pernas gordas parece que bamboleia ao andar.

Tem uma obsessão que é a de usar batas por cima do que veste: são de cores garridas com mangas à cava, com motivos florais, às riscas, com bonecos, com desenhos de legumes…um horror.

O Peninha tem convivido com mulheres mais bem introduzidas no meio académico, das artes e do cinema e perdeu as esperanças de ter na companheira a mulher que outrora o captivou.

Adélinha come que nem uma bruta, tem buço e pelos nas pernas e noutros sítios e não se pinta nem se sabe vestir, pelo que é um pesadelo para Peninha aguentar o casamento. Acresce que não tem mais do que a 4ª classe e muito pouca cultura, mesmo! Fala um português gramaticalmente discutível, não tem uma ideia, adora as revistas do coração cujas histórias sabe ao detalhe e com as vizinhas, ouvem-na muitas vezes tratar por tu a Rainha Letizia, que sendo Ortiz, ela considera como prima.

O Peninha tinha decidido ir passar férias a Moledo. Ouvira dizer que a praia era bem frequentada mas jamais levaria a Adélinha. Nanja que ele era muito mais chic e tinha vergonha dela. No fundo, matavam-se dois coelhos com uma só cajadada: ela ia para o programa do Inatel com as amigas e ele ia flausinar para Moledo, exibir-se na praia qual Tarzan Taborda.

Deu-se porém uma imprevista alteração dos planos de Peninha: Costa, o Primeiro Ministro, na remodelação que fez, foi buscá-lo para motorista do Sub-Secretário de Estado da Desorientação Administrativa e tinha que estar às ordens e disponível a qualquer hora.

Sentiu-se inchar de importância e aceitou logo, ficando de se apresentar no dia seguinte no Ministério.

Mal lá chegou e foi dos primeiros, foi mandado entrar para um gabinete aonde esperou umas boas horas até que foi chamado para uma sala aonde estava um funcionário dos Recursos Humanos do Ministério.

Respondeu às perguntas da praxe sem nenhum problema e no final antes de o contratarem, o funcionário, sem levantar a cabeça perguntou-lhe:

- Número da licença de condução e o ano de emissão.
- Ó Sr. Dr., mas eu nunca tive carta. Sei conduzir como ninguém mas sem carta! Não tive estudos!

- O Senhor Peninha ponha-se na rua imediatamente!

E o Peninha saiu cabisbaixo sem saber o que fazer à vida, por isso tamanha tristeza.

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