quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O PENINHA E OS GRAVES ACONTECIMENTOS


O PENINHA E OS GRAVES ACONTECIMENTOS

O Peninha gosta de viajar. Há lá no Senhor Roubado uma agência de viagens que se chama “ Feliz Destino” que bateu o record de acidentes de aviação para as reservas dos seus clientes, mas não havendo outra nas redondezas, continua a ser muito requisitada.

O Peninha andava com aquela enfiada na cabeça que havia de ir ao Iraque, tentar encontrar-se com o Nelo, filho da dª Ausónia, que morava paredes-meias com a sua casa. Tinham brincado em putos e na rua o Nelo era conhecido como o “turra”, porque batia como o caraças, era bruto a falar e tinha uma voz gutural que usava para dar uns gritos numa língua que ninguém percebia.

O Nelo era vanguardista, andava de blusão de couro, calças e botas pretas de matar baratas ao canto. Tinha um brinco na orelha, daqueles pretos, que o Peninha sempre admirara, pois era de artista tê-lo incrustado na carne.

Quando se encontravam no quarto para curtir um charro, o Peninha reparara que tinha cenas tipo posters na parede com a cara do Che, do Marx, do Pires Oliveira que era o gajo do bairro que comandava as manifs comunas quando as havia, e estranha e recentemente aparecera a cara de um barbudo com uma arma, e com uns dizeres em árabe.

Desapareceu de súbito e a dª Ausónia andava finada com o desgosto, pois nem sequer após quase 1 ano de ausência, tinha dado qualquer notícia.

Com a guerra terrorista no Iraque e na Síria, não foi difícil adivinhar para aonde tinha ido, tanto mais que o Leal, seu amigo do peito, tinha sido identificado nos jornais como fazendo parte do movimento. Tinha por isso a polícia à perna.

Peninha comprou um bilhete na Air Síria e foi apanhar o voo a Marrocos, indo de carro e atravessando de barco em Algeciras. Foi tudo arranjado pela agência de viagens, que garantiu ao Peninha que estava tudo confirmado.

Já dentro do avião e com destino a Damasco, aonde apanharia um autocarro para o Iraque na zona da fronteira, foi surpreendido tal como todo o avião pelos gritos ferozes de um vulto vestido com uma burka e que falava em árabe. O Peninha percebia, que ele dizia Alá e acabar…e o gajo sacou de uma metralhadora e apontou em direcção ao lado do avião em que o Peninha ia.

Quando quis accionar o gatilho para disparar, aquilo emperrou e soltou em voz alta: - porra que esta merda engatou.

O Peninha estremeceu e reconheceu de imediato a voz do Nelo.

- Ó Nelo, meu filho da puta, tu não me reconheces? – disse o Peninha com firmeza na direcção do embuçado.

O terrorista estremeceu, tirou a burka e apareceu de tee-shirt e jeans que o Peninha reconheceu terem sido comprados no Pinheiro das Quinquilharias, no Senhor Roubado.

Perante a estupefacção geral, caíram nos braços um do outro e desataram às palmadas nas costas e a dizerem-se mimos entre palavrões e frases sem nexo.

O passageiro ao lado do Peninha mudou de banco e o Nelo veio sentar-se junto dele.

Ficou tudo mais calmo e o Peninha que não falava línguas, levantou-se foi até ao local aonde estava a hospedeira, lívida de terror, pegou no intercomunicador e começou a dizer:

- No medo – ó Nelo como porra se diz medo em inglês?

- My friend Nelo, é um porreiraço, no problem. Só reination, queria ele dizer reinação e desatou numa conversa para descomprimir o ambiente, toda cool e fixe, tudo em português do Senhor Roubado.

O Comandante veio cumprimentá-lo e agradecer-lhe e como não se entendiam, foi só sorrisos, e o Peninha dizia sem cessar com o dedo para cima: tudo ok!

O Nelo continuava calado e com má cara e o Peninha disse-lhe: e a dª Ausónia, numa ralação e tu sem dizeres nada, meu cabrão!

E nisto ouviu-se uma explosão no bojo do avião que partiu e o Peninha, ainda com vida disse para o Nelo….”olha que tu me saíste um porco, só para comeres 70 virgens, fazes-me isto”.

Nesse momento saltando para o vazio, o corpo do Nelo caiu a pique despedaçando-se aos poucos.
Peninha, esvoaçou e pensou para si: “esta merda de agência de viagens, comprovou a sua prática – mais um acidente! “

O que valeu a Peninha era ter asas e ser leve como as penas.

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