sábado, 21 de novembro de 2015

O PENINHA E O CONVITE PARA O NOVO GOVERNO




O PENINHA E O CONVITE PARA O NOVO GOVERNO


O telemóvel do Peninha tocou na 6ªf á noite, já depois das 11h.
- Está lá? É o Engº Peninha?
- Sim sou eu. Detestava atender números não identificados.
- Fala do gabinete-sombra do Partido Socialista. O meu nome é Indalécio Boavida e em nome do secretário-geral queria fazer-lhe um convite e saber se estará disponível para integrar o novo governo, só no caso de ser empossado.
- Está brincar seguramente. Eu sou do Partido Comunista, ou melhor, posso passar a ser de outro…mas diga-me em que posto seria colocado?
- Escolhemos para si um novo ministério: o Ministério da Discórdia. Trata-se de uma pasta muito importante, criada à luz da actual situação. Vai dar muito trabalho ao seu titular e por isso vou enunciar-lhe as regalias com que será beneficiado.
- Olhe que sim, diga lá então, começa a interessar-me. Sabe que eu tenho muita influência no meu partido e terá sido por isso que terei sido lembrado, não?
- Isso já não sei. Mas terá um carro, destes que estão nas penhoras do Ministério das Finanças, dos mais modestos, porque enfim, percebe, o exemplo. O seu motorista, será um estivador e só terá direito a ele, durante as horas de trabalho, pois nada de horas extraordinárias e ele poderá faltar em dias de greve. O salário mensal, será o novo ordenado mínimo nacional, do qual, tanto quanto sabemos, metade será dado generosamente ao seu partido. O traje diário é um macaco de ganga, e nunca por nunca, irá de gravata. A sede do Ministério será nos armazéns da Matinha, pois há para lá muito espaço desocupado. Um computador fixo dos gabinetes já desactivados, uma secretária/recepcionista das que estão nas vagas disponíveis.
- Mas estão a ofender-me!!! – o Peninha quando ficava furioso, piava muito alto e seguido.
- Nada, ainda não lhe disse a parte mais sensível: se o governo cair vai para a gaiola, se se aguentar, no fim terá uma parte do bolo que entretanto, os capitalistas forem dando à medida que o governo aprovar grandes obras e empreendimentos. Essa será a compensação pelo seu esforço em manter o acordo de pé.
O Peninha, fez silêncio e pensou, pensou.
- Está aí? – pergunta o Indalécio.
- Sim, estou. Diga ao secretário-geral que eu não aceito, pois seria uma traição aos valores que defendo. Além disso, tenho a certeza que não haverá governo de esquerda.
- Porquê? Como sabe?
- Ouvi o Presidente dizer ao meu secretário-geral para o ajudar a fazer duvidar do entendimento com o vosso partido e em troca…bem não posso dizer.
- O quê? Mas isso é gravíssimo!
E desligando o telefone de pronto, deixou Peninha pendurado. Este começou a rir de fininho e voando com presteza foi pousar no parapeito da janela da Rua do Possolo, aonde o Presidente lhe deu, como todas as manhãs, a sua ração de milho.
Porém hoje, viu que era milho rôxo. Não gostava da côr e delicadamente nem tocou e deixou-o por ali.
Nesse momento, ouviu o Presidente às gargalhadas com o ex-PM e a dizer-lhe:
- Deixe lá que está tudo arranjado para 2ªf. Vou anunciar que confirmei que as bananas na Madeira são maiores do que eu pensava.
Peninha, piou, piou e voou espavorido para o Largo do Rato. Lá chegando, ouviu o secretário-geral dizer em inglês para o representante da União Europeia: “A caged canary is safe, but not free.”
Rapidamente foi ao Google translator ver o que era "canary" e ficou todo orgulhoso quando a tradução indicou: Peninha.
Voou com dignidade em direcção ao alto do céu, com o peito todo enfunado e a dizer: a mim ninguém me prende, sim, sou livre.

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