terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Uma tarde no Jockey Clube de S.Paulo



Fui sair a meio da tarde e tomar um copo ao Jockey Clube de S.Paulo, com uma amiga brasileira que me apresentou a um famoso jockey e à sua namorada argentina.

Quando estive no Oriente fui várias vezes a corridas no Jockey Clube de Hong Kong, em França a Longchamp, Auteuil e uma vez a Ascot. Gosto de apostar e na altura interessei-me por cavalos de corridas.

Sempre soube montar a cavalo e fi-lo muitas vezes e com gosto mas falar com um jockey revelou-se muito interessante e informativo.

Tomámos bebidas e ele falou-nos da sua vida e do que pensava sobre o seu mundo.

Em comparação com outros desportos, as corridas de cavalos são de longe o mais injusto e ingrato em termos de realizações profissionais.

O jockey para além de ter que contar com a sua habilidade, tem também que depender da disposição do cavalo, um ser vivo, para correr bem num dia e hora marcados. Na maioria das vezes o animal corresponde à expectativa, mas há também um dia em que o cavalo não rende mas sem a menor explicação plausível.

Nas palavras deste nosso amigo, a vida de um jockey é o que se pode chamar de uma ditadura profissional, pois o seu dia de trabalho inicia-se ao raiar da manhã, todos os dias, envolvendo-se em trabalhos matinais, montando vários animais e expondo-se aos riscos inerentes a este tipo de actividade, e nos fins de semana e feriados, ao contrário da grande maioria, o jockey tem uma árdua jornada de trabalho.

Em resumo, enquanto os outros descansam o jockey trabalha.

Como se não bastasse a sua dura profissão, o processo de decisão de inscrever um cavalo, garantindo-lhe a participação na corrida é um processo que muitas vezes roça injustiças gritantes.

Os jockeys trabalham os diversos cavalos na esperança de serem confirmados pelo treinador com o seu cavalo como o seleccionado oficialmente no dia da corrida, ocasião em que para além de participarem no espectáculo, tentarão obter a vitória e o merecido prémio monetário.

Ser jockey é uma profissão como outra qualquer e o prémio monetário é o meio de sustento das suas famílias.

Muitos jockeys, que não são famosos, dedicam todo o seu trabalho para provar, aos treinadores, que o cavalo está no ponto exacto de preparação para a corrida e assim conseguirem o tão esperado êxito.

Alguns animais são escolhidos pelo seu pedigree, o seu potencial de vitórias, inscrições em Grandes Prémios, provas realizadas, o Clube em que estão inscritos etc., ou posto de outra maneira, a chance de vitória é muito grande.

Um intenso trabalho de bastidores entra em cena e vários jockeys, incluindo os mais famosos, contactam com os treinadores ou com os proprietários, propondo-se para um determinado cavalo, em detrimento do jockey que trabalhou previamente o mesmo.

Não se pode em teoria classificar esta atitude como desonesta pois existe uma “mercadoria” em disputa (o cavalo) e um conjunto de profissionais a disputá-lo (mercado). Este “jogo” é a mais pura prova do funcionamento da lei da oferta e da procura.

À excepção dos jockeys que têm contratos exclusivos, os outros participam num “leilão” de oportunidades.

Uma vez efectuada a alteração de animal a sorte do esforçado jockey que fez tudo por aquele cavalo com hipóteses de vitória, é posta em questão e assim afastado.

Madrugou todos os dias, expôs-se ao risco de um acidente nos treinos, preparou o animal e no momento de se sentir compensado por todo este trabalho, é preterido por outro.

O raciocínio do proprietário é muito simples: o seu cavalo foi bem trabalhado por um jockey, corre e ganha com um outro, que é muito melhor.

Como os “jockeys famosos” montam uma maior quantidade de cavalos, e obtêm consequentemente um maior número de vitórias, o público rapidamente se esquece de uma má actuação do “famoso”, pois ganhará numa outra corrida.

Um jockey com poucos cavalos irá demorar até que volte a montar e o eventual fracasso será motivo para que seja olhado com desconfiança pelos treinadores e proprietários.

Alguns proprietários julgam-se “treinadores especialistas” e passam por cima dos verdadeiros conhecedores da matéria, os treinadores profissionais, e dão, sem fazerem a menor das cerimónias, instruções ao jockey, e ao obterem a vitória, obviamente o crédito é do “especialista”, e em caso de fracasso é atribuído ao jockey, seja famoso ou não.

Está provado de forma absoluta, segundo o nosso amigo, que nas corridas de cavalos é tudo uma questão de oportunidade.

E no final da conversa, a namorada argentina que era um espanto de bonita, sorriu e disse-nos se queríamos ir jantar a casa dela o que aceitámos de bom grado.

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