domingo, 12 de fevereiro de 2012

O “Chaparral” e o Presidente da minha empresa chinesa, recém-chegado a S.Paulo


Na minha primeira “encarnação” de trabalho com chineses, o CEO era o filho mais novo da família da 2ª maior fortuna de Hong Kong. Tinha tirado um mestrado em engenharia nos USA e falava e escrevia um inglês perfeito. Demo-nos sempre muito bem e ficámos óptimos amigos e ao ter feito a minha tarimba em Hong Kong, comecei como project-manager e acabei como Administrador e fundador de um banco privado em Portugal.

O título desta crónica, refere-se a uma de milhentas histórias pitorescas e engraçadas passadas comigo nesta minha dedicação a um povo que breve e inegavelmente vai-se tornar num dos mais importantes do mundo.

Uma das muitas vezes que o referido CEO veio a Lisboa, (tinha várias reuniões com o Governo e com o Presidente da República, pois eu estava a tratar como administrador em Hong Kong destacado para Lisboa, da obtenção de uma licença para a constituição de um banco privado que efectivamente vim a obter e dirigir), fomos uma noite jantar a Cascais aonde ele gostava de comer marisco, nomeadamente lagostins fresquíssimos e de grande qualidade no restaurante “O Pescador”.

Vinham às grosas, ou seja aos 27 (fixei o número) de cada vez de tal maneira que enjoei durante meses marisco! Uma fartura, que custava os olhos da cara, sem contar com os vinhos que eram sempre do melhor, mas não era de facto um problema!

Nessa noite porém, quis comer frango e lá andei à procura de um “Rei dos Frangos”, mas acabámos por sugestão dele…imagine-se, a ir jantar a um restaurante chamado “Chaparral” que era por cima do pub “John Bull”.

Uma verdadeira porcaria, mas lá veio o dito frango que se comeu! Frango é frango e por isso não há muitas histórias a contar sobre se é de fricassé, corado, etc…tema que gastronomicamente não é excitante!

Durante a refeição entabulou constantes conversas com a dona, uma gordona gordurosa, muito provavelmente devido ao contacto com a especialidade do negócio, e servindo eu de tradutor fui percebendo que ele estava a ter um crescente interesse em adquirir o restaurante!

E era ele quem era e o que valeria o seu peso em ouro!

Perguntas sobre o volume de vendas, preço por asas ou pernas…de frango ( isto é graça), mas que fariam sentido se estivéssemos a tentar negociar a aquisição de um negócio financeiro ou industrial.

Acabou o jantar pedindo-me que eu lhe desse a morada do escritório da empresa em Lisboa e levou o cartão de visita dela!

Pensei a caminho de Lisboa, que era mais uma fantasia de chineses e nunca mais perdi tempo com o assunto!

Um dia, a minha secretária lá no banco veio dizer-me que uma senhora que se identificava como dona do restaurante “Chaparral” me queria falar para negociar a venda do restaurante….lembro-me que foi expulsa do banco, confesso que pouco caridosamente, aos gritos de “agarrem-me senão eu mato-a”…ahahaah

Pois bem, chegou hoje a S. Paulo a comitiva do Presidente chinês da minha empresa e instalou-se numa suite de um Hotel conhecido de 5 estrelas muito bem situado.

Com ele veio o Vice-presidente e um Advogado chinês de nacionalidade australiana que fala perfeitamente inglês e é o único traço de contacto linguístico entre mim e o Presidente bem como o Vice-Presidente.

Grandes abraços e muitos sorrisos e genuína satisfação de nos encontrarmos (esperei 8 dias aqui em Sampa, pela concessão dos vistos no Consulado do Brasil que não havia meio de chegarem a Pequim)!

Marcámos uma hora para nos voltarmos a encontrar na recepção para irmos jantar….e aonde, aonde?

Pois à Chinatown, havendo restaurantes tão reputados e da maior qualidade! Ala para a praça da Liberdade, uma das zonas do Centro da cidade (perto da cracolândia) menos interessantes e sem a menor graça!

Pára o táxi numa rua desconhecida com uns três restaurantes chineses inqualificáveis! Ainda tinha pedido a um amigo brasileiro, culto no mundo da restauração, que me dera o nome do “Chi- Fu” que parece que é bom!

Qual quê! Foi no terceiro restaurante, cheio de chineses aos gritos…forma de comunicarem, e aí ficámos! De 15ª ordem no Martim Moniz, em Lisboa!

Argumento que me silenciou: - deve ser bom, pois está cheio!

Só para acabar: há o hábito chinês de sobejando restos, levarem um “taipao” (caixa) para casa…neste caso para o dito hotel. Perguntaram-me se eu queria alguma coisa para a ceia, e eu agradeci muito bem educadinho e lembrei-lhes, que ao menos, levassem “pauzinhos” pois não queria imaginar o que seria pedirem ao room-service, qualquer coisa que servisse para comer comida chinesa na suite!

De repente lembrei-me do “Chaparral” revisitado!

Sem comentários:

Enviar um comentário