terça-feira, 12 de maio de 2015

Fátima

Durante muitos anos fui no dia 12 de Maio a Fátima para participar na Procissão das velas e demais celebrações, bem como ficar para o dia seguinte.

Seguia atrás do andor como Membro da Ordem de Malta e por isso dava a volta ao Santuário, cantando e rezando.

Depois passei para o meio da esplanada, pois a pompa e a circunstância não se coadunavam mais com o espírito de peregrino que me levava a Fátima.

Ultimamente e quando me apetece vou no meio da semana, longe da multidão, sentar-me na Capelinha e ali fico no sossego do silêncio participando, quando há, nalguma oração comunitária.

Sempre me comoveu a procissão das velas e no dia 13 o adeus à imagem que vinda do altar-mor no fim das celebrações é despedida por milhares de lenços brancos a cantarem o adeus.

Claro que são momentos em que os sentidos ficam mais apurados e são contagiados pela emoção colectiva. São fenómenos conhecidos de que não me envergonho. São uma espécie de catarse necessária que limpa meses ou anos de empedernimento, falta de choro e desfaz no coração alguns espinhos mais teimosos em o deixar bater sem limitações.

Porém tudo isto é muito bonito mas quando se volta e se mergulha no dia-a-dia é aí que devemos pôr em prática a conversão interior na dedicação aos outros, a começar pelas nossas famílias.

Hoje em dia existe e aliás sempre existiu cepticismo em relação às aparições com teorias da conspiração para todos os gostos.

O que para mim é sempre mais difícil, independentemente de não ser o meu género venerar imagens que variam consoante o escultor ou pintor, é o conceito da fé sem ver, ouvir ou tocar. Eu sou muito “S.Tomé” e por isso, espero com curiosidade o dia em que chegar o meu fim, para tirar teimas ou pura e simplesmente ter passado a cinza, pó e nada.

Faz-me sempre candura as promessas em Fátima de gente simples e não só, diga-se em abono da verdade, que desejam “comprar” favores através de esmolas ou sacrifícios e que quando não se realizam, são capazes de voltar a pedir! Oiço com frequência e nestes tempos de crise súplicas do tipo” Ai, minha Nossa Senhora, fazei que o Jorge não seja despedido” e TAU! vem um estrepitoso processo de despedimento colectivo em que o dito Jorge vai para a rua e sabe Deus com que indemnização e se a recebe algum dia!
Esta é a realidade e digo isto sem nenhuma intenção de troçar de tantas pessoas que eu conheço, família e amigos, que pensam que Deus e os Santos, são especialistas do PIB, da redução da despesa, de decisões do Tribunal Constitucional, e por aí adiante.

Enfim, se tivesse tido a ocasião lá teria ido nesta noite quente a Fátima, ver desfilar pelo meio da multidão uma figura de gesso, frágil e rodeada de luz de velas que faz chorar, cantar de alegria, de súplica, de fé e de esperança em quem acredita ter aparecido a três bouçais pastorinhos.

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