quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A cedência


O pardal esvoaçava todos os dias em frente da janela dela.
Via-a espreguiçar-se, quase nua, seios redondos, novos e cheios de seiva de juventude, com bicos rosáceos. E pensava, que bom seria debicar as pontas. Para isso servia o bico.
Com sofreguidão dava a volta no ar e fazia em voo lento e em círculos, miradas para dentro e ela já estirada, mostrava as costas de onde a pouco e pouco escorregava o lençol de linho deixando entrever um traseiro sensual, roliço e bem feito, com uma leve penugem clara.
E pensava, que bom seria pousar docemente e roçar a sua penugem na dela. Afinal ambos a tinham.
O pardal tinha esta sina diária e perguntava-se a que levaria isto? 
Um dia ela abriu a janela e viu-o e olharam-se a direito, ela nua a querer apanhá-lo e ele a bater as asas, a bater.
E tudo ali acabou, pois o pardal cedeu.

in poemas raros de Vicente Mais ou Menos de Souza

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