quarta-feira, 26 de junho de 2013

Redescobrir o Jesus «perdido», reencontrar o Cristo «desperdiçado»

1. A nossa história é o lugar do encontro de Deus com o homem. Mas a nossa vida acaba por ser, também, o local do desencontro do homem com Deus.
Nestes vinte séculos de peregrinação pelas estradas do tempo, os cristãos obtiveram importantes ganhos. Mas manda a honestidade reconhecer que também coleccionaram bastantes perdas.

2. Muitas vezes, nem reparamos no que podemos estar a perder. Talvez não nos apercebamos de que — como adverte D. António Couto — podemos estar a perder «Cristo e o Seu estilo de vida».
Acontece que este é o maior (a bem dizer, o único) desperdício. Perder Cristo e o Seu estilo de vida não é perder alguma coisa; é perder tudo.

3. Fará sentido um Cristianismo sem Cristo, um Cristianismo longe de Cristo?
Não é Cristo que nos perde. Somos nós que nos perdemos de Cristo. Que fazer para redescobrir o Jesus perdido e para reencontrar o Cristo desperdiçado?

4. É imperioso que o Evangelho perpasse, que nunca se desfaça e que sempre nos refaça.
É fundamental que as energias se gastem na missão e não se desgastem em tantas adiposidades que os séculos foram introduzindo.

5. A leveza do Evangelho reclama uma cura da obesidade burocrática que tão aprisionados nos retém.
Não raramente, parece que vivemos entalados entre uma bulimia funcionalista e uma anorexia vivencial.

6. É neste sentido que — como observa D. António Couto — todos, «bispos, padres, consagrados e fiéis leigos deverão ser muito mais evangelizadores e muito menos funcionários, administradores ou gestores».
A Igreja deve habituar-se a sair para que as pessoas possam entrar. No fundo, também estamos dentro quando evangelizamos fora. É que a Igreja não se faz só no edifício. Também se refaz no meio das pessoas, «com simplicidade, verdade, coragem». E sobretudo «com Cristo no coração».

7. O Evangelho não deve ser imposto de uma maneira pesada nem apressada.
Ele só pode ser anunciado de uma maneira leve e pausada: «sem ouro, prata, cobre ou alforge». E sem pressas.

8. Tenhamos presente que o mundo dispensa bem uma Cristandade fechada, ensimesmada, integrista.
Do que a humanidade está à espera é do Evangelho integral: em forma de palavra e em forma de testemunho de vida.

9. O Evangelho não é só para traduzir nas mais diversas línguas.

Acima de tudo e como nos lembra D. António Couto, o Evangelho é para ser «traduzido em gestos novos, porque convertidos, de oração, comunhão e missão».

João Teixeira


4 comentários:

  1. Obrigada pelas partilhas que tem feito, Manuel!
    Desde a renúncia de Bento XVI que tenho estado tocada não sei porque esperança. Tinha começado a procurar compreender aquele papa, reverter a imagem física que estranhamente me desagradava e me levava a ter uma atitude contrária à que acredito... porque de facto, costumo dizer (procurando o sentido mais lato da frase) que, "quem ´vê caras, não vê corações"... e sentía-me muitas vezes injusta por reagir visceralmente a alguém que nem me dignava conhecer melhor (no sentido mais lato da palavra, também).
    Mas confesso que admirei a sua atitude de renúncia e secretamente dentro de mim, havia a simpatia que tinha pelo facto de tocar piano...
    Depois, admirei sincera e incrivelmente a sua renúncia, inesperada e contundente... um gesto honesto e inovador... uma forma de luta possível, na aceitação de uma humanidade que lhe aparecia um pouco distante... na sua carapaça, ou na carapaça intelectualista com que o revestíamos... ou eu, o revestia, assumindo nele um sentido mais pejorativo para "intelectual" atribuindo-lhe o sinónimo de "distante do humano" quando não deveria sê-lo (nem como padre, muito menos como papa!)
    Mas agora, Francisco... o Papa Francisco e uma nova esperança... proporcionada por gestos anteriores dos que o antecederam, mostrando que o tempo é bem mais lento, ou necessário, para proporcionar as ocasiões e os gestos dos outros. Ou os gestos necessários! cada um a seu tempo!!!
    Francisco!... na sequência de um João Paulo II que nos era tão particularmente querido... de um Bento XVI, inesperadamente lúcido e assertivo, corajoso e altruista, corajosamente humano... e agora, repito, Francisc!..., nas "sandálias do pescador"... um romance de que guardo memória, ténue da sua totalidade, mas bem viva, no significado da contestação de um papa à vida reclusa e distante que lhe era imposta... tão contra natura do humano e mais ainda do sentido que sempre dei ao cristianismo!!!...tão longínqua da imagem do Cristo que precisamos perto de nós... que precisamos para exemplo de humanidade e de mudança...
    Francisco!... uma imagem de esperança na sequência do pedido de perdão de João Paulo II pelas atrocidades cometidas ao longo da história pela igreja... Francisco!... um sorriso, uma esperança visível!...uma renovação da imagem da fé, ou uma fé que se renova1... Alguém de quem precisamos beber sabedoria, por quem precisamos reaprender a rezar, por quem precisamos torcer, lutar...seguir!...

    Desculpe este acesso... já me conhece!... mil silêncios para um ataque verborreico!... o que, apesar de tudo é sempre uma vitória. minha. Sua!!!
    Obrigada Manuel, meu amigo!!!
    Beijinho

    Tenho que voltar ao meu blog!!! Vou procurar por aqui, quem sabe, é desta? LOL!!!

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  2. Que comentário mais rico e profundo e ao mesmo tempo tão humano e sincero. Ficamos todos a aguardar com ansiedade o retorno ao seu blogue:-)

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  3. Parto desta ideia, Manuel... e quem sabe possa vir a conseguir explorá-la gradualmente?!...
    Mas agora, confesso a preguiça de abrir omeu blogue neste meu computador que me é novo, sendo um velhido do meu filho mais novo... computador em que não tenho um mínimo de destreza que me torne acessível a consequência da vontade, ou da reacção!... lol… malvada preguiça a que me submeto!
    Depois é tão agradável escrever por aqui em resposta ao que escreve ou transcreve!...
    ... mas quem sabe, repito e acrescento, possa explorar de facto estes sentimentos e ideias que me têm ocupado a alma e ao mesmo tempo explorá-lo a ele também, computador obscuro e irritantemente máquina a que sou avessa? Explorar, explorar gradulamente?
    Estou também a "treinar" a não excessiva pressa!... e a escrita para mim é uma forma de reflexão. De partilha também. De provocação a mim mesma... ou de desafio a confrontar-me com o que sou, mudando conforme é preciso sem medo...
    Mas a vontade e necessidade de partilha é francamente impulsionadora, Manuel... e acho que falo com um compulsivo! Ahahah...
    ...depois, ler, capapulta-nos para os nossos lugares mais íntimos, por vezes até secretos e arruma-nos temporariamente as nossas gavetas e prateleiras, de forma a que mais facilmente se arrumem as ideias… e possam assim ser mais frequentemente usadas, mexidas, remexidas, transformadas... ou consolidadas, porque não?
    Mais um ataque verborreico. Não tarda torno-me chata!
    Beijinho... sabe como gosto de "falar" consigo!!! Não se auto intitula controverso e provocador? LOL
    A mim provoca-me vonatede de escrever… mais que não seja por aqui mesmo.
    Obrigada Manuel!!!

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  4. Gosto muito que escreva por aqui, é um grande prazer.

    Vamos, hoje em dia, tendo com mais frequência, piores do que melhores notícias e se não conseguirmos desligar e em momentos de silêncio interior, deixarmos sair por escrito o que nos apetece dizer, a "barra" torna-se difícil de aguentar.

    Um blogue tem esta vantagem de ser um "passageiro da noite" que é lido por quem quer, por quem aqui vai passando e nada deixa registado, mas tira para si, quem sabe, algumas reflexões do que vai encontrando e retrata uma miríade de ideias.

    Por outro lado, e no meu particular, eu escrevo para mim, ou seja não programo o destinatário...daí poder ser provocador e controverso. Mas há lá melhor coisa do que não se ser indiferente?

    Há este meu desejo atávico de ser diferente, não por vâ glória, mas por necessidade metabólica...detesto o sleen...ahaahah

    Um beijo amigo

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