quinta-feira, 13 de junho de 2013

Nocturnos



Maria João Pires ao piano. "Nocturnos" de Chopin.

Apetecia-me a paz por umas horas. Desligar da vida como se por milagre uma tomada sem corrente não trouxesse a escuridão.

“Mehr licht” , mais luz - disse Goethe no leito de morte. Percebo-o, deve ser horrendo primeiro a penumbra, depois a sombra e finalmente a noite sem fim.

Estranha esta forma de vida, de mais sofrimento do que prazer. No fundo, se repararmos bem, é fugaz e sem permanência na memória, como se não merecêssemos.

Mas quem tem culpa de nascer e por consequência da cadeia de fenómenos que nos inclina para a prática do bem ou do mal?

Quem gera o criminoso, o proscrito da sociedade por qualquer destes novos ou velhos estigmas que o excluem da convivência colectiva, tem a noção que no acto de procriar, depois do nascer e finalmente de o lançar nas teias do mundo, pode ter originado um ser sem culpa das consequências que pratica?

Aonde está o perdão? Porque só se encontra dentro das religiões? Parece mais saboroso qual rebuçado envolto em papel colorido, conforme a tolerância filosófica de cada uma…paternalista, hipócrita sem ir ao fundo da questão. Porquê eu?

Tenho pensado muitas vezes neste conceito de culpa e a sensação que sinto, se porventura estivesse na ala da morte prestes a ser eletrocutado por um crime qualquer, seria a de bocejo, de boca a saber a papel de música, um vazio – sentimento de fatalidade, sem vontade de esboçar gestos, de me cansar sequer.

Ao menos pensaria que uma vez feito, a morte viria buscar-me e descansaria.

Apetecia-me a paz por umas horas. Aí seria garantida, e sem limite de tempo.

Ainda continuam os Nocturnos de Chopin. São tantos e tão bonitos. Descansativos. Uma aproximação ao sono percursor da paz do espírito.




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