domingo, 21 de agosto de 2011

Diário de um desmemoriado (9)



Domingo, 21 de Agosto

Hoje, desmemoriado que sou, esqueci-me do passado presente e reflecti sobre a felicidade.

Apreciar a alegria e a dor constitui a base da felicidade.

A felicidade é uma forma de viver, é uma conduta, uma maneira de estar agradecido ao sol, à lua, a quem nos estende a mão e também a quem nos abandona, pois certamente nesse abandono está a possibilidade de descobrirmos a força que existe dentro de nós.

A diferença entre o sábio e o ignorante é que o primeiro sabe aproveitar as suas dificuldades para evoluir, enquanto o segundo sente-se vítima dos seus problemas.

Se passarmos a vida a evitar o sofrimento, acabaremos por evitar o prazer que a vida oferece. Há milhares de tesouros guardados em sítios aonde precisamos de ir para os descobrir. Há tesouros guardados numa praia deserta, numa noite com estrelas, numa viagem inesperada... O importante é irmos ao seu encontro, ainda que isso exija uma boa dose de coragem e desprendimento.

As mudanças nunca ocorrem amanhã, mas sempre hoje, no presente.

Todos carregamos dentro de nós uma boa dose de loucura, que passamos a vida inteira a procurar esconder. Porém, um dia explodirá como um vulcão.

Viver sempre certinho, é como sentar-nos sobre um vulcão, que permanece inactivo por muito tempo, mas que, de repente, pode entrar em erupção. Negar as próprias aspirações é um desperdício de energia que faz falta para as nossas realizações.

Que não seja só mascarados no Carnaval ou num estádio de futebol que nos “soltamos”.

Devemos permitir-nos fazer loucuras todos os dias, até que façam parte do nosso dia-a-dia.

A infelicidade é uma forma de olharmos o mundo pelo lado contrário. Em vez de aproveitarmos o momento actual, lamentamo-nos do que poderia ter acontecido.

Infelicidade também é viver para impressionar os outros. Nascemos com um potencial infinito de realização. À medida que vamos sendo educados, durante a infância e a adolescência, perdemos a “rota original” da nossa própria existência. Deixamos de fazer aquilo que nos realiza e passamos a agir em função dos outros: pais, professores, e depois, toda a sociedade.

Nós somos mais importantes do que qualquer julgamento de terceiros.

No fundo, para se ser feliz, devemos viver para nos surpreender a nós próprios, e não aos outros. A maioria das pessoas passa pelas oportunidades sem lhes dar atenção.

Precisamos compreender que as oportunidades são poucas e que não podemos desperdiçá-las, por isso, não podemos perder muito tempo com as nossas escolhas.

Muitas vezes, a questão resume-se em pegar ou largar, e para isso devemos estar preparados.

A velocidade para descobrir a importância das coisas pelas quais devemos lutar é fundamental. Há quem sacrifique a vida para conseguir “status” e poder. No desejo de conquistar títulos e riquezas, sufocam-se os sonhos do coração. É uma grande ilusão.

Outros habituam-se a coleccionar virtudes para conquistar as simpatias alheias. Em vez de serem eles próprios, passam a ser como Jesus Cristo, Moisés ou Buda, sem perceberem que nenhum recomendou que fossemos iguais a eles, mas que simplesmente fossemos inteiramente nós próprios.

A felicidade é feita de pequenas “pérolas” que cultivamos a cada dia, a cada hora.

Devemos aprender a estar com nós próprios. Isso significa tratarmos das nossas emoções, dos nossos sonhos. Estarmos sempre atentos ao que se passa dentro de nós. Criarmos o hábito de nos observar. Não sermos como os cães que correm atrás da bola que o dono atira.

Aprendermos a ser afáveis, generosos, tratar das feridas, dos sonhos, sermos compreensivos com os erros, com as fraquezas, com os tropeções.

O medo pode tornar-se no nosso companheiro diário até aprendermos a olhá-lo com objectividade e descobrir que não passa da criação das nossas fantasias. É o que os orientais chamam de “tigre de papel”: quando se olha na escuridão parece um monstro, mas, à luz do dia, percebe-se que é feito de papel, sem nenhum poder de destruição.

É importante tirarmos o medo das nossas vidas. Muitos adultos infelizes foram crianças castigadas sem explicações, o que as tornou extremamente confusas.

Devemos assumir que o sucesso sem luta é impossível. O sucesso é a consequência de esforço, dedicação, planeamento. As magias são simplesmente ilusões.

Não existe magia na caminhada para o sucesso.

Também é importante temos um carinho especial pela criança que existe dentro de cada um de nós.

Costumamos esquecer-nos dessa criança durante os anos em que vivemos a lutar para conquistar os nossos objectivos. Mas, para estarmos em paz, é importante fazer as “pazes” com essa criança e cultivá-la todos os dias, para que ela se sinta amada, protegida e bem tratada.

O futuro é uma ilusão que será sempre diferente do que imaginamos.

O melhor momento para ser feliz é agora!

3 comentários:

  1. Esta é uma reflexão extraordinária sobre a qual gostava de escrever com mais pormenor assim que possa... mais que não seja para mim mesma... porque afinal, não somos tantos de nós, ou mesmo a maioria, "desmemoriados" que precisamos escrever o que vamos vivendo e sentindo, para poder reler de vez em quando e valiarmos a vida? A descoberta de cada dia... o que pode mudar... as nossas verdades tantas vezes efémeras, memso que não as queiramos ver assim... e que são afinal fruto da experiência , da vivência e da humildade conquistada com esforço a cada dia... e que nos dita o que realmente somos e conseguimos... vamos sendo... e o que podemos e devemos mudar?
    Gostei mesmo muito, "Vicente"...
    ...obrigada
    Abraço e um beijinho amigo
    Isabel

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  2. Olá Isabel,

    Obrigado pelo seu comentário que é sempre muito animador para o bloguista:-)

    Mas fico à espera que escreva, pois gosto muito de a ler.

    Bjs

    Vicente

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  3. Realismos e anti-realismos à parte, não temos lembranças do futuro.
    Podemos somente sonhá-las.
    O momento, é (o) único. Que, (se)permite ser feliz!

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