terça-feira, 16 de agosto de 2011

Carta do meu primo Luis Bernardo....finalmente chegou!


Resumo: Imaginem vocês que recebi uma carta de um primo que já morreu há vários anos e que me chegou à caixa do correio. No meu blogue está tudo explicado e as cartas trocadas foram abundantes, até há uns meses largos, tendo parado entretanto.

Creio ser o primeiro ser humano a ter verdadeiramente notícias reais, de além-túmulo. Deixei passar algum tempo para cair bem em mim, mas finalmente aparece alguém a explicar como tudo se passa. Aliás, nunca percebi porquê tantos mistérios!

Hoje tive nova missiva:

Meu Caro Manuel,

Interrompi esta nossa correspondência pois tenho andado, como te tinha anunciado, a visitar familiares e amigos.

Voltei ontem a estar com os teus Pais com quem tive uma conversa prolongada. O teu Pai continua a tratar do jardim em frente da casa, que está um primor: um relvado a perder de vista, rodeado de canteiros com as mais bonitas flores que possas imaginar. Um colorido que contrasta com o verde do gazon.

O terraço à frente, grande e espaçoso com guarda-sóis protegendo do sol, com mesas e cadeiras de jardim muito confortáveis, convidam à conversa.

Disse-me a tua Mãe, ao servir-me um refresco apetecível resultando, seguramente, da mistura entre groselhas e amoras, que lhe tinhas sempre perguntado que bebida seria a que no filme da “Música no Coração” estava num jarro de cristal em cima de uma mesa quando o Barão von Trapp conversou com a preceptora dos filhos!

Lembras-te?

Achei-os muito tranquilos e gozando da paz que aqui se vive. Estão sempre muito ocupados: ou visitam os teus Avós de ambos os lados e parentela ou, imagina tu, frequentam um curso de línguas que teriam sido as praticadas na Torre de Babel, pois querem ter acesso ao espólio colossal da biblioteca de Alexandria que foi a depositária de livros em miríades de idiomas antigos.

Falámos de ti e eu disse-lhe que te iria escrever a dar-te notícias.

A conversa versou sobre as várias peripécias que eles passaram como Pais e de que tu, a maior parte das vezes nem tomaste conhecimento, foste também protagonista pois os filhos são sempre os principais agentes, como em todas as famílias.

Amor – bem às vezes os filhos estão cheios de si e da sua nova importância e esquecem-se de pequenos detalhes de respeito, de consideração, de cumplicidade.

Têm menos sensibilidade e até gratidão, essa palavra que só quando sentimos a picada, nos lembramos de como é importante e que eventualmente também a não praticámos tanto quanto seria justo e desejável.

Mas dizia a tua Mãe: o grande remédio é escancarar as portas do coração e não fazer contabilidade!

Saber ser-se grande e não se queixar.

Não julgar – os teus Pais com tantas noras e genros, pensaram quando o ciclo de novas aquisições começou, que era preciso fazer uma de duas coisas: ou passar o tempo a embirrar, discordar e impor, com sucesso ou não, pouco importa…ou aceitar e não julgar demasiado, pela exclusiva razão de darem um forte contributo para a felicidade dos descendentes e seus cônjuges…sim, porque isto de se ser honesto até ao fim no gostar, não é para puxar só as brasas à sua sardinha.

É, como em tudo na vida, ser-se íntegro e integral, completo.

Netos – que grande fonte de alegria foram os 28 netos e uns quantos bisnetos enquanto foram vivos.

Dizem-me eles que também aqui é preciso, como no Direito, ser-se supletivo.

Estar ….este é diferente do .

É importante poder contar-se com, mas para os filhos e in laws, os Avós devem ser para além de SOS, uma fonte de estabilidade para todos.

Job – não sei porque se lembraram do Job, mas creio que até aqui já lhes chegaram os ecos da troika, imagina tu!

Tempos difíceis, sem dúvida! Cara alegre e aproveitar a crise para crescer em disciplina corporal, controle emocional e investir no amor pela família e ao calcorrear-se os passeios da “Avenida da Liberdade”, seja ela em que sítio do mundo for, respirar fundo até ao âmago.

Mentira esta do Job que os teus Pais e eu confirmámos aqui, quando chegámos , mas dá um jeitão para aí:

“Tu o deste, tu me tiraste! Bendito sejas! “.

Difícil hein? E injusto, tantas vezes!

E, por hoje já vai longa a missiva, mas vi na despedida, nos olhos dos teus Pais aquela ternura e amor que sempre sentiste neles por ti e que eles tão generosamente e sem limites te e vos deram.

Um abraço do teu primo muito dedicado.

Luis Bernardo

4 comentários:

  1. Parecem-me cheias de bom senso e serenidade essas cartas do outro mundo. Muitos cumprimentos ao Luís Bernardo...e se não for aborrecer muito...ele que mande dizer, se a coisa se processa em correio normal ou tem que ir expresso, para eu tentar...

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  2. para já tenho o exclusivo da recepção e envio, foi assim que combinámos.

    prevendo-se a privatização dos CTT, algum novo accionista, se tiver bom senso inaugura este destino.

    pode mandar-me em envelope fechado que eu juro que chegará inviolável ao destino.

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  3. Hoje recorro a si e não ao Luís Bernardo...o Blogguer não funciona! Não se consegue escrever, nem por fotografias...nada. Se o seu estiver assim, conto com o accionamento da "indignação escorpiónica em fúria". Eu sou muito diplomata e aguardo com respirações de Yoga que a coisa se resolva.

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  4. olé! (maneira um pouco cursi de dizer olá!),

    pois pela amostra junta o meu blogue funciona...acho que eles embirram consigo:-)

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