sexta-feira, 13 de maio de 2011

Conto da dona Lili (7) Flagrante


O dr. Daniel sentiu-se mal na xácara e pediu aos filhos Luiz e Gabriel que o levassem de volta a casa. Comera na véspera um vátápá delicioso mas que combinado com muita caipirinha o tinha prostrado, quase sem forças, num cocktail de consequências bombásticas para a barriga.

Chegados a casa, Luiz e Gabriel ampararam o pai a subir os degraus íngremes para o andar dos quartos e no patamar ouviram barulhos estranhos de vozes e risos femininos que vinham de aonde Dani dormia.

Dirigiram-se para a porta e quando a empurraram quedaram-se estupefactos: a empregada, nua, rebolava-se por cima do filho do patrão.

A colcha da cama enrodilhada, a roupa desalinhada e o quarto cheirando a uma mistura de perfume, sexo e comida. Ao lado, no chão, um tabuleiro com restos de uma empada de lebre com duas flutes de champagne e uma garrafa meia cheia de Pommery & Grenot.

Surpreendido em flagrante, Dani olhou para o pai e ouviu uma voz seca dirigir-se a Maria Alberta e dizer-lhe sem contemplações:

- Componha-se e arranje as suas coisas para depois fazermos contas e abandonar de imediato esta casa que não está habituada a estas devassas!

Dani caíra para cima da cama e desolado pusera a cara entre as mãos.

Lembrava-se daquele corpinho roliço entre os seus braços, quando lhe desatara os laços do corpete e tocara, mordiscara e apertara com vigor aqueles peitos saborosos nas suas mãos, os beijos carnais que ela lhe dera, os jogos de amor que com ele fizera, primeiro com as mãos, depois com as pernas e com o resto do corpo num êxtase de entrega como nunca havia conhecido com nenhuma outra mulher, mais parecendo que era um amor reprimido que de repente se vertia sem limites.

O céu na terra!

Os gemidos de prazer que ouvira quando a possuíra bem fundo num orgasmo irreprimível, as torpezas que lhe consentira e que aos dois teria merecido a inquisição, tudo lhe falava da sensualidade e da loucura que nele despontara por Maria Alberta.

Não podia desistir dela, jamais!

O dr. Daniel mandara-a embora e ela no sufoco da partida metera-lhe entre as mãos um papel rabiscado com a morada aonde coabitava com o marido.

(continua)

3 comentários:

  1. Pronto... já li de uma assentada da primeira à última parte já publicada deste conto que vale a pena.
    Entusiasma, tem humor e graça, está bem escrito e agrada ler.
    Está de parabéns e fico contente e entusiasmada de o ver empolgado na sua escrita.
    Gostei... ou antes, estou a gostar sinceramente.
    Obrigada pela partilha.
    Aguardo com entusiamo a continuação desta criação, Vivente Manuel Amado... ;) Valeu????????
    Abraço Amigo
    Sempre
    Isabel

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  2. Que palavras encorajadoras. Muito obrigado.

    A minha responsabilidade cresce para com a Maria Alberta, pois a dona Lili revela-se antipatica figura.

    Havera un "tournant"?

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  3. ...mas que está giro, está!
    ... e o giro é pouco, porque também o acho bem escrito.
    Mas não poderá a D. Lili, essa antipática figura tornar-se aliciante na descrição de um passado que justifica a amargura de hoje?... e quem sabe uma hipótese de mudança, mesmo que possa parecer tardia? Lá estou eu a querer mudar o mundo... não tenho cura!... e não resisto a pensar, memso que turtuosamente na forma de reverter a antipatia da D. Lili, numa simpatia que, estudada, quem sabe será conseguida?!?
    Mas a Maria Alberta ainda tem muito para dar!!!!... estou à espera Vicente Manuel Amado!
    Abraço apertado!
    Sempre,
    Isabel

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