sábado, 2 de abril de 2016

O PENINHA NO CONGRESSO DO PSD


O PENINHA NO CONGRESSO DO PSD

O Peninha levantara-se cedo na 6f para rumar a Espinho. Tinha sido inscrito como Congressista pelo círculo do Senhor Roubado, aonde mora há anos.

Tomou o foguete, sim, porque não tem dinheiro para mais e beneficiando já de um preço especial como inválido do comércio. Cobram meia-tarifa de ida e volta. Tivera um acidente lá na taberna do Folião, mesmo à saída do Senhor Roubado, quando rebolando um pixel de carrascão para substituir na taberna o que findara, tropeçou, desajeitado, caiu e ficou com uma perna por debaixo do pixel pesado.

Felizmente que a torneira do vinho ficou ao alcance da boca e enquanto, aflitos, os vizinhos procuravam socorro, foi-lhe bebendo do tinto. Foi em serviço, disseram na junta médica, e passaram-lhe um atestado de deficiência para o trabalho com um grau de 40%. Sim, porque de cabeça continuara estupendo.

Mas enfim, sempre defendera uma única via, a da social-democracia, e pareceu-lhe que PPC estava numa de vir a fazer ataques ao Presidente Marcelo, que Peninha venerava. Estava mesmo decidido a intervir se fosse caso disso.

O que apreciava no Presidente Marcelo era a modéstia no vestir, sempre com a mesma gravata azul lisa, a sua dieta que cumpria escrupulosamente, o seu saber de música moderna e sobretudo a sua filiação no Braga. Peninha fizera-se até sócio desse Clube apesar de nada ter dito no Senhor Roubado, pois sendo um filho-da-terra seria uma desfeita não ser do Recreativo Roubadecence.

Quando se aproximou do Pavilhão dos Congressos, teve assim uma comoção interior e pensou: nada como os amigos para defenderem quem possa vir a ser atacado, pois viu por ali muita chusma de oportunistas, fracas figuras, tudo gente do comércio e da corrupção, e nada dos genuínos, vá dos antigos da fundação.

Roçou-se pela Isilda Martins, jornalista reformada do Jornal de Santo Ildefonso, que conhecera quando fizera a tropa e ao saudá-la, lembrou-lhe que estava disponível para comentar o Congresso, assim ela quisesse.

Quando todos se levantaram e aplaudiram o discurso de PPC, ele ficou dignamente sentado e nada disse nem fez. No final, aproximou-se da mesa e inscreveu-se para falar, mas disseram-lhe que só havia vaga para perto da meia-noite e era bem possível que a essa hora os últimos oradores inscritos tivessem que desistir.

Foi ruminando o discurso e o sangue começou a ferver-lhe! Que topete o de PPC o de tentar sub-repticiamente intuir que o Presidente Marcelo poderia estar a fazer o jogo do PM! Mais ainda, com um ar superior e protector, veio dizer que o PSD e ele próprio não deixariam de evitar que o Presidente Marcelo fosse manipulado pelo Governo!

O raio das horas foi passando, desfilando uma série de energúmenos que botavam faladura sobre assuntos chatos e inócuos e quando chegou a sua vez, restavam na sala duas empregadas da limpeza, que se declararam do PCP e o montador de som do Partido.

Subiu com dignidade ao palco, toldado pela emoção e julgou ver a sala apinhada de militantes e num ímpeto de entusiasmo e patriotismo gritou bem alto: - Viva Portugal!

Começou a cascar em PPC e a defender o Presidente Marcelo, mas subitamente o afinador de som, gritou-lhe pelos altifalantes. – Terminou a sua intervenção.

Jurou que tinham passado pelo menos trinta minutos e o som das palmas não tinha fim.

Aproximou-se da mesa do Congresso, cumprimentou o Presidente e os Membros, olhou para os restantes partidários que se sentavam atrás e disse:
- Defendi com unhas e dentes o meu Presidente e não tenho medo de represálias! Peninha do Senhor Roubado, a Odivelas. Militante número….ó diabo falhou-lhe a memória mas não deixou de acrescentar: - ao vosso serviço!


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