domingo, 7 de dezembro de 2014

Memórias sobre a Minha Mãe


Hoje fez sete anos que a minha Mãe morreu. Uma amiga minha pediu-me para escrever sobre a sua memória.

Quem a conheceu lembra-se bem das suas características, por isso não vou maçá-los com o que sinto de saudades, da sua falta e do seu apoio.

Foram reflexões que me acompanharam durante o dia, mas sem dramas.

Prefiro partilhar convosco como é importante numa Família, os Pais darem-se bem e deixarem como herança para os Filhos, um acervo de boas recordações, uma estabilidade interior e um equilíbrio emocional que permite arrostar os altos e baixos da vida, com coragem, resignação e tranquilidade, ainda que com sofrimento, por vezes.

No meu caso e sendo sete irmãos, dos quais 4 rapazes e 3 raparigas, posso certificar e atestar como se diz no direito, que somos fruto de um amor grande entre os nossos Pais. Uma grande cumplicidade, um respeito mútuo e um companheirismo durante a vida toda fizeram com que para nós surgisse como natural que a felicidade estava ali ao virar da esquina ao nosso alcance.

Mais alguns ingredientes essenciais para que tudo isto tivesse bem funcionado: uma sólida fortuna familiar, educação e cultura, viagens por todo o mundo implicando abertura a outras culturas e civilizações, e com imensa sorte para nós os netos, serem ambos filhos únicos.

Conhecemos todos os Avós, 70% dos Bisavós que de excelente saúde duraram todos até muito tarde.
Originários de várias partidas, desde a Europa até às Índias, com distintos tipos de formação académica, com diversos bons níveis de inteligência e interesse, diria que todos bastante completos e ricos de personalidades, formaram um caldo de cultura e uma carapaça de grande qualidade de que beneficiámos, nós, os sete infantes…

Habituámo-nos a ver como gostavam de nós, como conseguiam superar as suas diferenças e desencontros em nosso benefício e cuidando que pudéssemos ir construindo uma vida polifacetada, equilibrada, estando sempre por trás quando era preciso, mas deixando-nos respirar…com algumas imposições irritantes….
E este aspecto, tão singular e direi mesmo raro, de renunciarem com generosidade e equidade às suas personalidades a favor de quem gostavam, produziu frutos incomensuráveis.

Fui desde cedo vendo a fragilidade de um mundo tão “perfeito” e apreciando com algum gozo a discrepância entre o que nos ensinavam e o que praticavam: o meu Avô materno, muito próximo de nós, por exemplo, só dava um beijinho à sogra, ou seja a minha Bisavó na missa do dia de anos a que todos assistiam. Eu mauzinho, em várias ocasiões, perguntava porque não o fazia mais vezes e já nem me lembro da resposta, mas devia ser convincente.

Tenho imensas histórias íntimas que não calha aqui contar e que fazem parte do património familiar entre mim e os meus irmãos, mas que são muito engraçadas, umas, outras tristes ou iguais às de toda a gente, demonstrando à saciedade que eram seres deste mundo e não etéreos.

E esta mescla de normalidade por um lado e da construção de um edifício sólido com boas fundações por outro, permitiu-nos como filhos, netos, bisnetos e irmãos sermos uma família muito feliz, mesmo.

O meu Pai e a minha Mãe foram impecáveis, apesar das nossas resistências, discussões e até revolta por termos começado a realizar que noutras famílias havia mais rédea solta para os filhos, nossos amigos.

Esta persistência em manter, até quando foi possível, uma linha de conduta rigorosa mas amorosa, não teve preço para nós.

Por isso, hoje é sobretudo com uma enorme gratidão como Filho que pensei na minha Mãe e para além das saudades e da sua falta, fica este sentimento de enorme amor filial e de respeito.

O tempo é um bom conselheiro quanto ao que de essencial é importante reter e do que esquecer, por irrelevante…petty things.

Resta a esperança, somewhere, somehow de um dia podermos estar juntos de novo…

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