Fui
ao Chiado e ao descer a Rua Garrett, aproximou-se de mim uma moçoila
gentil, com um ar doce e quando eu já ia, com o meu melhor sorriso,
dizer-lhe que não queria, fosse o que fosse e sem saber, perguntou-me: - Gosta de poesia? Fiquei perplexo com a pergunta e respondi: - Sim, gosto muito. Porquê? Retirou de uma pequena pasta de plástico que segurava numa mão, uma folha dactilografada, e propôs-me: - Se quiser ler...eu faço poesia para sobreviver.
Li com atenção, gostei muito e disse-lho. Perguntei-lhe quanto era e
ela respondeu-me: o que eu quisesse. Tinha mais para me mostrar, mas assim que procurei
a minha carteira, retorquiu-me: - Obrigado, vou assinar e datar. Assim fez, e eu trouxe os versos que abaixo transcrevo. Conversei um bocadinho com ela sobre publicar, dar a conhecer, etc..
Fui a pensar até ao carro que apesar de já ter visto de tudo e de todos os tipos
de pedidos para sobreviver, nunca me encontrei com alguém a vender poesia e achei uma
maravilha... Mas o povo de Camões e de Pessoa, entre outros notáveis, deixa morrer os poetas à fome...
As mãos vazias De conter afectos Que se negam. Em perfume de Orquídeas Mortíferas. O corpo Pede à transparente pele Mais um sonho, Um pássaro, um dizer Sobressaltado. Talvez o mar Entenda porque vogo, E as gaivotas aceitem As minhas inquietações, Num voo que é despir As asas. Na queda ao sopro do sentir.
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