sábado, 14 de dezembro de 2013

Era uma vez uma formiguinha chamada Faniquita



Era uma vez uma formiguinha chamada Faniquita.

Era bonita, inteligente e laboriosa. Tinha predicados invulgares e no formigueiro estava encarregue de escrever poesia, contos e era como se fosse uma ministra da cultura. Deliciava-se com estas funções e era muito respeitada e amada.

Bondosa, a nossa Faniquita, também socorria as irmãs de formigueiro que estavam doentes, pois era enfermeira. Casara-se com o formigo Mingau, tiveram filhos e formavam uma família feliz.

O formigueiro, mal dirigido, começara a derrapar e a qualidade de vida a piorar. Todos se queixavam e empobreciam a olhos vistos e sobretudo os mais velhos passavam muito mal.

A nossa Faniquita cada vez trabalhava mais e o tempo para ela ia escasseando e sobretudo o espírito não estava lá com tantas preocupações a ter que gerir e por isso a parte cultural do formigueiro, notava essa lacuna e lamentava-se. Mas, como ela dizia, havia outras prioridades.

Um dia, caiu doente de exaustão, nada de grave, mas obrigou-a a ficar confinada ao seu quarto e a ter algum isolamento para descansar. Aproveitou para reflectir, para olhar para cada área importante da sua vida com tranquilidade e pragmatismo e foi tirando algumas conclusões:

- existe a dor e o sofrimento;

- existe a alegria e a bonança;

- existe o inevitável, mesmo que gostemos ou não mas também as forças para o irmos ultrapassando;

- existe um caminhar paulatino para a velhice, para os incómodos de saúde, de menos lucidez e paciência, de algum abandono para uns ou de solidão interior;

- existe este tic-tac enervante dos segundos, dos minutos e das horas…imparáveis, cinzentas, repetitivas..ainda não se encontrou o elixir da longa vida, mas há grandes progressos para se morrer, um dia, em paz;

- existe o ódio, a intolerância, a perseguição, a prática voluntária do mal que se causa a terceiros;

- existe a bondade, generosidade, entrega e altruísmo e o esquecimento de si mesmo para nos dedicarmos aos outros na prática do bem;

- existe o amor, quer na sua expressão física, mas também na sublime sensação de sentirmos um “calor interior” que nos conforta e alegra e nos faz felizes.

Em tudo isto a Faniquita pensou e decidiu duas coisas:

 -  Deixar-se levar ao sabor do que vier e aconteça, sem esta actividade trepidante e cega, que esfalfa e cujos resultados são tantas vezes discutíveis e até ineficazes, ainda que bem intencionados. Claro, com a atenção suficiente para evitar o imponderável que fere e magoa e pode causar prejuízos irreparáveis;

       - Passar a ter mais frequência no desempenho do seu múnus de formiguinha com o pelouro da cultura e premiar o formigueiro com a sua escrita e ideias que através dela, enriqueçam a comunidade.

Assim sendo, Faniquita apressou-se a tudo isto comunicar a Mingau que enlaçando-a lhe deu um beijo, pois para ele e para os filhos estas eram decisões promissoras de felicidade.


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