quinta-feira, 2 de maio de 2013

A minha irmã Teresa


A minha irmã Teresa é a pessoa mais feliz que conheço.

Tem um número grande de incapacidades desde ter cada vez menos grau de visão, ter tido uma doença oncológica de que se curou, não ter a noção do tempo nem do espaço, mas sabe ler, escrever, conversa bem sobre um certo número de temas limitado que são o seu dia-a-dia e é sobretudo, desde que os meus Pais morreram, possuidora de uma dose de imaginação criadora inesgotável. Perigosa até, pois inventa histórias singelas familiares, convencendo-se a ela própria de que a realidade é como sonha e transmite.

Vive na enorme e antiga casa dos meus Pais em Lisboa ao pé do Rato, somente acompanhada por uma empregada ucraniana que trata dela e com ela passeia todos os dias.

Nós, os irmãos e irmãs, fizémos um plano de escalas em que um dia por semana ela vai jantar às nossas casas e nos fins-de-semana e feriados também cabe a cada um, ficar com ela.

Desde sempre a Teresa foi por nós todos protegida e amada na sua fragilidade e é como se estivesse numa citadela guardada por muros fortes e altos que somos nós, inexpugnável à maldade, à troça e ao seu sofrimento. 

Vem tudo isto a propósito de ontem ter sido mais um dos dias em que fiquei responsável por ela.

Depois de almoçar, passar algum tempo enfiada em casa, vem a pergunta sagrada: - aonde vamos hoje?

Nada de cinema, televisão ou leituras pois não vê, não se interessa nem segue os temas, por isso é preciso uma grande dose de imaginação para ocuparmos o tempo.

O meu recurso é ou uma ida ao shopping do Colombo, por ser grande e ter espaço para passear quando está frio ou chuva e ela ver gente, ou ao Chiado à Fnac, pois em ambos os sítios aproveito para olhar para as novidades, fazer, eventualmente, alguma compra. 

Acabamos sempre a tomar um chá e comer uma torrada, ou um bolo “jesuíta” que ela adora!

Ao subir na escada rolante e agarrada ao corrimão, de repente caiu e bateu com os joelhos no chão, com a cara no lado, saltando uma lente dos óculos e ferindo uma mão.

Amparei-a e ao apanhar a lente do chão, e rapidamente ver que sangrava dos joelhos mas por ter raspado com força, ouvi um choro baixinho e uma frase dita com tanta tristeza – cada vez vejo menos – : não pude deixar de a agarrar ainda com mais força e apertá-la nos meus braços, consolando-a. Fiquei eu, sem palavras, pois não há nada a fazer!

O resto passou-se bem: estas grandes superfícies têm sistemas de primeiros-socorros, têm também lojas ópticas aonde facilmente fixaram a lente, e passada a primeira aflição, voltou ao seu bom espírito, confiando em mim e concordando em irmos a outro sítio lanchar.

Não deixei de pensar nisto e à noite quando me deitei, reflecti como é a vida, para uns as limitações físicas, quando sólidamente ancoradas, acabam por ser portadoras de felicidade para os próprios e exemplo para terceiros e nós os outros com tantas capacidades, nada nos basta de exigências e de queixas.

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