quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Peninha e o aumento da idade da reforma



O Peninha, aterrorizado dirigiu-se ao balcão da Segurança Social:

- A srª se faz favor, diz-me se o aumento da idade da reforma vai para além da morte do beneficiário?

A empregada ficou basbaque. Nunca tinha pensado em tal e respondeu:

- Eu acho que sim, mas de qualquer maneira é melhor perguntar por escrito, não vá ser aprovado o novo limite e mesmo assim não haver dinheiro para pagar. Imagine-se, eternamente – disse ela para dentro de si, em pensamentos.

É que o Peninha, ainda estava longe dos 65 e tinha planos: comprar uma mansão com piscina, ter um jardineiro que lhe tratasse do gazon, ter sobretudo gravilha na entrada para quando o Maserati chegasse, poder ouvir aquele barulho agradável dos pneus largos a pisarem a pedra moída fina…

Queria ter uma mesa grande com um tampo de mármore num terraço largo aonde teria sempre um jarro de cristal com um líquido com uma côr entre o rosado e o carmim: lembrava-se da Música no Coração - que vira uma dúzia de vezes - quando o Barão von Trapp dá à governanta um copo cheio desta bebida, que ela gulosamente engolia.

- Oh mãe que bebida é esta? Podia fazer cá em casa. E a mãe do Peninha, respondia sempre: deve ser groselha com leite, só pode, com aquela côr! 

Era só o que faltava, obrigarem o Peninha a trabalhar mais dois anos e já com 67 ainda correr o risco de nada receber. Sim, a pensão deve ir para além da morte, pois não vá precisar lá no raio do sítio para onde o mandarem.

Pegou numa caneta reles, atada a um cordel e pôs-se a escrever:

- Excelência, Senhor Ministro das Finanças…era como lhe tinham ensinado…

Teve uma fúria que lhe veio cá de dentro, sentiu um soluço de tristeza e de raiva, mais até de impotência e recomeçou:

- Ao Pulha do Ministro das Finanças…e a carta seguiu até que cansado de expender argumentos e já fora do horário da mulher da limpeza, o puseram fora da Repartição das Finanças.

- Olhe que amanhã também é dia…pode voltar e continuar a escrever – disse-lhe o segurança com solicitude e ajudando-o, meteu-lhe nas mãos uma resma de gatafunhos, aonde só se conseguia ler, pulha, pulha, ladrão, ladrão…

In crónicas do improvável de Vicente Mais ou Menos de Souza

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